Areia invadindo casas ou moradores ocupando espaço da natureza? Entenda o que está acontecendo com as dunas no Litoral do RS
De acordo com especialistas, o fenômeno é natural, mas exige atenção. E pode ser agravado por condições climáticas como o tempo seco e a intensidade dos ventos. Dunas de areia estão cobrindo casas e ruas em região no Litoral do RS.
Uma situação curiosa vem incomodando moradores de cidades do Litoral Norte do Rio Grande do Sul: as dunas, que normalmente separam as áreas residenciais da orla, vêm avançando sobre as casas e cobrindo ruas de areia. A situação já foi registrada por moradores de Imbé, onde a situação preocupa às vésperas da temporada de veraneio; Tramandaí, onde o avanço levou a prefeitura a buscar autorização para obras de contenção; e Xangri-Lá, onde a passarela que liga a calçada à faixa de areia voltou a ser tomada pelas dunas. Com isso, moradores da região e internautas nas redes sociais se perguntam: a areia está invadindo as casas ou apenas voltando ao seu lugar de origem?
De acordo com especialistas, o fenômeno é natural, mas exige atenção. E pode ser agravado por condições climáticas como o tempo seco e a intensidade dos ventos. Dunas superam muros e soterram objetos em casas de Imbé, no Litoral Norte do RS; na foto, uma bicicleta praticamente debaixo de areia. Segundo o oceanógrafo Felipe Caron, da UFRGS, áreas como o litoral gaúcho têm uma dinâmica própria. Ele exemplifica o cenário dos moradores de Tramandaí: quando não há vegetação para conter o avanço da areia, as dunas avançam em direção à cidade. Caron lembra que o processo é parte da natureza, mas se torna problema quando interfere na vida das pessoas.
Em Imbé, a condição é agravada pelo vento nordeste, característico da região, onde é conhecido como “Nordestão”, que empurra as dunas para dentro das áreas urbanas. “A própria urbanização criou uma barreira para essa areia circular mais livremente. Algumas áreas já tinham dunas elevadas, com vegetação estabelecida, mas outras estavam mais expostas ao nível do mar”, afirma o diretor do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar), Enéas Konzen. O pesquisador aponta que fatores climáticos influenciam: anos mais secos favorecem a morte da vegetação e a migração das dunas. Já períodos mais úmidos, como os de El Niño, ajudam a estabilizá-las.
Para conter o avanço, planos de manejo são essenciais. A proposta de Tramandaí, por exemplo, inclui instalar sand fences (cercas que seguram a areia), biomantas e plantar espécies vegetais para fixar as dunas. Mas, como explica Viviane Tavares Pimentel, chefe de Licenciamento Ambiental, a execução depende de autorizações ambientais. Já em Imbé, a prefeitura realiza visitas técnicas para avaliar a necessidade de retirada da areia. O manejo consiste em afastar a duna de três a quatro metros das casas, no sentido do mar, seguido por replantio de vegetação nativa, que ajuda a segurar a areia e funciona como barreira natural contra o vento. “É uma solução paliativa, não vai durar para sempre”, afirma, no entanto, Pâmela Antony, bióloga da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Imbé.




