A operação policial mais letal do Brasil deixou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atordoado e lutando para lidar com as consequências políticas, enquanto ele tenta conciliar as preocupações internacionais sobre as violações dos direitos humanos com o crescente apoio público à repressão ao crime. Essa divisão ressalta um desafio mais amplo enfrentado por Lula, que já anunciou que concorrerá à reeleição no ano que vem e dedicou seu capital político a uma ‘transformação ecológica’ da economia brasileira, culminando na conferência climática da ONU COP30, que começa nesta semana, enquanto a maioria dos brasileiros está mais preocupada com a segurança pública. A operação de 28 de outubro nos complexos de favelas do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, resultou em pelo menos 121 mortes, incluindo quatro policiais. O nível de violência atraiu forte condenação das autoridades das Nações Unidas, que pediram investigações imediatas e independentes sobre possíveis mortes ilegais. Desde então, ativistas realizaram protestos no Rio enquanto os corpos eram identificados. Lula criticou a operação durante entrevista na terça-feira em Belém, chamando-a de ‘desastrosa’. ‘A ordem do juiz era uma ordem de prisão, não uma ordem de matança, e houve matança’, disse. Autoridades do governo federal disseram que Lula não foi avisado previamente da operação. Ele estava voltando da Malásia em um avião sem acesso à internet quando ela ocorreu. Desde então, ele tem se mantido discreto e seu governo ‘está pisando em ovos’, de acordo com uma fonte do Palácio do Planalto. ‘O governo não pode se responsabilizar por isso, mas também não pode apoiar esse massacre’, disse uma segunda fonte. Em um relatório ao Supremo Tribunal Federal, o governo do Estado do Rio defendeu a operação, alegando que as forças de segurança usaram ‘força proporcional’ e que ‘não foram registradas mortes entre indivíduos fora da organização narcoterrorista’, sugerindo que as ações policiais foram direcionadas. APOIO À AÇÃO POLICIAL Apesar da brutalidade da operação, novas pesquisas de opinião sugerem um amplo apoio interno à ação policial. Uma pesquisa nacional realizada pela AtlasIntel e publicada na sexta-feira mostrou que 55% dos brasileiros apoiaram a operação policial, com o apoio subindo para 62% entre os residentes do Estado do Rio. Os resultados destacaram os desafios políticos enfrentados por Lula, cujo governo tem se esforçado para atender às demandas dos eleitores por políticas de segurança mais rígidas. ‘Bandido bom é bandido morto’, disse o morador do Rio Adeilton da Silveira, 65 anos, que trabalha como porteiro na área de Copacabana. ‘Se eles fizessem toda semana um negócio desses, os bandidos teriam medo.’ A direita política do Brasil agiu rapidamente para capitalizar a operação. O governador do Rio, Claudio Castro (PL), um aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, que ordenou a operação, ganhou 10 pontos percentuais nos índices de aprovação após a ação policial, segundo uma pesquisa separada realizada pela Genial/Quaest no domingo. O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), também está apoiando Castro. Em uma entrevista, ele disse que é surpreendente que o crime organizado não só tenha tomado conta do Rio de Janeiro, mas também tenha se espalhado por outras grandes cidades e capitais estaduais em todo o Brasil, embora o país não seja um grande produtor de drogas e não fabrique armamentos pesados. Analistas políticos e políticos de direita estão traçando paralelos com a popularidade das políticas antigangues do presidente de El Salvador, Nayib Bukele, que restringem o devido processo legal no país centro-americano. ‘A experiência de El Salvador mostra que é possível, mas é necessário um governo que queira atuar aqui no Brasil’, disse o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), em uma entrevista à Reuters na segunda-feira. Zema disse que ele e cinco outros governadores se reuniram com Castro dois dias após a operação policial para parabenizá-lo e as forças de segurança do Rio de Janeiro, dizendo que os mortos ‘tiveram a chance de se entregar, de se render e só não o fizeram aqueles que não quiseram.’ TEMORES DE MAIS VIOLÊNCIA Apesar de Castro ter apresentado a operação como um sucesso, a pesquisa Genial/Quaest sugeriu que a operação não tranquilizou muito o público, com a maioria dos moradores do Rio relatando que se sentiam menos seguros. ‘A consequência é mais violência’, disse o atendente de estacionamento Paulo Henrique Machado Cruz, de 54 anos, do Rio. ‘Não resolve o problema, só piora, traumatiza a comunidade, assusta as crianças, destrói famílias.’ O Supremo Tribunal Federal (STF) pode responder às exigências dos políticos de esquerda para investigar a violência policial no Rio, o que também poderia desencadear uma investigação federal da operação. Fontes próximas a Lula temem que o episódio possa minar seus ganhos recentes nas pesquisas de opinião antes das eleições de 2026, e é provável que as consequências continuem à medida que as investigações se desenrolam. O índice de aprovação do governo de Lula subiu para 33% em setembro, o mais alto deste ano, enquanto a desaprovação caiu para 38%, de acordo com a última pesquisa Datafolha. Na segunda-feira, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, viajou ao Rio para liderar uma reunião de alto nível sobre a operação policial, juntamente com Castro, autoridades policiais e representantes do Ministério Público e da Defensoria Pública. Moraes está supervisionando um caso legal histórico no STF que questiona o uso da força pela polícia do Rio nas favelas.




