Gonzaguinha, cantor e compositor que celebraria 80 anos, questionou ‘dona moral’ em obra tão combativa quanto afetuosa
Gonzaguinha (1945 – 1991) completaria 80 anos hoje, 22 de setembro. Com uma postura engajada, é possível afirmar que o artista carioca teria se unido aos ícones da MPB nos protestos políticos do último domingo, véspera de seu aniversário de 80 anos. Infelizmente, Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior (22 de setembro de 1945 – 29 de abril de 1991) foi tragado tão cedo, aos 45 anos, por um acidente de carro, mas seu legado permanece vivo.
Sempre presente nas trincheiras da política, da sociedade e do comportamento, Gonzaguinha deixou registradas em suas 294 composições uma combinação única de afeto e luta. Isso foi exemplificado no título do álbum lançado em 2023 por Bruna Caram, que reuniu músicas marcantes desse grande compositor brasileiro.
Revelado em 1968 nos fervorosos festivais da época, Gonzaguinha nunca se mostrou o artista amigável diante da imprensa musical. Parte da mídia o rotulou como cantor-rancor, principalmente devido à postura áspera do artista em relação ao poder midiático. Seus primeiros álbuns refletiam a tensão dos anos de chumbo no Brasil sob a ditadura, mas também exibiam uma grande força criativa.
Filho de Luiz Gonzaga, Gonzaguinha se inspirou na música nordestina, como evidenciado em canções como “Festa” (1968) e “Galope” (1974). O berço do Morro do São Carlos, no Rio de Janeiro, também influenciou sua produção, gerando sambas notáveis como “Comportamento Geral” (1972) e “Geraldinos e Arquibaldos” (1975).
O carioca Gonzaguinha, criado no Morro do São Carlos, revelou sua forte ligação com o samba, gênero que marcou presença em sua discografia. Suas composições sempre traziam uma abordagem própria e única para o samba. Além disso, suas letras questionavam conceitos sociais, como em “Ser, Fazer e Acontecer” (1982) e “Ponto de Interrogação” (1980). Essas músicas marcaram uma época e anteciparam discussões que seriam mais tarde abordadas por artistas de outros gêneros.
A partir do álbum “Começaria tudo outra vez…” (1976), Gonzaguinha aumentou a dose de amor em suas letras, mantendo-se politizado. Suas canções se tornaram favoritas de grandes vozes da MPB, como Maria Bethânia e Simone. O legado de Gonzaguinha se espalhou por diversas interpretações, mantendo viva sua voz única e suas mensagens atemporais.
Mesmo com interpretações de artistas renomadas, como Bethânia e Gal Costa, Gonzaguinha manteve sua identidade na música popular brasileira. Seus álbuns, gravados entre 1977 e 1987, pela EMI-Odeon, refletem a coerência ideológica do artista, que transitava entre o amor e a política com maestria. Gonzaguinha exaltava a vida em suas músicas, celebrando a existência e deixando um legado de afeto e luta que perdura ao longo dos anos, perpetuando sua memória e sua importância na cultura brasileira.