União Progressista enfrenta turbulência com permanência de ministros no governo e divergência sobre candidatura presidencial
Federação já pediu entrega de cargos na Esplanada, mas ministros resistem. Fala de Ciro Nogueira, que descartou Caiado da disputa presidencial, cria ‘fissura substantiva’.
A União Progressista, federação formada por União Brasil e PP, enfrenta nos últimos dias momentos de “turbulência” provocados pela permanência dos ministros no governo Lula e por divergências na escolha do candidato à presidência da República em 2026.
Tarcísio será candidato se direita criar ambiente favorável e não trairá Bolsonaro, diz Ciro Nogueira.
No final de semana, um dos presidentes da federação e presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), disse em entrevista ao jornal O Globo que os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro têm duas candidaturas viáveis para o ano que vem: Ratinho Junior (PSD-PR), governador do Paraná, e Tarcísio Freitas (Republicanos-SP), governador de São Paulo.
A fala irritou o governador de Goiás, Ronaldo Caiada (União), que já lançou sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto e promete anistiar o ex-presidente Jair Bolsonaro se for eleito.
Em abril, Caiado se lançou pré-candidato à Presidência pelo União Brasil em evento em Salvador.
Em postagem nas redes sociais, Caiado afirmou que Ciro não tem “estatura” para julgar as pré-candidaturas, disse que o político não tem votos para se reeleger senador e presta um desserviço à direita ao excluir do páreo nomes que já manifestaram interesse em concorrer.
Segundo Caiado, Ciro articula para ser candidato a vice-presidente em uma chapa encabeçada por Tarcísio e demonstra “ansiedade” ao se colocar como “porta-voz” do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O senador, que lidera o PP, ironizou Caiado também em postagem em rede social. “Deve estar com o tempo livre. Eu não. Sobretudo para polêmicas vazias.”
À TV Globo, Ciro disse que o nome da direita não depende da preferência pessoal dele. “Eu não descarto ninguém, quem tem que mostrar viabilidade são os candidatos através das pesquisas”, disse.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, afirmou à GloboNews que as declarações do presidente do PP, Ciro Nogueira, sobre possíveis candidatos à presidência da República em 2026 criam uma “fissura substantiva” no processo de federação entre as duas legendas.
“As pessoas têm que entender que isso cria uma fissura substantiva nesse processo”, disse Caiado, ao ser questionado sobre o impacto das declarações de Nogueira na federação entre PP e União.
“Nosso partido é maior… E aí fica o presidente do PP achando que pode meter a colher, que pode pautar. É algo que extrapola qualquer princípio de respeito. É um quase ex-senador querendo decidir e selecionar a candidatura à Presidência. Não tenho interesse de diálogo dessa forma”, acrescentou.
O governador afirmou, ainda, que Nogueira quer privilegiar pessoas de sua afinidade, mas que a política deve ser decidida de acordo com quem tem mais voto e, neste caso, maior aprovação em seu respectivo Estado.
“As pessoas têm que ter limite nas suas colocações. Ele pode ter a opção que ele quiser (para a disputa presidencial), mas ele não pode se achar como cidadão que pode querer fazer uma triagem de quem deve ser ou não candidato. Não cabe a ele. Ele não tem essa competência, nem política e nem eleitoral”, declarou Caiado.
Caiado também afirmou que as colocações de Ciro são baseadas na intenção do senador de ser candidato a vice-presidente em 2026. “Nunca vi ninguém se candidatar a vice. Ele inovou nesta tese. É o rabo lançando o cachorro. Nunca vi isso na vida”, pontuou.
Outro caso que tumultua os bastidores da federação é o momento de desembarque dos ministros do governo Lula.
No início de setembro, a federação partidária formada pelo União Brasil e pelo PP anunciou que filiados aos partidos deveriam deixar cargos no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O União Brasil já deu um ultimato e pediu que o ministro do Turismo, Celso Sabino (PA), deixe o cargo. O ministro, no entanto, resiste.
Sabino já anunciou que entregaria o posto, mas segue no comando da pasta. O partido abriu um processo de expulsão do ministro e deve reunir a Executiva na quarta-feira (8) para decidir sobre o assunto.
Sabino antecipou o retorno a Brasília nesta segunda e cancelou compromissos que teria em Belém.
O governador de Goiás é a favor do processo pela expulsão do ministro do Turismo.
Caiado contou que foi procurado em mais de uma ocasião por Sabino para que houvesse uma prorrogação do prazo pela sua permanência no governo Lula, mas que não havia viabilidade para isso.
Além disso, Caiado afirma que com certeza Sabino vai perder o comando do diretório estadual da federação PP-União no Pará.
Em paralelo, o relator da expulsão de Sabino no União, deputado Fábio Schiochet (SC), disse que vai deixar pronto um parecer pela saída do ministro do Turismo por infidelidade partidária. Caso o ministro deixe a gestão federal até amanhã, o procedimento seria arquivado.
Fufuca inclusive viajou com Lula nesta segunda-feira (6) para agendas em Imperatriz (MA), estado do ministro. No evento, disse “eu estou com Lula”.
Na semana passada, Ciro Nogueira disse ao g1 que o prazo final para Fufuca deixar a cadeira é esta terça-feira (7).