Verticalização em Salvador: história, impactos e perspectivas futuras

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Edifícios Oceania, Apolo 28 e Marte: como começou e se desenvolveu a verticalização em Salvador

Movimento, que teve boom na década de 1960, tende a crescer daqui para frente. Assunto foi abordado no Enem 2025, está em música e é tema de projeto de lei que espera sanção da prefeitura.

Arquiteto e urbanista critica verticalização em Salvador
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O termo verticalização pode ser uma novidade para algumas pessoas, porém o movimento começou muitos anos atrás, conforme a população crescia e o setor imobiliário também. Apesar de ser datado em 1920 em outras cidades, em Salvador, o início aconteceu no ano de 1943, com a inauguração do Edifício Oceania, na orla da Barra.

Mas o boom veio mesmo nas décadas de 1960 e 1970, com a construção de outros grandes prédios. Nesta faixa histórica, se destacam os edifícios Apolo 28 e Marte, ambos localizados no Corredor da Vitória, um dos metros quadrados mais caros da cidade.

É o que destaca o arquiteto e urbanista Francisco Senna, que lançou na quarta-feira (12) o livro “Salvador – Grandes Obras”, ao lado da jornalista e doutora em antropologia Cleidiana Ramos. Editada pela Caramurê, a obra traz uma extensa pesquisa sobre a evolução do município, e a verticalização integra esse movimento.

> “A gente não pode deixar de compreender que isso é um processo histórico universal, que a verticalização nas grandes metrópoles é mais do que necessário, porque senão não se resolve a questão de unidades habitacionais em um espaço mais reduzido”, pontuou o autor, em entrevista ao DE.

No início, essa expansão aconteceu principalmente no Centro da cidade, mais especificamente ao longo da Avenida Sete de Setembro, em contraste com imóveis históricos, mostrando também os lados negativos do processo.

> “A verticalização acarretou alguns prejuízos na qualidade de vida da população, tendo em vista a questão de infraestrutura. Muitos prédios, por exemplo, não tinham garagem suficiente, no início, porque, naquela época, poucas pessoas tinham carro. Isso se acelerou e a multiplicação de veículos exigiu um número de vagas que não era oferecido naquele tempo”, analisou o arquiteto e urbanista.

Entraram ainda questões ambientais, econômicas e de território, entre outras. Não é à toa que a verticalização agora está na música, como na faixa “Lucro”, da banda BaianaSystem, foi assunto de questão do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) realizado no último fim de semana, e é tema de um projeto de lei sobre o uso do solo que espera sanção da prefeitura, após ser aprovado pela Câmara Municipal.

“Tendo como exemplo a questão histórica, nós temos monumentos incríveis e a vizinhança é importante para contextualizar a própria edificação. Ou seja, imagine você ter uma igreja como a Catedral Basílica, no ambiente do Terreiro de Jesus, e imagine se fosse permitida a edificação ao lado da igreja, e ela ficasse sufocada, como é o caso da Igreja Nossa Senhora da Vitória, com um empreendimento ao fundo”, provocou o pesquisador.

Francisco Senna destaca também a importância de se discutir o assunto de forma mais ampla, já que a perspectiva é de que o movimento alcance ainda mais pontos da cidade com o passar dos anos, como vem acontecendo em bairros como Caminho das Árvores, Brotas, Jaguaribe e Ondina, além dos arredores da Avenida Paralela.

“A minha preocupação é com o aspecto urbano da cidade. É com a capacidade de certos espaços comportarem edificações desse porte em grande quantidade. É o processo natural de toda a cidade. Isso é inevitável. Mas o que eu espero da nossa cidade é uma legislação adequada, que contemple um equilíbrio, com conforto e segurança”, pontuou.

No livro “Salvador – Grandes Obras”, os autores apresentam a relação entre o antigo e novo na arquitetura e no urbanismo da cidade, para entender como ocorreu o enfrentamento às inúmeras mudanças que aconteceram nos aspectos visuais, sociais, políticos e econômicos. Entre os pontos abordados, estão os desafios com o crescimento populacional e a migração do Centro Histórico para outras regiões do território. “Houve uma mudança drástica, um esvaziamento muito grande, com impacto negativo de desvalorização, que agora vem sendo retomado aos poucos para o turismo”.

Para ajudar nesse entendimento, a obra conta com iconografia a partir de imagens de acervos de Salvador, França, Inglaterra, Portugal, Holanda e de colecionadores particulares.

“Para entender a arquitetura, não basta só a palavra, você tem que ver e sentir, porque tem várias dimensões. Eu digo sempre que o arquiteto é um construtor de cenários para o teatro da vida. A sociedade muda, o teatro da vida muda, consequentemente os cenários mudam”, ressaltou Francisco Senna.

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