Ritual japonês em homenagem aos mortos ilumina represa do Paraná com milhares de lanternas flutuantes; conheça o Tooro Nagashi
Celebração é realizada em Carlópolis por descendentes de japoneses e está na 44ª edição. A adesão é tão grande na comunidade que é necessário usar um caminhão para levar ‘barquinhos’.
Um ritual japonês ilumina a represa do Paraná com lanternas flutuantes.
Há mais de 40 anos, uma tradição japonesa milenar encontrou espaço – e criou raízes – no interior do Paraná. Trata-se do Tooro Nagashi, um ritual que, por meio de lanternas flutuantes nas águas, homenageia familiares que se foram. A cerimônia, que tem origem no budismo, ficou popular em Carlópolis, no Norte Pioneiro do estado. A cidade, que tem pouco mais de 16 mil habitantes segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem forte influência da comunidade nipo-brasileira, que se estabeleceu na região após a Segunda Guerra Mundial.
Neste ano, o Tooro Nagashi será realizado neste sábado (25) em uma celebração que mistura saudade, fé e respeito. No ritual, cerca de mil lanternas são lançadas na Represa Chavantes para iluminar o caminho dos ancestrais falecidos. Lucas Xavier, membro da diretoria da Associação Cultural e Esportiva de Carlópolis (ACECAR), explica que cada lanterna flutuante é feita com uma vela envolta por uma base de madeira e coberta com papel manteiga colorido, o que gera um efeito visual mágico na água. Depois de serem colocadas na água, as velas seguem o caminho da correnteza carregando nomes escritos à mão por familiares que não deixam as memórias dos antepassados serem apagadas com o tempo. A celebração possui adesão tão grande na comunidade da região que é necessário usar um caminhão para levar os mais de mil Tooros produzidos para o momento.
Tooro significa lanterna de papel e Nagashi significa algo como “flutuar” ou “deixar levar”.
A HISTÓRIA DO TOORO NAGASHI NO PARANÁ
O ritual do Tooro Nagashi foi iniciado em Carlópolis em 1982, com os imigrantes japoneses Katsuo Yamamoto, Sunao Ito, Takai Minoro, Saito Iti e Saito Issaburo. A vinda deles ao Brasil foi após a 2ª Guerra Mundial, em busca de uma nova vida e mantendo vivas as tradições culturais. Katsuo Yamamoto, por exemplo, chegou ao país em 1949. Aos 90 anos, Kenzi Yamamoto, filho dele, permanece em Carlópolis e ainda participa das celebrações.
No dia do evento, em Carlópolis, o ritual do Tooro Nagashi deve ser o último final de semana de outubro. Os associados da ACECAR que organizam e também fazem a produção dos Tooros dias antes da celebração. São aproximadamente 65 famílias de japoneses e de descendentes associadas. Antes que cada um deles ilumine a represa, o dia todo é repleto de celebrações organizadas pela Acecar: recepção dos convidados, cerimônia religiosa budista e jantar com comidas típicas japonesas. Neste culto, cada nome de antepassados homenageados é lido por um monge como forma de agradecimento e pedido de bênçãos. De acordo com a ACECAR, atualmente são esperados cerca de 500 visitantes que participam dos ritos religiosos da data. Essas pessoas são, na maioria, moradoras do Paraná e São Paulo e formam até mesmo caravanas para o deslocamento. Em diversas edições, o cônsul-geral do Japão também esteve presente. Até que o último Tooro esteja na água, todo rito é feito com reza do monge. É desta forma que a celebração também promove a reunião familiar e transmissão de valores ancestrais. Neste ano, conforme a Secretaria de Turismo do Paraná, o início do evento está previsto para 14h e encerramento às 20h. Os Tooros serão soltos na Ilha do Ponciano, na Represa Chavantes, e qualquer pessoa pode acompanhar a cerimônia. Na manhã do dia seguinte à cerimônia, grupos de pessoas saem para recolher os Tooros.
Portanto, o Tooro Nagashi é uma tradição japonesa que encontrou solo fértil no Paraná, iluminando a represa com lanternas flutuantes em uma emocionante homenagem aos entes queridos que se foram. O ritual demonstra a força da cultura e da comunidade japonesa na região, promovendo a união e a celebração das memórias dos antepassados de forma simbólica e vívida.




