O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) recebeu nesta quinta-feira (9) a primeira obra de sua história dedicada à celebração da cultura afro-brasileira. A instalação inédita de um machado sagrado do Candomblé, símbolo de força, justiça e ancestralidade, marca um momento histórico de valorização das tradições de matriz africana dentro de uma das principais instituições públicas do país. A peça foi criada pelo artista Diego de Oxóssi e faz referência ao Oxê de Xangô, o machado duplo que representa a imparcialidade e o equilíbrio – valores centrais tanto na tradição do Candomblé quanto no exercício da Justiça.
A obra ficará exposta em uma cúpula de madeira e vidro na biblioteca do TJ-SP, estrutura especialmente projetada para evidenciar o cuidado com a simbologia e a estética do ritual. “Queremos que o Oxe de Xangô seja reconhecido como uma expressão artística e cultural de grande importância, celebrando nossas raízes e tradições”, afirma Diego. O artista explica que a presença do machado sagrado dentro do tribunal reforça o diálogo entre tradição, arte e instituições públicas, destacando a importância da representatividade afro-brasileira em espaços simbólicos de poder.
Na cultura iorubá, Xangô, Orixá dos trovões e relâmpagos, é reconhecido por sua sabedoria, seu equilíbrio e seu comando. Considerado o guardião da justiça e protetor dos desfavorecidos, ele simboliza a luta contra as injustiças e a defesa da verdade. O Oxê, seu machado duplo, representa neutralidade e equilíbrio, virtudes indispensáveis às cortes terrenas e celestiais presididas por Xangô. Sua presença em um ambiente judicial, como o Tribunal de Justiça, reforça esses princípios e reconhece o valor das expressões espirituais e culturais afro-brasileiras, por muito tempo marginalizadas.
Em dezembro de 2024, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) foi o primeiro órgão do Judiciário brasileiro a instalar um símbolo de matriz africana: o “Oṣẹ Mimọ Ṣàngó”, conhecido como Machado Sagrado de Xangô. Agora, o TJ-SP segue o mesmo caminho, ampliando o espaço de visibilidade para as tradições afro-brasileiras dentro do sistema judicial do país. Este gesto de reconhecimento e valorização da cultura afro-brasileira ressalta a importância da diversidade e da inclusão nos espaços de poder e justiça no Brasil.