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Trabalho e cuidado da família continuam sendo o principal dilema para mulheres

Apesar da desigualdade de gênero ainda prevalecer em diversos aspectos, a mulher vem avançando em conquistas. Estudo da Escola Nacional de Seguros com dados do PNAD/IBGE aponta para um crescimento do número de lares onde a mulher passou a ser referência em casa, mesmo com a presença de um cônjuge. Nas grandes corporações, mesmo com mais anos de estudo e salário menor comparativamente aos homens, elas já ocupam 13,6% das vagas de alta direção, segundo estudo do Instituto Ethos; companhias que colocaram 30% de mulheres no comando tiveram aumento de 15% rentabilidade.  Contudo, elas ainda carregam o peso cultural de serem responsáveis pela casa e criação dos filhos – em média, elas ocupam 20,9 horas por semana com os cuidados da casa, o dobro do que o homem segundo PNAD/IBGE -, o que ainda cria para elas o dilema: cuidar da família, da carreira ou dos dois?

Mesmo para as que tem a opção de escolher por um ou outro, a decisão é sempre carregada de culpa e sofrimento, analisa a especialista em desenvolvimento humano, Karina Duarte. Ela explica que a mulher ainda sofre muito pelo julgamento social a respeito suas escolhas –  e isso inclui a crítica das próprias mulheres. “Inconscientemente, acontece o seguinte processo: quem trabalha, olha para a mulher que escolheu cuidar dos filhos, sente-se mal por não estar fazendo o mesmo e, para se sentir um pouco melhor, a critica. O mesmo acontece com a situação inversa”, diz.

Para ela, não existe certo ou errado para essa escolha, mas sim o que cada mulher define ser melhor para si. “Por isso, é tão importante o autoconhecimento. Apesar de ser incentivada pela família a estudar e ter uma profissão, a falta de clareza do que se quer é grande entre as mulheres porque, historicamente, ela é criada para agradar a todos e ainda temos dificuldade descobrir qual é a nossa própria vontade”, diz.

Seja qual for a escolha, Karina lembra que o importante é se planejar.  “Para quem deseja dar uma pausa na carreira para cuidar da família, existe um reserva financeira para possíveis emergências? Tenho recursos para investir em uma atualização quando resolver retornar?”, recomenda a especialista em desenvolvimento humano.

Para as que desejam conciliar as atividades de cuidar da família e trabalhar, administrar o tempo passa a ser o maior desafio. É preciso também negociar com o companheiro a divisão das atividades da casa e dos filhos. Embora exista uma grande diferença nas taxas de realização de afazeres domésticos entre homens (76,4%) e mulheres (91,7%), de acordo com dados do IBGE comparando este hábito entre 2016 e 2017, vem crescendo o número de homens que se dedicam aos afazeres domésticos (aumento de 4,5%) e ao cuidado com pessoas (crescimento de 27,6%)

“A gente vê uma mudança de cultura, mais presente em grandes centros, sobretudo graças à persistência da mulher em não desistir de realizar seus projetos, sejam eles de forma intercalada ou concomitantemente. O fato é que tem jeito para tudo”, diz ela.