Mudança na Casa Branca favorece diálogo entre Trump e Lula, avalia governo brasileiro

mudanca-na-casa-branca-favorece-dialogo-entre-trump-e-lula2C-avalia-governo-brasileiro

Linha da Casa Branca mudou e não tem como Rubio ir contra, avalia governo brasileiro

Diplomacia vê Marco Rubio ‘enquadrado’ por Trump; ligação para Lula foi organizada sem a participação do Departamento de Estado, segundo interlocutores.

O diagnóstico de momento do governo brasileiro é que a linha do presidente norte-americano, Donald Trump, na relação com o Brasil mudou completamente nas últimas semanas e, por esta razão, não há espaço para o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, atrapalhar as negociações sobre o tarifaço e sanções contra autoridades brasileiras.

Por ora, Trump não sinalizou o que quer negociar em troca do relaxamento do tarifaço e das sanções. A expectativa é que, nos próximos dias, o presidente americano se reúna com Rubio e dê as orientações sobre o que será negociado.

Na conversa desta segunda-feira (6) com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o presidente norte-americano destacou Rubio para ser o interlocutor das negociações (leia mais abaixo).

Como o secretário de Estado, Marco Rubio tem perfil ainda mais ideológico e anti-esquerda do que a média da administração Trump, além de manter certa interlocução com o bolsonarismo, a indicação dele foi vista por alguns analistas como sinal de que as negociações serão difíceis.

Fragilizada diante da aproximação de Lula e Trump, a oposição bolsonarista tem se apegado à escolha de Rubio para defender a tese de que a Casa Branca não mudou de posição e continua alinhada na defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Fontes do governo brasileiro no Palácio do Planalto e no Itamaraty, no entanto, entendem que a única figura que dá a linha no governo americano é Donald Trump e que Rubio cumpre exatamente tudo aquilo que o presidente determina.

Como os objetivos da Casa Branca em relação ao governo Lula mudaram, restaria a Rubio apenas cumprir aquilo que o chefe decidiu.

De forma reservada, um auxiliar de Lula lembra que, no telefonema, Lula e Trump trocaram contatos e combinaram que vão estabelecer um canal direto de comunicação.

> “Essa troca de contatos mostra que o Rubio não vai ter como dar o tom dessa conversa”, afirmou. “Rubio e sua equipe pararam de postar coisas contra o Brasil, o que mostra certo enquadramento. É um indício de que a Casa Branca continuará conduzindo as negociações. Rubio não vai poder criar problema.”

CASA BRANCA PROCUROU EMBAIXADA

Segundo fontes do governo, a organização do telefonema entre Lula e Trump foi feita sem a participação do Departamento de Estado, o que demonstra a centralização que existe hoje em Washington.

Para viabilizar a conversa, a Casa Branca procurou a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, que, por sua vez, acionou o Palácio do Planalto.

Já de acordo com diplomatas do Itamaraty, as manifestações agressivas de Rubio e de auxiliares dele no Departamento do Estado nos últimos meses “correram numa linha determinada por Trump e, se a Casa Branca mudou a linha, não há como ser diferente no Departamento de Estado. Lá manda uma pessoa e o resto cumpre.”

Rubio tem relação antiga com o chanceler Mauro Vieira, da época em que ele era senador e o brasileiro atuava como embaixador em Washington. Os dois tiveram uma reunião presencial em julho, na capital americana, e têm mantido conversas por mensagens.

O governo brasileiro também relativiza a influência do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho de Jair Bolsonaro, e do blogueiro Paulo Figueiredo junto a Rubio.

Segundo fontes diplomáticas, os apoiadores do ex-presidente brasileiro têm interlocução com figuras do segundo escalão do Departamento de Estado e de outros órgãos da administração Trump, sem relação direta com Rubio.

O QUE FEZ TRUMP MUDAR A LINHA?

O governo brasileiro aponta três fatores principais para explicar a mudança de postura de Trump em relação ao governo Lula: ao trabalho diplomático, pressão do setor privado e uma percepção de que a tática de pressionar o judiciário brasileiro não surtiu efeitos.

No entendimento de fontes do governo, os bolsonaristas venderam a Trump a ideia de que haveria uma grande mobilização no país contra o governo Lula e contra o Supremo Tribunal Federal (STF) o que poderia impactar o julgamento de Bolsonaro ou mesmo permitir a aprovação de uma anistia no Congresso. Nada disso aconteceu.

O Congresso parou de discutir a anistia e mesmo o debate sobre a redução de penas para os golpistas está enfraquecido. Além disso, a pressão via tarifaço e sanções não só não influenciou o Supremo como acabou fortalecendo a imagem do governo Lula.

Fontes do governo destacam o papel da diplomacia nas diversas frentes de diálogo de demonstrar ao governo norte-americano, de forma paciente e sem entrar em desespero, como o cenário pintado pelos bolsonaristas era irreal.

Por fim, há uma avaliação de que a atuação dos setores econômicos dos dois países, que atuaram de forma articulada, somada à pressão inflacionária interna, ajudaram a criar as condições para uma guinada de Trump.

“Eles não tem como dar um cavalo-de-pau no tarifaço, mas estão criando as condições para recuar. Pode demorar, se estender até as eleições de 2026, mas pode ser que no curto prazo já haja algum alívio”, afirmou um diplomata brasileiro, citando a possibilidade de Trump ampliar a lista de produtos brasileiros sem incidência da sobretaxa de 50%.

Box de Notícias Centralizado

🔔 Receba as notícias do Diário do Estado no Telegram e no WhatsApp