Indígenas resgatados no Paraná viviam em situação de servidão por dívida: auditor fiscal. Resgate de 57 vítimas é um dos maiores na região.

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Indígenas resgatados no Paraná viviam ‘situação de servidão por dívida’, com gastos em alimentação anotados em caderno para serem descontados de salário que eles sequer receberam, de acordo com um auditor fiscal do trabalho. A Auditoria-Fiscal do Trabalho constatou que o número total de vítimas chega a 57, sendo 46 indígenas da etnia Guarani Kaiowá, todos provenientes do Mato Grosso do Sul. Esse resgate é considerado um dos maiores dos últimos anos na região do Paraná.

Os indígenas foram resgatados em Itambé, no norte do Paraná, em condições análogas à escravidão. Eles eram obrigados a registrar em um caderno todos os gastos realizados em um mercadinho, os quais seriam descontados de um salário que jamais foi pago às vítimas. O auditor fiscal, Edvaldo dos Santos Rocha, ressaltou que essa prática caracteriza uma situação de servidão por dívida, na qual os trabalhadores acabam presos em um ciclo de endividamento.

Ao todo, 57 trabalhadores foram resgatados, tendo 46 deles da etnia Guarani Kaiowá. Todos eles foram levados do Mato Grosso do Sul com a promessa de emprego em uma usina. A operação que resultou no resgate dos trabalhadores foi coordenada pela Auditoria-Fiscal do Trabalho. Após receberem seus pagamentos, os trabalhadores puderam retornar ao seu estado de origem, com escolta da Polícia Rodoviária Federal.

Conforme relato do auditor Edvaldo, o caderno encontrado com as anotações de gastos confirma a situação de servidão por dívida, na qual os trabalhadores eram obrigados a adquirir dívidas que eram pagas com sua mão de obra. Com base nos depoimentos colhidos, a Secretaria de Inspeção do Trabalho estima que a dívida totalize cerca de R$ 45 mil.

Uma negociação entre o Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Polícia Federal resultou no comprometimento da usina Renuka Vale do Ivaí S/A em quitar todas as verbas salariais e rescisórias por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). Um inquérito civil contra as empresas envolvidas está em curso, visando a tomada de medidas tanto na esfera extrajudicial quanto judicial, além da proposição de uma ação civil pública com pedido de dano moral coletivo.

Os trabalhadores, abandonados no alojamento após o rompimento contratual entre as empresas envolvidas, foram impedidos de entrar na usina e ficaram privados de alimentação. A situação descrita pelos auditores-fiscais do Trabalho foi considerada a maior resgate de trabalhadores em condições análogas à escravidão registrado no Paraná nos últimos anos. A usina e a empresa terceirizada, Manutec Manutenção e Conservação LTDA, cooperam com as autoridades para a resolução do caso.

A Manutec, que já não mantém vínculo com a usina desde outubro de 2025, relatou questões financeiras e estruturais que prejudicaram suas operações. A empresa foi a primeira a denunciar oficialmente as irregularidades, demonstrando compromisso com a legalidade e repúdio a qualquer forma de violação trabalhista. O sistema Ipê, disponibilizado pela Organização Internacional do Trabalho, é um canal para denúncias de trabalho escravo, permitindo relatos anônimos para que a fiscalização possa agir. A denúncia é essencial para combater práticas desumanas e ilegais.

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