A maior parte do lixo oceânico que chega ao Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha vem do Congo, na África. A conclusão é de um estudo do Projeto Golfinho Rotador, feito ao longo de 35 anos. Segundo os pesquisadores, a quantidade de resíduos aumenta entre setembro e dezembro, durante a primavera. Os pesquisadores analisaram o lixo que chega às praias — em sua maioria plástico — e também as correntes marítimas que trazem os resíduos.
“Fernando de Noronha recebe correntes de superfície, de meia água e de fundo. A maior parte vem da África, mas também chegam correntes de outras áreas do Brasil e do Caribe”, explicou o oceanógrafo José Martins, coordenador do Projeto Golfinho Rotador. De acordo com o pesquisador, nesse período da primavera, a corrente equatorial fica mais intensa na região de Noronha. O estudioso também informou que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) acompanhou uma mancha de lixo vinda da África até Noronha.
Martins acrescentou que resíduos vindos dos Estados Unidos, Japão, China e Europa são jogados no mar por navios de pesca, cargueiros e cruzeiros. O Projeto Golfinho Rotador também participa de mutirões de limpeza nas praias da ilha. “Essas ações ajudam a conscientizar sobre o problema global do lixo e mostram como os oceanos estão conectados”, disse a coordenadora de educação ambiental do projeto, Cynthia Gerling.
José Martins avaliou que não há solução de curto prazo para o problema do lixo oceânico. No entanto, disse que o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) pode adotar medidas para melhorar as condições das praias com mais pedras, entre a Praia do Leão e a região do Air France. “Defendemos que o contrato com a concessionária dos serviços turísticos do parque inclua a retirada do lixo nessa região, especialmente nos períodos em que a ilha recebe esse ‘mar de plástico’. Atualmente, isso só acontece por meio de ações voluntárias”, afirmou Martins.
O pesquisador destacou que os mutirões representam riscos para quem participa. Se a concessionária assumir a tarefa, será mais seguro e será possível recolher também o lixo antigo que está enterrado nas praias de Noronha. O DE procurou o ICMBio para saber se o contrato com a concessionária pode ser alterado e incluir a limpeza das praias, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.