Mergulhar no universo da bioeconomia tem sido uma oportunidade transformadora para mulheres em diversos territórios do Rio de Janeiro. O projeto “Artemísia – Escola de Mulheres e Bioeconomia” tem se destacado ao formar 500 pessoas em 10 localidades, incluindo Cabo Frio, Duque de Caxias, Magé, Mesquita, Paracambi, Realengo-RJ, Recreio dos Bandeirantes-RJ e São Gonçalo. Associativismo, empreendedorismo, sustentabilidade e geração de renda são os pilares desse projeto que tem levado autonomia e resistência para as mulheres participantes.
A bioeconomia, sistema econômico que utiliza recursos biológicos renováveis para a produção de bens e serviços, é a base para as atividades desenvolvidas no projeto. Cultivo de hortas comunitárias, manipulação de ervas medicinais e produção de sabonetes e cosméticos naturais são algumas das práticas que as mulheres têm desenvolvido, construindo caminhos não só para a geração de renda, mas também para a regeneração ambiental. A coordenadora Leila Araújo, da UFF, destaca a importância dessa iniciativa que envolve também o Instituto BR e o Sebrae-RJ.
O percurso formativo oferecido pelo projeto engloba temas como bioeconomia, empreendedorismo, identidade, comunicação, finanças e autocuidado, sempre considerando uma perspectiva interseccional e inclusiva. Mulheres como Amanda Machado, cabeleireira em São Gonçalo, têm visto suas perspectivas se ampliarem ao participar do projeto e aprender novas habilidades, como a produção de sabonetes naturais. Outras participantes como Fabiana da Silva estão colhendo os frutos de sua dedicação, vendendo produtos e encontrando novas oportunidades em suas comunidades.
Para Angélica Ribeiro, professora de saboaria, a desigualdade no Brasil se manifesta de forma ainda mais dura para mulheres negras, periféricas e com deficiência. O projeto de bioeconomia surge, então, como resposta e possibilidade para enfrentar essas adversidades, qualificando as mulheres para o associativismo, empreendedorismo e para a produção de produtos naturais, resgatando saberes tradicionais e promovendo a autonomia. Mais do que uma simples formação técnica, o Artemísia é um resgate da identidade e uma valorização da força coletiva presente em cada uma dessas mulheres.
A iniciativa tem recebido apoio da ONU, que reconhece e fomenta projetos de promoção da sustentabilidade como Soluções Baseadas na Natureza (SBN). O compromisso com a conservação dos ecossistemas, o fortalecimento das comunidades e o enfrentamento das mudanças climáticas está presente em todos os materiais e práticas do projeto. Além disso, a linguagem acessível e a identidade visual do projeto, assinada por Camilla Muniz, reforçam o compromisso com a inclusão e a sensibilidade em todas as etapas do Artemísia.
A ação já está na segunda etapa e tem gerado impactos positivos em diversas áreas. A valorização de práticas naturais e o cuidado como potência econômica são pontos-chave desse movimento de reconexão com a terra e com as raízes culturais. Mulheres como Amanda, Fabiana e tantas outras têm encontrado no Artemísia não apenas um curso, mas sim uma possibilidade de transformar suas vidas e de suas comunidades, gerando renda e preservando vínculos afetivos, culturais e ambientais. O projeto segue seu caminho, mostrando que a bioeconomia não é apenas uma tendência, mas sim um modo de fortalecer mulheres em sua autonomia e resistência.