A expansão do Rio de Janeiro não se limitou apenas aos aterros sobre o mar: as próprias águas do continente foram aterradas para dar lugar a locais icônicos no Centro da cidade. Antes mesmo do Parque do Flamengo surgir, lagoas e brejos foram aterrados para moldar a região central, onde hoje se encontram construções emblemáticas como o Theatro Municipal. O avanço sobre as águas do continente é parte fundamental da história da transformação da cidade, que também enfrenta desafios atuais, como a aprovação de projetos que interferem em locais tombados historicamente, como no Castelo.
Outros pontos tradicionais do coração do Rio, como a região do Saara, também repousam sobre antigas lagoas. Por exemplo, o quadrilátero formado por diversas ruas e avenidas era originalmente ocupado por uma lagoa registrada com diferentes nomes ao longo do tempo. Na Lapa, o Circo Voador e a Fundição Progresso ocupam o espaço da antiga Lagoa do Desterro, evidenciando como a identidade da cidade foi moldada sobre vestígios aquáticos escondidos sob o solo urbano.
A história do Rio de Janeiro se entrelaça com a prática constante de aterros ao longo dos anos. Marcados por avanços e transformações, a cidade vivenciou uma expansão significativa nos últimos anos, sobretudo na Zona Sul, onde áreas como a Lagoa Rodrigo de Freitas encolheram quase pela metade devido aos aterros. Os dados do Instituto Pereira Passados revelam a extensão do avanço urbano sobre o mar, moldando a costa carioca de forma intensa ao longo dos séculos.
A variedade de aterros ao longo do Rio de Janeiro reflete a diversidade de funções e adaptações territoriais da cidade ao longo do tempo. Desde o início da ocupação, a prática de aterrar áreas alagadas tem sido uma constante, moldando a geografia e a identidade da cidade. Segundo o geógrafo Leandro Souza, os aterros desempenham diferentes funções em distintas localidades da cidade, mostrando como a transformação do espaço é uma forma de adaptação constante da cidade ao longo dos anos.
O desenho original da cidade, sobposto ao mapa atual, revela a extensão dos aterros que deram origem a diversas localidades e construções emblemáticas do Rio de Janeiro. Locais como o bairro da Urca, a Avenida Beira-Mar e a área em torno da Lagoa Rodrigo de Freitas são alguns dos exemplos que evidenciam como a cidade se reinventa constantemente através da prática dos aterros. O domínio sobre as águas do continente é parte essencial da história da cidade, que continua a se transformar e adaptar diante dos desafios da urbanização e preservação do patrimônio histórico.
Em meio a uma cidade em constante mutação, é importante compreender a importância dos aterros na construção da identidade do Rio de Janeiro e na adaptação da cidade às demandas urbanas. Os desafios atuais, como a conciliação entre o desenvolvimento urbano e a preservação do patrimônio histórico, são reflexo da complexa relação entre a cidade e suas origens aquáticas. Por meio do estudo e compreensão dos aterros ao longo dos tempos, podemos vislumbrar a evolução e as transformações que moldaram o cenário urbano carioca até os dias atuais.