Jovem de 25 anos perde o movimento das pernas após realizar procedimento com fenol no Distrito Federal
Vítima realizou procedimento com fenol para aliviar dores crônicas causadas por uma endometriose profunda; ela acusa o médico de negligência. Conselho Regional de Medicina investiga o caso.
Jovem do DE fica sem movimento das pernas após procedimento com fenol
Uma jovem de 25 anos perdeu o movimento das pernas após passar por um procedimento com fenol no Distrito Federal. O tratamento foi indicado por um médico, para tratar a dor crônica da paciente causada por uma endometriose profunda.
Há cerca de um ano tratando os efeitos da endometriose, Bruna iniciou um novo tratamento com o médico Lucas da Silva França, anestesiologista na Clínica L’Essese, na Asa Sul. Foi ele quem prescreveu o tratamento com fenol, com a expectativa de dar fim às dores de Bruna.
O procedimento foi realizado em uma clínica particular da capital, mas não terminou conforme o esperado. Ao fim da cirurgia, Bruna conta que não conseguia ficar em pé, precisando do auxílio de cadeiras de rodas.
“A enfermeira me levou até o meu esposo, tentando me levar apoiando nela, só que quando ela me soltou, eu caí. Perdi os movimentos das pernas, perdi as forças das pernas… Depois disso eu comecei a sentir muita dormência, formigamento, tremor, muito tremor, e tudo isso depois da cirurgia”, contou Bruna.
Após perder o movimento das pernas, Bruna acusa o anestesiologista Lucas da Silva França de negligência médica. De acordo com ela, o especialista não informou a ela os riscos do procedimento.
O fenol é um composto orgânico usado na produção de plásticos e desinfetantes. Ele possui propriedades analgésicas e antissépticas, sendo utilizado em formulações tópicas para aliviar dores, como em tratamentos odontológicos e de garganta. Ele também é utilizado em tratamentos estéticos.
Bruna conta que o médico indicou o tratamento com fenol explicando que o produto iria “destruir os nervos que radiavam dor para o cérebro”, mas não a comunicou sobre os possíveis riscos da cirurgia e nem do uso do fenol.
Após a cirurgia com fenol, o neurocirurgião que acompanha Bruna atualmente, deu a ela o diagnóstico de paraparesia — perda parcial de movimento nas pernas, caracterizada por fraqueza e rigidez.
Desde então, a jovem utiliza morfina para as dores e precisa de cadeira de rodas para se locomover. Além disso, ela faz fisioterapia e hidroterapia para evitar a atrofia das pernas.
Imagens de Bruna realizando fisioterapia — Foto: Arquivo pessoal/Reprodução
Após perder o movimento das pernas, Bruna relata ter tido dificuldade em marcar um retorno com o médico responsável pelo procedimento e também pela clínica onde foi atendida.
Em meio à falta de retorno, a técnica de enfermagem entrou com um processo no Conselho Regional de Medicina (CRM) contra Lucas da Silva França, que abriu uma sindicância para apurar os fatos.
Bruna acusa negligência do médico responsável pelo procedimento. Em entrevista à TV Globo, ela afirma que assinou um termo de consentimento da anestesia, mas não que não foi informada sobre os riscos do procedimento ao qual foi submetida.
“Em respeito à sociedade e aos pacientes, a equipe médica responsável pelo atendimento mencionado na reportagem publicada pelo portal Metrópoles, sob o título “Mulher perde movimentos das pernas após suposta imperícia médica”, vem prestar os seguintes esclarecimentos:
Procedimento indicado dentro dos padrões científicos e éticos — O tratamento realizado foi indicado para um quadro de dor pélvica crônica refratária, resistente a múltiplas abordagens medicamentosas e fisioterápicas. A neurólise química do plexo hipogástrico superior com fenol é um procedimento previsto em protocolos internacionais de dor intervencionista, descrito em publicações médicas amplamente reconhecidas e adotado em centros especializados no Brasil e no exterior.
Técnica adequada, ambiente hospitalar e consentimento da paciente — O procedimento foi realizado em ambiente hospitalar, sob rigorosos protocolos de segurança e controle radiológico, com dispersão adequada do contraste e sem intercorrências imediatas. A paciente foi informada sobre riscos, benefícios e alternativas terapêuticas, tendo sido colhido Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, validado pela equipe de enfermagem e arquivado junto ao prontuário hospitalar.
Complicações médicas não configuram erro — É importante destacar que qualquer procedimento médico invasivo envolve riscos inerentes, ainda que executado com técnica correta e dentro dos parâmetros éticos. As complicações neurológicas relatadas na literatura para este tipo de tratamento são raras (1% a 2% dos casos) e não configuram imperícia, imprudência ou negligência quando todos os cuidados técnicos são observados, como ocorreu neste caso.
Investigação em andamento e colaboração integral — O caso encontra-se sob apuração pelas instâncias competentes, com defesa técnica e documentação médica completas já apresentadas. A equipe médica reitera sua total colaboração com o Conselho Regional de Medicina e com o Poder Judiciário, confiando na análise técnica e imparcial das autoridades para o pleno esclarecimento dos fatos.
Compromisso com ética, ciência e transparência — A equipe reafirma respeito e solidariedade à paciente e à sua família, e ressalta que qualquer divulgação precipitada de informações médicas sigilosas ou interpretações parciais pode gerar danos irreparáveis à honra e à reputação profissional.
Permanece o compromisso com a ciência, a ética e o cuidado humanizado, valores que norteiam toda a prática médica responsável.”