Cemitério de escravizados em Salvador abriga mais de 100 mil corpos: pesquisa e descobertas no estacionamento da Pupileira.

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Cemitério encontrado em estacionamento de Salvador abriga corpos de mais de 100 mil escravizados, aponta pesquisa

Resultados da escavação foram apresentados em reunião com representantes do Ministério Público e Iphan. Mesmo após descobertas, local segue sendo usado como estacionamento.

Arqueólogos encontram primeiras ossadas no cemitério de escravizados em Salvador

O Cemitério de Escravizados encontrado no estacionamento da Pupileira, na Santa Casa de Misericórdia, em Salvador, abriga os corpos de mais de 100 mil pessoas. De acordo com o Ministério Público da Bahia (MP-BA), os resultados da pesquisa arqueológica foram apresentados em uma reunião no dia 21 de outubro.

O local pode ser o maior cemitério de escravizados da América Latina. Além de representantes do MP-BA e de arqueólogos envolvidos na pesquisa acerca do cemitério, a reunião contou com a presença de representantes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), da Fundação Gregório de Matos (FGM) e do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural do Estado da Bahia (Ipac).

O local foi descoberto durante a pesquisa de doutorado da arquiteta urbanista Silvana Olivieri, desenvolvida na Universidade Federal da Bahia (Ufba). Após comparações de mapas da época e fotos de satélite atuais, ela identificou o cemitério no estacionamento que fica no centro de Salvador. (Saiba mais sobre a pesquisa ao fim da reportagem)

As escavações no estacionamento começaram em 14 de maio deste ano. No terceiro dia de trabalho, os arqueólogos encontraram os primeiros vestígios: fragmentos de objetos e porcelanas do século 19. Cerca de 10 dias depois, as primeiras ossadas foram achadas.

Mesmo após os vestígios serem encontrados, o local segue sendo utilizado como estacionamento. De acordo com o MP-BA, representantes do Iphan recomendaram que a Santa Casa suspenda o uso do espaço.

Além disso, a pesquisadora Silvana Olivieri pediu que o cemitério seja reconhecido como ‘Sítio Arqueológico Cemitério dos Africanos’, solicitação já encaminhada ao Iphan.

O cemitério foi inicialmente administrado pela Câmara Municipal e, em seguida, passou a ser de responsabilidade da Santa Casa. Registros históricos apontam 150 anos de atividade até 1844, quando a instituição comprou e começou a operar o Cemitério Campo Santo, localizado no bairro da Federação.

De acordo com as pesquisas, as pessoas enterradas no local são, em sua maioria, escravizados. Os registros ainda mostram que indígenas, integrantes da comunidade cigana e pessoas que não tinham como custear o enterro também tiveram os corpos descartados no local.

Também há possibilidade de pessoas que participaram da Revolta dos Malês, dos Búzios e da Revolução Pernambucana tenham sido enterradas no cemitério.

Ainda conforme as pesquisas, os sepultamentos eram feitos em vala comum e superficiais, sem nenhuma cerimônia religiosa.

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