Estudantes acusam professor de assédio na Unesp de Franca, SP: episódios de abuso são investigados

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Universitários acusam professor de assédio e agressões no interior de SP; polícia e Unesp apuram denúncias

Supostos episódios de abuso motivaram manifestação que acabou em confusão no campus de Franca (SP) em setembro. Polícia Civil diz que realiza diligências complementares, enquanto universidade garante apurar casos com ‘máxima seriedade e responsabilidade’.

Universitários acusam professor de assédio e agressões na Unesp de Franca, SP

Estudantes da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Franca (SP) acusam de assédios sexuais e de agressões um professor do curso de relações internacionais. Eles formalizaram as denúncias à Polícia Civil e à direção da faculdade, que informaram ao DE que estão investigando os episódios.

O docente acusado é Gabriel Cepaluni, que está afastado das funções devido a uma condição médica não divulgada. À reportagem, ele repudiou as acusações, das quais tratou como “falsas e distorcidas”, e disse ter sido vítima de agressão física e moral.

O escritório de advocacia que o defende também foi procurado, mas não se posicionou até esta publicação.

Segundo a estudante Gabrielle Nascimento, que integra o Centro Acadêmico de Relações Internacionais (Cari) e está à frente das denúncias, os casos mais recentes de assédio sexual começaram no início deste semestre, quando Cepaluni voltou a atuar após um período de afastamento.

“A gente tem no início deste semestre o retorno do professor Gabriel Cepaluni. Ele já era acusado anteriormente por ex-alunas de situações de constrangimento com teor sexual. Ele ficou em afastamento durante bastante tempo por diversas questões. Ele voltou neste semestre e, no pouco tempo em que ele deu de aula, a gente, do Centro Acadêmico, passou a receber diversas denúncias de acusar ele desse tipo de comportamento que foi entendido enquanto assédio sexual e moral.”

Gabrielle conta que, diante disso, algumas estudantes chegaram, inclusive, a deixar de frequentar as aulas do professor.

“A gente tem diversos relatos que retratam o constrangimento sendo realizado em ambiente de sala e fora da universidade: incitações sexuais, sugestões sexuais que eram feitas bastante em entrelinhas, mas que colocavam as alunas nessa posição de bastante desconforto, de ataque e constrangimento. A gente passou a receber essas denúncias, mas que, em muitas vezes, não eram formalizadas por um receio de que elas não fossem tratadas como um assédio de fato e também por medo de retaliação.”

Estudantes fizeram ato na Unesp de Franca, SP, contra professor acusado de assédio — Foto: Arquivo pessoal

O QUE FOI FEITO PELOS ESTUDANTES?

A situação levou os estudantes a montarem um dossiê com 11 denúncias relatadas e entregá-lo à direção da Unesp.

“Essa foi a forma que a gente encontrou de fazer uma denúncia que fosse coletiva, que demonstrasse um comportamento constante e insistente desse tipo de assédio sexual. Nosso intuito desde o começo era de que a Unesp tomasse ciência do caso e pudesse averiguar.”

Além disso, os universitários se organizaram e realizaram um ato na universidade no dia 2 de setembro, durante um período em que o professor ministraria uma aula.

“A gente se organiza para mobilizar um ato que fosse contra o assédio e também para boicotar uma aula daquele docente, para que a Unesp tomasse conta do caso, afastasse-o preventivamente, também para que ele não pudesse ministrar aquela aula e para que as estudantes não fossem colocadas no mesmo ambiente que elas tinham sido assediadas.”

ATO, CONFUSÃO E AGRESSÕES

A manifestação reuniu aproximadamente 100 pessoas e, segundo os organizadores, iniciou-se de forma pacífica.

“A gente puxa palavras de ordem contra o assédio, a gente passa a tratar esse como um problema da universidade como um todo, como uma questão que afasta as estudantes da universidade, como esses casos são preocupantes e como eles devem ser tratados com seriedade”, afirma Gabrielle.

No entanto, ainda de acordo com a estudante, Cepaluni compareceu ao ato e provocou as pessoas que manifestavam contra ele, o que gerou uma primeira agitação.

“O professor chega a esse ato e assume uma postura bastante provocativa, bastante debochada em relação ao ato, em relação às acusações. Ele assume um tom bastante sarcástico, ele zomba das acusações, começa a agitar o bloco de estudantes. A gente assume a frente do bloco e fala para ele se dirigir ao bloco administrativo para lidar com esses temas com a própria administração da Unesp.”

Gabrielle cita que o professor chega a ir à administração, mas retorna ao protesto e tenta passar pelos estudantes. É nesse momento que, ainda de acordo com o relato, o docente profere xingamentos e agride alguns dos universitários.

“Ele tenta ultrapassar a todo custo, fura esse bloco à base de cotovelada, empurrão, xingamento, até que ele chega à outra ponta do bloco e perde a cabeça: vai para cima das estudantes, tem a cena do estudante que está puxando ele para trás, tentando tirar ele de cima das estudantes. Nesse momento, ele atinge um soco na mandíbula de um estudante e atinge mais três estudantes com cotoveladas fortes.”

Após a confusão, tanto os estudantes quanto o professor procuraram a Polícia Civil para registrar um boletim de ocorrência por lesão corporal e fazer exame de corpo de delito.

Manifestação contra episódios de assédio terminou em confusão na Unesp de Franca, SP — Foto: Arquivo pessoal

INVESTIGAÇÃO DA POLÍCIA CIVIL

Procurada, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP) informou que o inquérito policial instaurado pelo 3º Distrito Policial de Franca foi encaminhado à Justiça, mas retornou, com base em um pedido do Ministério Público, para o cumprimento de diligências complementares, como laudos periciais.

“Um laudo pericial está em elaboração e, assim que concluído, será anexado aos autos para análise das autoridades competentes. A equipe da unidade segue empenhada em outras diligências para o completo esclarecimento dos fatos.”

APURAÇÃO DA UNESP

Já a Unesp garantiu estar tomando as medidas cabíveis e apurando os casos com “máxima seriedade e responsabilidade”, e repudiou “toda forma de violência e qualquer ato que atinja a integridade física de nossa comunidade acadêmica”.

A universidade reforçou que, no dia 5 de setembro, instaurou um procedimento de apuração preliminar, com prazo inicial de conclusão em 30 dias. Porém, esse prazo já foi prorrogado por mais 30 dias.

“Reforçamos o compromisso de nossa instituição com a ética, o respeito mútuo e o bem-estar coletivo na Universidade. As medidas cabíveis estão sendo tomadas, respeitando o devido processo legal, a manifestação do contraditório, o amplo direito de defesa das partes envolvidas e a promoção dos direitos humanos”, complementou.

Por fim, a instituição explicou que, em setembro, o professor recebeu um afastamento de 90 dias após passar por perícia médica. As causas da perícia não foram divulgadas.

Campus da Unesp em Franca, SP — Foto: Valdinei Malaguti/EPTV

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