Deepfakes de celebridades: Justiça mantém prisão de influenciadora alvo de
operação contra golpes digitais em Piracicaba
Em audiência de custódia, foi analisado se houve alguma irregularidade na prisão
de Laís Rodrigues Moreira, conhecida como Japa, mas ela segue detida.
Japa tinha sua massa de seguidores utilizada para crimes virtuais,
segundo a polícia — Foto: Reprodução
A Justiça manteve a prisão da Laís Rodrigues Moreira, conhecida como Japa, que
foi alvo de uma operação contra o uso de vídeos falsos (deepfakes) de
celebridades para aplicar golpes digitais. Durante a ação, a mãe dela também foi presa e foram apreendidos um carro e três motos de luxo na casa da influenciadora.
Saiba quem é Japa, influenciadora presa em operação
A audiência de custódia de Japa foi realizada nesta quinta-feira (2).
> “Trata-se de cumprimento de mandado de prisão, portanto, a audiência de
> custódia foi apenas para verificar se alguma ilegalidade foi cometida no ato
> da prisão e ela segue presa”, informou a assessoria de imprensa do Tribunal de
> Justiça de São Paulo (TJ-SP).
Influenciadora de Piracicaba é alvo de operação contra crimes com uso de deep
fake
ENTENDA AS INVESTIGAÇÕES
Investigações apontam movimentação atípica de R$ 15 milhões nas contas bancárias
de Japa e de sua mãe em um período entre seis meses e um ano.
A influenciadora tem 123 mil seguidores no Instagram. Nele, ela ostenta fotos em
motos e carros de luxo, mansões e embarcações.
De acordo com as investigações, Japa ajudava a impulsionar os golpes e, também,
a promover jogos de azar ilegais.
> “Ela se vincula a eles ou os criminosos, estelionatários se vinculam a ela
> para usar essa massa de seguidores dela e atingir um número muito maior de
> potenciais vítimas”, explicou o delegado Filipe Borges Bringhenti.
Influenciadora Laís Rodrigues Moreira, conhecida como Japa — Foto:
Reprodução
O QUE DIZ A DEFESA
A defesa da Laís manifestou “surpresa e irresignação” diante do cumprimento dos
mandados judiciais.
> “Especialmente porque, até o presente momento, [a defesa] não teve acesso à
> decisão judicial que determinou sua prisão, o que impede o pleno exercício do
> contraditório e da ampla defesa — fundamentos basilares do Estado Democrático
> de Direito”, acrescentaram os advogados Felipe Cassimiro Melo de Oliveira e
> Matheus Bottene Pacifico, em nota.
Também conforme os defensores, ela jamais evitou colaborar com qualquer
investigação e, se intimada, teria se apresentado espontaneamente para prestar
os esclarecimentos.
“Assim, a medida extrema e precoce de privação da liberdade revela-se, em nossa
visão, desproporcional e contrária ao espírito da Constituição da República, que
consagra a liberdade como regra e a prisão como exceção. Confiamos na Justiça e
acreditamos que, tão logo os fatos sejam devidamente apreciados sob o crivo do
devido processo legal, a revogação da prisão se imporá como imperativo da razão
jurídica e da prudência institucional.
Polícia apreende motocicletas e carro em casa de influenciadora digital de
Piracicaba durante operação contra crimes cibernéticos — Foto: Gustavo
Nolasco/EPTV
COMO FUNCIONAVAM OS GOLPES?
Segundo as investigações, o grupo utilizava tecnologia de inteligência
artificial para criar deepfakes de celebridades como a modelo Gisele Bundchen,
da ex-BBB Juliette, da apresentadora Angélica e de Sabrina Sato – para enganar
pessoas com vendas fraudulentas de produtos pela internet.
Os vídeos falsos eram usados para promover produtos inexistentes como kits de
cosméticos e ofertas fraudulentas, levando as vítimas a realizarem pagamentos
via PIX.
Segundo investigação da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, em um desses vídeos,
os criminosos usaram a imagem da modelo Gisele Bündchen supostamente anunciando
uma promoção em que estariam sendo dadas malas de viagem. O produto seria de graça, mas era
necessário pagar o frete.
Os interessados eram levados para um site alterado para parecer legítimo onde
eram feitos os pagamentos. No entanto, após os valores serem pagos, quem pagou
não recebia o produto – era dessa forma que os estelionatários lucravam. O
dinheiro caía em contas de fachada.
> “O que chamou a atenção dos investigadores não foi apenas o valor
> relativamente baixo do prejuízo, R$ 44,57 cobrados como ‘taxa de frete’, mas a
> sofisticação técnica por trás do golpe. Os criminosos haviam criado um vídeo
> com ‘deepfake’ da imagem e voz de Gisele Bündchen, fazendo parecer que a
> modelo estava realmente promovendo o produto inexistente”, conta a delegada
> Isadora Galian.
Segundo a polícia, os criminosos montaram uma espécie de engenharia digital, com
uso de inteligência artificial para criação de conteúdo falso até lavagem de
dinheiro.
O esquema utilizava empresas fantasmas, contas com nomes de “laranjas”,
incluindo idosas de 80 a 84 anos, e gateways de pagamentos fraudulentos.
Grupo suspeito de usar vídeo com ‘deepfake’ da modelo Gisele Bündchen para
aplicar golpes com vendas de produtos é alvo de operação policial no RS —
Foto: Reprodução
BALANÇO DA OPERAÇÃO
A Operação Modo Selva ocorre nos estados de Rio Grande Sul, Santa Catarina, São
Paulo, Bahia e Pernambuco. As ações envolveram equipes da Delegacia de
Investigações Cibernéticas Especiais (Dicesp) e do Departamento Estadual de
Repressão aos Crimes Cibernéticos (Dercc).
Foram expedidos pela Justiça nove mandados de busca e apreensão, sete de prisão
preventiva, além do sequestro e bloqueio de 10 veículos, e de 21 ativos,
investimentos ou aplicações, contas bancárias e carteiras de criptoativos.
No interior de São Paulo, foram cumpridos cinco mandados de prisão e de busca e
apreensão em Piracicaba (SP) e Hortolândia (SP).
Os valores obtidos com o esquema podem chegar a R$ 210 milhões.
Polícia cumpre mandados de busca e apreensão em condomínio de Piracicaba — Foto: Gustavo Nolasco/EPTV
COMO NÃO CAIR EM GOLPES
A Polícia Civil alerta a população sobre os sinais de golpes digitais que
utilizam deepfakes:
* Desconfie de promoções “imperdíveis” protagonizadas por celebridades
* Verifique sempre a autenticidade dos perfis que divulgam ofertas
* Pesquise a reputação da empresa em sites como Reclame Aqui antes de comprar
* Nunca forneça dados pessoais ou realize pagamentos sem confirmar a
legitimidade da oferta
* Denuncie imediatamente qualquer suspeita de golpe, mesmo que o valor seja
baixo
Sobre denúncias, a Polícia Civil enfatiza que “uma das descobertas mais
preocupantes foi constatar que a grande maioria das vítimas jamais denunciava os
golpes”.