Família pede regras mais rígidas na aviação privada após queda de helicóptero por drogas

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Família pede regras mais rígidas na aviação privada 3 anos após queda de helicóptero que matou piloto e copiloto

João Augusto Tremeschin estava em aeronave que caiu na Grande São Paulo em agosto de 2022. Laudo toxicológico apontou que piloto que estava com ele havia ingerido droga e medicamentos antes do voo.

Piloto de Ribeirão Preto (SP), João Augusto Tremeschin, morreu após queda de helicóptero em São Paulo — Foto: Reprodução/Redes sociais

Três anos depois da queda de um helicóptero que matou duas pessoas na Grande São Paulo, familiares do copiloto João Augusto Tremeschin, de Ribeirão Preto (SP), pedem regras mais rígidas das autoridades brasileiras para a aviação privada.

Isso porque, segundo documentos das investigações apresentados por parentes de Tremeschin, o laudo necroscópico do piloto Edison dos Santos Mendes Alves, que comandava a aeronave e também morreu no desastre, apontou a presença de cocaína e de ansiolíticos no organismo dele. Além disso, ele havia enfrentado recentemente um quadro de depressão.

A família de Tremeschin argumenta que, por conta de normas menos rígidas do que na aviação comercial, o piloto teve autorização para assumir o voo, sem precisar passar por nenhum controle toxicológico.

“O piloto estava doente, não tinha condições de comandar um helicóptero. O DE era um filho amoroso e profissional dedicado, extremamente cuidadoso com a segurança e não tinha que estar nesse voo. Não é possível que as autoridades não sejam capazes de tirar uma lição disso. A morte do DE não pode ter sido em vão”, afirma Tânia Veiga Hjertquist, mãe de Tremeschin.

No relatório final sobre o caso, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) confirmou que a presença de cocaína e outras medicações pode ter contribuído para a desatenção do piloto em comando, mas não fez nenhuma recomendação específica às autoridades.

“A Anac reforça que é preciso aguardar a divulgação do relatório final e as recomendações do Cenipa nele contidas para, se necessário, implementar procedimentos eventualmente relacionados aos fatores contribuintes do acidente.”

A QUEDA DO HELICÓPTERO

Em 5 de agosto de 2022, um helicóptero caiu sobre a floresta do Parque Taipas no bairro Jaraguá, em São Paulo, por volta das 21h. A queda resultou na morte dos únicos ocupantes da aeronave, o piloto Edison dos Santos Mendes Alves e o copiloto João Augusto Hjertquist Tremeschin.

A aeronave havia decolado da capital com destino a Extrema (MG) para buscar Guilherme Benchimol, fundador e presidente Executivo do Conselho de Administração da XP Investimentos.

De acordo com informações apuradas no inquérito policial, Edison estava no comando e era colaborador da empresa responsável pela operação do helicóptero, a Majam Participações.

Já João Augusto era funcionário da JTBFly, empresa que tinha sido contratada para buscar o empresário, a quem a Majam havia cedido o uso da aeronave. Em uma viagem anterior, tinha sido ele o responsável por levar o empresário até Minas Gerais.

“As investigações conduzidas pela Polícia Civil naquele ano não apontaram uma causa específica para a queda nem responsabilizaram piloto ou empresas pelo ocorrido.”

AS INVESTIGAÇÕES E O LAUDO NECROSCÓPICO

Segundo a perícia, a aeronave estava em condições de utilização. Por outro lado, o laudo necroscópico encontrou, no organismo de Edison, as seguintes substâncias:

– 62 nanogramas (ng) de cocaína por ml de sangue;
– produtos da biotransformação da cocaína;
– produto da biotransformação do Clonazepam (ansiolítico);
– Venlafaxina (medicamento usado no tratatamento da depressão).

Nesse contexto, familiares de João Augusto alegaram por meio de petições que a Majam escalou o piloto Edison mesmo sabendo que ele tinha recentemente enfrentado um quadro de depressão.

O WHAT APONTOU O CENIPA

Divulgado este mês, depois de mais de três anos, o relatório do Cenipa relatou uma série de problemas que podem ter contribuído para o acidente, mas não fez recomendações específicas à Anac.

“Divulgar os ensinamentos colhidos nesta investigação durante os eventos de promoção da segurança operacional, objetivando difundir os riscos associados aos voos VFR em condições restritas de visibilidade assim como a necessidade do cumprimento dos requisitos estabelecidos nas normas em vigor”, comunicou o centro.

Por outro lado, ao descrever os detalhes em torno do incidente, o relatório considerou relevante as informações do laudo toxicológico no piloto.

No mesmo documento, o Cenipa também menciona como um possível fator contribuinte o estado emocional do piloto, que pode ter impactado a sua capacidade cognitiva, seu humor, sua consciência e sua capacidade de tomar decisões.

O centro de investigações ainda relata que, embora o piloto tivesse experiência nessa modalidade de sobrevoo – VFRs – pode ter sido prejudicado por condições meteorológicas adversas e baixa luminosidade. O órgão ainda citou a falta de aderência às normas como um fator relevante combinado com o uso de substâncias psicoativas.

O QUE DIZ A FAMÍLIA DO COPILOTO

Para os parentes, o episódio deveria servir de exemplo para uma mudança nas regras relacionadas à aviação particular, sobretudo com relação à cessão de aeronaves entre diferentes empresas e sobre a obrigatoriedade de exames toxicológicos nos pilotos.

“A recomendação de segurança do Cenipa me decepciona profundamente. Não falaram nada sobre um controle mais rígido do uso de drogas ou sobre o acompanhamento da saúde mental dos pilotos. Mesmo com tudo registrado e comprovado. É muito doloroso ver um órgão que deveria zelar pela prevenção de novos acidentes ignorar essa situação e não fazer nada por uma mudança”, afirma a mãe de Tremeschin.

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