Família de autor de ‘É Hoje’ busca reconhecimento como herdeiros e acesso a valores no Ecad: história de Mestrinho

familia-de-autor-de-e-hoje-busca-reconhecimento-como-herdeiros-e-acesso-a-valores-no-ecad3A-historia-de-mestrinho

Parentes de um dos autores de ‘É Hoje’ buscam reconhecimento como herdeiros e acesso a valores parados de R$ 300 mil no Ecad

Reinaldo Ferreira dos Santos, o Mestrinho, é um dos autores do samba da União da Ilha de 1982, mas filhos não foram reconhecidos no cartório. Valor parado no Ecad chega a R$ 300 mil.

Família de um dos autores de ‘É Hoje’, busca reconhecimento como herdeiros e acesso a valores parados no Ecad

Família de um dos autores de ‘É Hoje’, busca reconhecimento como herdeiros e acesso a valores parados no Ecad

A família de Reinaldo Ferreira dos Santos, o Mestrinho, busca na Justiça o reconhecimento como herdeiros pelos direitos autorais de “É Hoje”, samba-enredo da União da Ilha de 1982 que se tornou um dos mais conhecidos do carnaval carioca e da música brasileira.

A canção, registrada como autoria de Didi e Mestrinho, é a mais executada do país segundo o Ecad e foi regravada por artistas como Caetano Veloso, Fernanda Abreu e Pedro Luís.

Apesar disso, a parte dos rendimentos de Mestrinho — atualmente estimada em cerca de R$ 300 mil — está parada no Ecad há anos, já que os quatro filhos do compositor não foram registrados em cartório. Eles alegam ser filhos biológicos e apresentaram à Justiça declarações de imposto de renda do pai em que aparecem como dependentes.

O caso se arrasta desde 1994, quando Mestrinho foi assassinado em circunstâncias nunca esclarecidas. Sem a emissão de uma certidão de óbito, o reconhecimento de paternidade também ficou travado.

Agora, a Justiça pode determinar um exame de DNA com parentes do compositor para avançar no processo. O advogado da família pretende pedir o bloqueio dos valores arrecadados em nome de Mestrinho para que fiquem depositados em juízo até que a paternidade seja comprovada.

ENTENDA O CASO

O samba “É Hoje”, composto para o carnaval de 1982, se tornou o enredo mais executado do país, segundo o Ecad, e foi regravado por grandes nomes da MPB. Registrada como autoria de Didi e Mestrinho, a canção gera receitas que são recebidas apenas pelos herdeiros diretos de Gustavo Baeta Neves, o Didi. Já a parte de Mestrinho, estimada em cerca de R$ 300 mil, segue parada, sem acesso pela família.

O problema é que os quatro filhos do compositor não foram registrados em cartório. Wilma, mãe das crianças, era separada mas ainda não tinha formalizado o divórcio quando se relacionou com Mestrinho, o que levou os filhos a nascerem sem o nome do pai nas certidões. Ele chegou a cogitar regularizar a paternidade anos depois, mas desistiu diante da burocracia e dos custos.

“Ela assinou como solteira, né. Ela assinou o registro como solteira, não botou o registro porque ela não podia”, diz Ricardo Lima, que busca o reconhecimento de paternidade.

A situação se complicou ainda mais em 1994, quando Mestrinho foi assassinado em circunstâncias nunca esclarecidas. Partes do corpo foram encontradas em um terreno baldio na Ilha do Governador, mas como Wilma não reconheceu oficialmente o corpo, nunca foi emitida certidão de óbito — impedindo também o reconhecimento legal da paternidade.

“Foi um desleixo. Meu pai quis consertar esse erro depois, mas já era tarde e ele acabou deixando como estava”, lamenta Elizabeth Lima, sobre o não-reconhecimento da paternidade.

Sem documento oficial, a Justiça ainda não reconheceu os filhos como herdeiros. O advogado da família afirma que será necessário exame de DNA com parentes de Mestrinho para confirmar a paternidade. Já foram anexadas ao processo declarações de imposto de renda do compositor, nas quais os filhos aparecem como dependentes.

“Não teve audiência primeiro porque nós não temos certidão de óbito do Mestrinho, do Reinaldo. Eu pedi cópia do inquérito policial, da 37ªDP, que, até hoje não foi disponibilizado na Justiça. Nesse caso tem que se fazer DNA para aferir a paternidade”, diz o advogado Marcílio de Araújo.

A ação foi aberta por Elizabeth. Pouco tempo depois, a mãe morreu. Ao assistir a uma reportagem exibida no Jornal Hoje, os irmãos descobriram que havia valores retidos no Ecad em nome do pai.

“Foi uma resposta para mim. A certeza de que eu estava no caminho certo”, contou Elizabeth.

O reencontro com a memória do pai levou os filhos de volta à quadra da União da Ilha do Governador, onde não iam há mais de 30 anos. Recebidos pela Velha Guarda da escola, cantaram juntos o samba que se tornou eterno.

“É uma emoção muito grande. Só quem gosta de samba e carnaval entende esse carinho”, disse dona Célia, da Velha Guarda.

Agora, o advogado da família pretende pedir o bloqueio dos valores arrecadados em nome de Mestrinho para que fiquem depositados em juízo até que a paternidade seja comprovada.

A Polícia Civil foi questionada sobre a investigação do assassinato de 1994, mas ainda não respondeu.

Box de Notícias Centralizado

🔔 Receba as notícias do Diário do Estado no Telegram e no WhatsApp