Intoxicação por metanol: Brasil tem 14 casos confirmados e 181 suspeitos, diz novo boletim do Ministério da Saúde
São Paulo responde pela maioria dos casos notificados. Notificações foram enviadas pelos estado até às 16h deste sábado (4) para o Centro de Informações Estratégicas e Resposta em Vigilância em Saúde Nacional (CIEVS).
Metanol em bebidas: só teste de laboratório pode detectar
O número de notificações de intoxicação por metanol após ingestão de bebida alcoólica subiu para 195 no Brasil, segundo balanço do Ministério da Saúde divulgado neste sábado (4). As notificações incluem casos confirmados e suspeitos, além de mortes.
São 14 casos confirmados e 181 em investigação. Do total de registros, 162 são em São Paulo (14 confirmados e 148 em investigação), incluindo duas mortes já confirmadas.
Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Piauí notificaram os primeiros casos em investigação.
Dessas notificações, 13 são de óbitos. Um óbito confirmado no estado de São Paulo e 12 estão sendo investigados (sete em SP, três em Pernambuco, um na Bahia e 1 no Mato Grosso do Sul).
As notificações foram informadas até às 16h deste sábado (4) para o Centro de Informações Estratégicas e Resposta em Vigilância em Saúde Nacional (CIEVS).
ANTÍDOTO
Para reduzir o impacto das intoxicações provocadas por essa substância em bebidas alcoólicas adulteradas, o Ministério da Saúde em parceria com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) adquiriu 4,3 mil ampolas de etanol farmacêutico, antidoto para esse tipo de intoxicação, e está comprando mais 5 mil tratamentos (150 mil ampolas), para garantir o estoque do Sistema Único de Saúde.
SÃO PAULO
O governo de São Paulo informou que investiga outras sete mortes com suspeita de intoxicação de metanol. De acordo com a Secretaria da Saúde, ao todo são 162 registros em todo o estado: 14 casos confirmados, incluindo dois óbitos — dois homens, de 46 e 54 anos, ambos moradores da capital; 148 casos ainda em investigação, com sete mortes suspeitas — quatro na cidade de São Paulo, duas em São Bernardo do Campo e uma em Cajuru.
O metanol é um álcool usado industrialmente em solventes e outros produtos químicos, é altamente perigoso quando ingerido. Inicialmente, ataca o fígado, que o transforma em substâncias tóxicas que comprometem a medula, o cérebro e o nervo óptico, podendo causar cegueira, coma e até morte. Também pode provocar insuficiência pulmonar e renal.
As autoridades não divulgaram oficialmente a identidade das vítimas, mas a TV Globo e o DE conseguiram localizar alguns dos pacientes. A seguir, conheça as histórias de pessoas que tiveram a vida profundamente afetada após o consumo de bebidas adulteradas.
ADEGA NA ZONA SUL
No dia 30 de agosto, Rafael Anjos Martins, de 28 anos, comprou duas garrafas de gin, além de gelo de coco e energético, em uma adega localizada na região da Cidade Dutra, na Zona Sul da capital.
Em seguida, ele se reuniu com quatro amigos em casa para confraternizar. Nenhum deles desconfiou da adulteração.
Poucas horas depois do consumo, Rafael começou a passar mal e foi levado às pressas para o hospital. Os médicos realizaram procedimentos para remover a toxina do sangue, mas o metanol já havia atingido o cérebro e o nervo óptico.
Desde então, o jovem está em coma, internado na Unidade de Terapia Intensiva de um hospital de Osasco, respirando com ajuda de aparelhos.
Os amigos, que ingeriram a bebida adulterada em menor quantidade, também sofreram consequências. Nathalia Carozzi Gama contou à TV Globo que a visão foi afetada.
“As coisas estavam com muito contraste e muita falta de ar, com mal-estar, um peso no corpo. Eu fui para o hospital, fizeram o exame e viram que estava com metanol”, relatou.
BAR NOS JARDINS
A designer de interiores Radharani Domingos, de 43 anos, perdeu a visão após consumir três caipirinhas feitas com vodca em no bar Ministrão na Alameda Lorena, bairro nobre de São Paulo. O local foi interditado.
Ela chegou a ser internada na UTI, onde sofreu convulsões e precisou ser intubada, mas recebeu alta para o quarto nesta segunda (29).
“Era uma região nobre, não era nenhum boteco de esquina. Causou um estrago bem grande. Não estou enxergando nada”, disse Radharani ao Fantásrico. No local, a polícia apreendeu cerca de 100 garrafas de bebidas destiladas suspeitas de adulteração.
Segundo a irmã dela, Lalita Domingos, ainda não há previsão de alta. “O oftalmologista entrou com tratamentos para reverter o quadro da visão, mas ela [visão] permanece comprometida. Estamos na expectativa de que algo mude.
SHOW DE PAGODE
No domingo (28), Bruna Araújo de Souza, de 30 anos, saiu para assistir a um show de pagode com amigos em um bar de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Durante a tarde e a noite, ela consumiu algumas doses de bebida, incluindo um “combo” de vodca com suco de pêssego.
Na manhã seguinte, Bruna começou a sentir sintomas como dor intensa no corpo, falta de ar e visão embaçada. Foi levada a uma UPA da cidade, mas seu quadro se agravou rapidamente e ela precisou ser transferida entubada para o Hospital de Clínicas de São Bernardo, onde permanece em estado grave.
Familiares relatam que o namorado dela também apresentou sintomas e foi internado em outra unidade de saúde. “Ela estava feliz, se divertindo, e agora a gente não sabe como vai ser daqui para frente”, contou um parente.
UÍSQUE EM FESTA
O caso de Wesley Pereira, de 31 anos, começou em agosto, quando ele participou de uma festa na Zona Sul da capital paulista. Em determinado momento da comemoração, Wesley consumiu uísque que havia sido levado ao local. Poucas horas depois, passou mal e entrou em coma.
Desde então, ele permanece internado no Hospital do Campo Limpo. Segundo a família, Wesley sofreu uma série de complicações: teve pneumonia por broncoaspiração, um dos rins parou de funcionar e, quando os médicos reduziram a sedação para tentar acordá-lo, ele sofreu um AVC.
“Ele perdeu a visão e a vida dele nunca mais vai ser a mesma”, contou a irmã, Sheilene Pereira Neves. Wesley continua em tratamento intensivo e luta para se recuperar.
VODCA ADULTERADA
O advogado e empresário Marcelo Lombardi, de 45 anos, dono de uma imobiliária familiar na região do Sacomã, Zona Sul de São Paulo, morreu após consumir uma garrafa de vodca adulterada. Segundo a família, ele comprou a bebida em uma adega para beber em casa, sem suspeitar de irregularidades.
Na manhã seguinte, Marcelo acordou desorientado, já sem visão, e foi levado ao hospital. O quadro evoluiu para uma parada cardiorrespiratória e falência múltipla dos órgãos. No atestado de óbito, os médicos apontaram o metanol como causa da intoxicação.
Marcelo era casado e morava com a esposa e uma cachorrinha. A irmã relatou ao DE que ele era o pilar da família. “Perdemos a nossa base”, desabafou.
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Infográfico: o impacto do metanol no corpo humano.