Funcionários do Hospital Pedro II relatam medo após invasão
Criminosos armados com fuzis invadiram hospital durante a madrugada de quinta-feira (18) em busca de paciente baleado. Unidade tinha mais de 300 internados e oito mulheres em trabalho de parto no momento da invasão.
Funcionários do Hospital Pedro II relatam medo após invasão
Funcionários do Hospital Municipal Pedro II ouvidos pelo Bom Dia Rio relatam pavor após a invasão da última quinta-feira (18). Naquela madrugada, 8 homens armados com fuzis foram até o centro cirúrgico da unidade a fim de executar um rival internado.
“Estamos todos muito assustados, com medo. A gente não sabe se pode ocorrer ou não outra vez”, disse um profissional.
Segundo os servidores, só há 1 PM para todo o Pedro II. “Não tem segurança. É assim, descaso total. Sem segurança alguma”, repetiu.
O secretário de Saúde do Rio, Daniel Soranz, disse que a pasta tomou conhecimento de que, há 10 meses, milicianos que atuam em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, tomaram o terreno público usado como estacionamento por funcionários do hospital — a Polícia Civil disse se tratar de um “empreendimento particular”.
A INVASÃO
O ataque aconteceu às 2h37. Câmeras de segurança registraram o momento em que 2 carros chegaram à portaria do hospital. Um dos homens desceu encapuzado, com um fuzil e vestindo um colete com a inscrição da Draco — Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas. Apesar da aparência, ele não era policial.
Vestidos de preto, os criminosos circularam pelos corredores até o centro cirúrgico, onde acreditavam que o alvo estava.
No momento da invasão, o hospital tinha mais de 300 pacientes internados, oito mulheres em trabalho de parto e diversas cirurgias em andamento. Segundo o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, a cena foi de pânico.
“Hospital de alta complexidade onde oito gestantes estavam dando à luz. Pessoas em trabalho de parto. Crianças. Pacientes no centro cirúrgico sendo tratados. Pânico no hospital”, relatou Soranz.
O ALVO DOS CRIMINOSOS
O homem procurado pelos milicianos é Lucas Fernandes de Sousa, de 31 anos. Ele foi baleado nove vezes na tarde de quarta-feira (17), em uma emboscada no condomínio Viva Felicidade, também em Santa Cruz.
Lucas já foi preso por extorsão em 2019 e responde ao processo em liberdade, de acordo com o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi.
“Ele era miliciano, a vítima, pertencia à milícia e teria trocado de facção e passou a integrar o Comando Vermelho”, disse o secretário.
A cirurgia de Lucas já havia terminado, e ele havia sido transferido para a enfermaria. Sem encontrá-lo, os criminosos deixaram o hospital.
Pela manhã, o paciente foi transferido com escolta policial para outra unidade.
REFORÇO POLICIAL E INVESTIGAÇÃO
A Polícia Militar reforçou o policiamento no entorno do hospital. Segundo o secretário Marcelo de Menezes, a ação foi rápida.
“Os funcionários entraram em contato com o nosso policial na sala de polícia. Esse policial acionou o batalhão da área, que enviou equipes para o hospital. Vasculharam e os marginais já tinham se evadido”, disse Menezes.
A Polícia Civil identificou o miliciano que comandou a invasão. Ele é o mesmo que teria atirado contra Lucas no dia anterior e possui mais de 20 anotações criminais, incluindo porte de arma, extorsão e clonagem de veículos.
“Está sendo investigado também por coordenar essa ação criminosa e terrorista contra essa vítima no hospital”, disse Curi.
HISTÓRICO DE INVASÕES A HOSPITAIS NO RIO
A invasão ao Pedro II não é um caso isolado. Pelo menos cinco outras unidades de saúde já foram alvo de ações semelhantes. Relembre:
– 1994 – Hospital Getúlio Vargas, Penha: 15 homens armados invadiram para resgatar um traficante;
– 2008 – Hospital Carlos Chagas, Marechal Hermes: 30 criminosos com coletes semelhantes aos da polícia resgataram um suspeito;
– 2014 – Hospital Azevedo Lima, Niterói: 15 homens armados resgataram um chefe do tráfico;
– 2016 – Hospital Souza Aguiar, Centro: quase 40 tiros foram disparados durante o resgate de um criminoso conhecido como Fat Family.