Bandido que invadiu hospital e matou paciente disse a porteiro que entraria DE
qualquer jeito para ‘terminar um serviço’
Em 2025, unidades de saúde precisaram suspender suas atividades mais de 500
vezes devido à violência no Estado; secretário da Segurança Pública pede que
tema não seja ‘polarizado’.
Fantástico revela invasão de criminosos armados em hospital do Rio
[imagem ilustrativa]
O criminoso armado que invadiu o Hospital Municipal Pedro II, na zona oeste do
Rio de Janeiro, na última semana, afirmou ao porteiro que entraria na unidade “de qualquer
jeito” porque precisava “terminar um serviço”. O alvo era Lucas Fernandes de
Souza, de 31 anos, que havia sobrevivido a cinco tiros horas antes.
Câmeras de segurança mostram que o bando chegou em dois carros. Identificado
como Erlan Oliveira de Araújo, conhecido como “Orelha”, o invasor usava colete
da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco). Segundo a polícia, Erlan
era ligado à milícia e foi encontrado morto na sexta-feira (19).
Ao todo, seis homens participaram da ação. Dois ficaram do lado de fora com
fuzis, dando cobertura, enquanto outros quatro entraram pelo estacionamento.
Vestidos com casacos pretos e usando luvas médicas, eles subiram as escadas do
hospital em busca de Lucas.
O ferido já havia sido preso por extorsão em 2019 e teve ligações com a milícia,
mas mudou de lado, se aliando ao tráfico de drogas.
Lucas era um dos 300 pacientes internados quando a unidade de saúde foi
invadida.
De acordo com testemunhas, os criminosos chegaram a circular pelo centro
cirúrgico, onde havia oito mulheres em trabalho de parto. No entanto, Lucas já
tinha sido transferido para a enfermaria.
O hospital, que atende em média 470 pacientes por dia, ficou em alerta.
Profissionais de saúde relataram medo e sensação de vulnerabilidade.
> “A gente se sente muito exposto. Pode acontecer de tudo a qualquer momento”,
> disse uma funcionária que não quis se identificar.
Após o crime, Lucas foi transferido para outra unidade. A Secretaria Municipal de Saúde afirmou que só neste ano unidades do Rio tiveram
que interromper o atendimento mais de 500 vezes por episódios de violência, como
tiroteios, invasões e operações policiais. Já a Secretaria de Segurança do
estado disse que vai verificar a procedência dos dados.
Enquanto isso, médicos e enfermeiros seguem trabalhando sob ameaça constante.
> “O serviço não para. A porta continua aberta, os pacientes chegam e a gente
> precisa acolher”, disse outro profissional.
O medo ronda hospitais e postos de saúde em todo o Rio. Um levantamento da
Secretaria Municipal de Saúde mostrou que, só neste ano, unidades de saúde
tiveram que paralisar o trabalho mais de 500 vezes em decorrência de tiroteios e outras violências. Daniel Soranz, Secretário Municipal de Saúde, afirmou que “a gente não pode naturalizar isso acontecer na
cidade do Rio de Janeiro”. Ele citou exemplos de unidades invadidas por
traficantes ou policiais em busca de pacientes.
Os dados, entretanto, foram motivo de discordância.
O secretário de Estado de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Victor Santos,
afirmou à reportagem do Fantástico que só recebeu o ofício com a relação dos 516
casos no dia 18, após a invasão. “Qual é o papel da segurança pública agora?
Verificar a procedência da informação. E é isso que nós vamos fazer com cada um
dos fatos elencados naquela planilha”, afirmou.
> “Toda a sociedade sabe do conflito armado (…) toda a imprensa, toda a
> notícia, todos os moradores e policiais (…) acompanham o problema”, disse
> Daniel Soranz, secretário de Saúde do Rio.
Apesar do perigo (o Hospital Pedro II fica em uma área dominada pela milícia),
os profissionais de saúde já voltaram ao trabalho.
Optando por não se identificar, um deles enfatizou o compromisso: “O serviço não
para. Teve a ocorrência, mas a porta está aberta e os pacientes vêm chegando, um
atrás do outro. E a gente tem que acolher, é a nossa função”.