PMs da Rota vão a júri popular por morte de ‘Príncipe do Crime’ durante a Operação Verão no litoral de SP
De acordo com o Ministério Público, um dos agentes deitou no chão para que a câmera corporal não gravasse a ocorrência. Enquanto isso, outro PM, com a câmera descarregada, simulava que a vítima teria atirado nos policiais. A decisão em primeira instância determinou o julgamento popular por homicídio qualificado.
Câmeras de policiais militares mostram a abordagem ao ‘Príncipe do Crime’, morto durante a Operação Verão em Santos, no litoral de São Paulo. Dois policiais militares das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), acusados de matar Allan de Morais Santos, 36 anos, conhecido como “Príncipe”, vão a júri popular. O caso ocorreu durante a Operação Verão, que terminou com 56 mortos na Baixada Santista. De acordo com a decisão em primeira instância, obtida pelo DE, eles responderão por homicídio qualificado.
“Príncipe” foi baleado e morto em 10 de fevereiro de 2024, em Santos. Ele era roupeiro do Jabaquara Atlético Clube e voltava do trabalho quando foi atingido, a poucos quilômetros do local da partida. De acordo com a denúncia do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), os policiais Diogo Souza Maia e Glauco Costa teriam simulado um confronto e alterado a cena do crime.
Os agentes foram afastados das ruas após a denúncia do MP-SP em novembro de 2024, nove meses após o crime. O juiz Alexandre Betini definiu, nesta segunda-feira (22), que os policiais sejam submetidos ao julgamento popular. Ainda na decisão, o magistrado destacou que o fato da vítima ter passagens criminais não significa que ela transportava armas, o que foi alegado pelos PMs (veja mais abaixo). Os policiais vão responder por homicídio com a qualificadora de “emprego de recurso que dificultou a defesa” da vítima. A equipe de reportagem tenta localizar a defesa dos agentes.
Na versão dos PMs, quatro agentes averiguavam uma denúncia sobre um homem transportando armas em um carro Jeep Compass. Ele foi baleado após desobedecer a uma ordem de parada e jogar o carro contra a viatura. Ainda segundo os PMs, Allan teria disparado com uma pistola contra os policiais e levava um fuzil no porta-malas. Um agente teria respondido à suposta agressão com quatro tiros de fuzil e outro com quatro tiros de pistola.
A investigação contradiz a versão dos policiais. Allan não fugiu nem jogou o carro na viatura. Os policiais seguiram o carro da vítima por alguns metros, até que o ultrapassaram e bloquearam a passagem. A ordem de parada foi obedecida por ele. A denúncia do Ministério Público traz evidências de que os policiais forjaram a cena do crime para simular um confronto e justificar a morte de Allan.
Segundo a promotoria, os policiais simularam uma troca de tiros e fingiram que a vítima disparou contra eles. A câmera corporal do tenente estava descarregada, mas outras câmeras de policiais presentes capturaram os estampidos. Os promotores também alegam que os policiais agiram com a intenção de matar e dificultaram a defesa da vítima. As diretrizes da Polícia Militar foram violadas ao obstruir as câmeras, buscando impedir a identificação dos responsáveis pela morte.
Em meio a polêmicas envolvendo as mortes durante a Operação Verão e Escudo, a justiça agora busca esclarecer o caso da morte do “Príncipe do Crime” e responsabilizar os PMs envolvidos. A esposa de Allan clama por justiça e espera que os policiais sejam condenados. O desenrolar do julgamento popular determinará a resposta à morte de Allan e as acusações contra os policiais militares da Rota.