Cadeirante atropelado no semáforo: Prefeitura estima alta de 47% de moradores em situação de rua em Ribeirão Preto
Secretaria de Assistência Social estima que pessoas em vulnerabilidade podem chegar a 2,5 mil este ano. Esta semana, cadeirante em situação de rua foi atropelado ao pedir doação em semáforo.
Cadeirante é atropelado na Avenida Caramuru em Ribeirão Preto, SP — Foto: Reprodução/Câmeras de segurança
Cadeirante é atropelado na Avenida Caramuru em Ribeirão Preto, SP — Foto: Reprodução/Câmeras de segurança
O atropelamento de um cadeirante em situação de rua esta semana na zona sul de Ribeirão Preto (SP) levantou um alerta para o crescimento da população em vulnerabilidade social no município se expondo a riscos no trânsito para pedir ajuda.
A sensação, observada em avenidas importantes da cidade, é confirmada pela Secretaria Municipal de Assistência Social, que estima um aumento de 47% no total de pessoas nessa condição: de 1,7 mil levantados até setembro do ano passado para uma projeção de 2,5 mil este ano, segundo o secretário Julio Balieiro.
Ao mesmo tempo em que cita ações que o município está adotando para fazer frente ao problema (entenda mais abaixo), ele reconhece as limitações para atuação dos assistentes sociais, que não podem proibir as pessoas de pedirem doações, mesmo que estejam no meio de uma rua movimentada, colocando ele e outros em perigo.
O próprio DE vítima do atropelamento, de acordo com Balieiro, já tinha passado pelo acolhimento do município, mas decidiu voltar para a rua. “O maior problema nosso é quando a pessoa não quer ir, eu não posso obrigar. (…) Nós lamentamos porque foi apresentado o serviço para ele e ele não quis, ele optou em ficar na rua.”
O cadeirante que pedia doações em um semáforo foi atropelado na última quarta-feira (8) por volta das 10h40, no cruzamento da Avenida Caramuru com a Rua Cairu, no Jardim Sumaré. Imagens de uma câmera de segurança mostram o momento em que os veículos começaram a se movimentar com a abertura do semáforo (veja abaixo).
O homem na cadeira de rodas, de 49 anos, permaneceu no meio da via, entre carros, motos e caminhões que passavam. Em determinado momento, ele foi atingido pelo motorista de um carro branco e lançado cerca de dez metros à frente. A vítima foi levada para a Santa Casa e seguia internada com quadro de saúde estável.
PROBLEMA CRESCENTE E ESTRUTURA LIMITADA
Segundo Balieiro, 80% dos moradores em situação de rua são de outros municípios, enquanto 20% são de Ribeirão Preto. A disponibilidade de serviços de acolhimento na maior cidade da região metropolitana é um dos fatores que ajudam a explicar essa migração, de acordo com ele. “A maioria alega que nas cidades por que eles passam não tem o serviço que Ribeirão Preto tem. A nossa demanda acaba até aumentando, porque Ribeirão Preto acaba sendo a cidade”, diz.
Limitada, a atual estrutura de acolhimento consiste em assistentes sociais, centros de acolhimento imediato, os chamados centros POP (Centros de Referência Especializado para a População em Situação de Rua), e locais de permanência temporária, as casas de passagem, que têm o intuito de fazer uma ressocialização, por meio do direcionamento para oportunidades de emprego, tratamentos médicos – em caso de vício em drogas ou álcool – ou para as cidades de origem após o prazo de 90 dias de permanência.
“O nosso serviço de abordagem faz um trabalho de convencimento com as pessoas quando elas não querem ir, conscientizando que a gente tem o serviço, que poderia ser melhor ficar com as nossas políticas públicas do que ficar na rua.”
Recentemente, o município também recebeu o “Pop Rua Jud”, mutirão da Justiça Federal em parceria com a Prefeitura que resultou no recâmbio de 25 pessoas para outros municípios, de acordo com Balieiro. “A gente está trabalhando para tentar pelo menos amenizar a situação que está acontecendo.”
AMPLIAÇÃO DE VAGAS E INTEGRAÇÃO DE SECRETARIAS
Ainda durante a campanha eleitoral, em seu plano de governo, o hoje prefeito Ricardo Silva (PSD) criticava a falta de integração das secretarias no que diz respeito à assistência social e a falta de direcionamento das pessoas em situação de rua.
Além disso, propôs medidas como a elaboração de um diagnóstico completo do município e iniciativas como a elaboração de um “projeto de vida” para as pessoas atendidas para o acolhimento ir além do simples ato de retirar o morador da rua. “Estabelecer políticas integradas para assistência à população em situação de rua, priorizando a localização de suas famílias e, enquanto isso, oferecendo abrigo com cultivo de hortas, cursos, atividades de lazer, reabilitação e reinserção no mercado de trabalho”, descrevia o plano.
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Balieiro explica que as mudanças no setor devem ser sentidas a partir do ano que vem, quando uma série de melhorias deve ser implementada.
Entre elas, ele menciona a ampliação de vagas nas casas de passagem, das atuais 200 para 350, bem como a reestruturação dos centros POP, inclusive com a inauguração de uma nova unidade perto da rodoviária, na região central, conhecido ponto de concentração de pessoas nessas condições.
O secretário também cita que, além de parcerias já existentes, como com a Secretaria Saúde, em breve deve haver um trabalho em conjunto com o Meio Ambiente para a inclusão dessa população por meio do plantio de hortas.
“Nós estamos montando um planejamento para que isso comece a sair do papel e passe para a prática. (…) Acredito que no ano que vem comece já a surtir efeito a partir de janeiro, fevereiro, porque a gente trabalha com orçamento dos anos anteriores.”
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