Atrasos podem ser um pesadelo para muitas pessoas, principalmente quando se trata de algo tão importante quanto a conquista do primeiro imóvel. É o que tem acontecido com as famílias que compraram unidades no condomínio Mirantes do Parque, localizado em Canoas, região metropolitana de Porto Alegre. O projeto, lançado em 2017, prometia 500 unidades e uma estrutura completa, com previsão de entrega da primeira fase em 2021 e da segunda em 2022. No entanto, em outubro de 2025, o cenário é de decepção: o terreno está vazio, sem qualquer construção, e o atraso já ultrapassa os três anos, tornando-se motivo de batalha judicial.
Entre os compradores afetados está a engenheira de segurança de trabalho Angélica Alves, de 35 anos, que investiu todas as suas economias no que seria o seu primeiro imóvel ao lado do namorado. A espera sem fim pelo imóvel tem impactado não apenas financeiramente, mas também emocionalmente. Angélica lamenta: “É muito triste, porque tu coloca todo teu dinheiro naquilo e nada saiu do papel, percebe que não vai acontecer da maneira que planejou. Atrasa os planos da vida da gente. A questão de ser mãe, por exemplo, acabei protelando em função desse cenário”.
Para tentar resolver a situação, as famílias se uniram e formaram a Associação dos Compradores do Mirantes do Parque (Acampar). O grupo busca atuar junto aos órgãos de controle para garantir a retomada da construção ou a devolução dos valores daqueles que optarem pelo distrato. Registros em cartório, ações judiciais e denúncias em órgãos de defesa do consumidor foram realizados, sendo que o Procon de Canoas já recebeu dezenas de queixas sobre o empreendimento.
As construtoras envolvidas no projeto, Nexgroup e Grupo BFabbriani, têm se manifestado sobre a situação. A Nexgroup, por meio da Capa Incorporadora, transferiu as responsabilidades do Mirantes do Parque para o Grupo BFabbriani, agora responsável pela obra. O grupo alega ter entregue uma segunda área de terras de alto valor e repactuado cerca de 130 contratos. Por sua vez, o Grupo BFabbriani declarou ter assumido o compromisso público de concluir as obras sob o nome de Summerville Club Residence, buscando soluções para viabilizar novos contratos.
O Ministério Público conduz um inquérito para investigar o caso, buscando reparar os consumidores prejudicados. Uma audiência realizada em setembro visou buscar conciliação entre compradores e a nova empresa, com novos encontros marcados para apresentação de estudos e propostas. Enquanto isso, em Santa Catarina, uma operação do Ministério Público mirou a Incorporadora BFabbriani, suspeita de envolvimento em um esquema milionário de fraude imobiliária, mas o grupo nega as acusações.
Diante desse cenário de incertezas e batalhas judiciais, as famílias que aguardam a entrega de seus imóveis no condomínio Mirantes do Parque em Canoas seguem em busca de respostas e soluções para um problema que afeta não apenas o bolso, mas também os planos e sonhos de suas vidas. A esperança de ver a construção do empreendimento finalmente concluída e os imóveis entregues permanece viva, à espera de uma resolução justa e satisfatória para todos os envolvidos.