Desafios dos trens do RJ: superlotação, vandalismo e tráfico | Nova concessão em março

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Lotação, vandalismo e até tráfico: os desafios dos trens do RJ, que terão nova concessão em março

Supervia deixará a concessão em 16 de março, e novo operador deve ser definido em dezembro. RJ2 percorreu toda a malha ferroviária nas últimas semanas e viu superlotação, insegurança e abandono.

Passageiros pulam catracas da Supervia em dia de megaoperação no Rio

Depois de quase 30 anos, os trens que cortam boa parte do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense vão mudar de mãos. Após sucessivos adiamentos, a Supervia anunciou que deixa a operação no dia 16 de março de 2026. Mas ainda não se sabe quem vai assumir o serviço: o governo do estado pretende definir o novo operador em dezembro.

Enquanto a definição não vem, a única certeza é que a nova empresa terá um desafio enorme pela frente: insegurança, lotação e sucateamento são uma rotina nas linhas.

A equipe do RJ2 percorreu toda a malha ferroviária nas últimas semanas e acompanhou de perto a rotina dos passageiros nos ramais de Deodoro, Santa Cruz e Paracambi, e flagrou até tráfico e consumo de drogas em estações.

Mais de 100 estações em 270 km de malha

O sistema ferroviário do Rio tem 270 quilômetros de trilhos, 5 ramais, 3 extensões e 104 estações. Os trens transportam cerca de 300 mil passageiros por dia, conectando a capital a cidades do entorno.

Em Senador Camará e Padre Miguel, usuários de drogas circulam livremente e há pontos de venda de entorpecentes dentro das áreas da estação.

Consumo de drogas em estação de trem no Rio

No ramal Japeri, a situação se repete: usuários de drogas nas estações, vandalismo nos vagões, bancos destruídos e intervalos longos entre os trens.

Em Paracambi, a última estação do ramal, falta até banheiro para os passageiros.

“Você paga a passagem, paga tudo, tem que ter um banheiro”, reclama Idalino Neto Bezerra de Souza, carpinteiro.

Em Deodoro, passageiros se arriscam pelos trilhos e vagões abandonados formam um “cemitério de trens”.

Superlotação

A superlotação é um dos principais problemas enfrentados diariamente: “Quando tem jogo funciona que é uma beleza. Agora, quando não tem… a gente passa muito sufoco aqui. É muito ruim, moço…”, relata uma passageira.

Outro usuário completa: “Sempre foi esse sofrimento. Até que hoje tá tranquilo, tá vazio. Tem dia que o negócio é feio”.

Sucateamento

A falta de manutenção é visível em várias estações. Banheiros em condições precárias, escadas rolantes quebradas e acessibilidade comprometida dificultam a vida de quem depende do serviço.

“Muita falta… ainda mais eu que sou fibromiálgica, então subir escada fica muito difícil. A gente quer reclamar, mas parece que a nossa voz não sai”, desabafa Ana, cuidadora de idosos.

O preço da passagem é de R$ 7,60, com tarifa social a R$ 5. Muitos consideram o valor alto diante da qualidade do serviço.

“Pelo serviço que eles oferecem tá caro – 7,60 tá muito caro… caro demais”, afirma Jeferson Cabral de Santana, militar.

Concessão desde 1988

A concessão da Supervia começou em 1998 e, desde então, enfrenta desafios. Em 2023, a empresa comunicou ao governo que não tinha condições de continuar operando, citando prejuízos com a pandemia, furto de cabos e congelamento da tarifa.

Um acordo judicial prorrogou a operação até março de 2026, quando um novo operador deve assumir o sistema.

Três meses de transição

A secretária estadual de Transportes, Priscila Haidar Sakalem, afirma que o governo trabalha para garantir uma transição sem prejuízo ao passageiro.

> “A nossa expectativa é janeiro e março a gente tem Supervia e o novo administrador coexistindo. E a partir de abril o novo operador já toca a operação pelo período de cinco anos”, explica.

Apesar das promessas de melhorias, os problemas de vandalismo e insegurança persistem.

“Temos o GPfer, que é um grupamento ferroviário composto por policiais militares, e a gente age em conjunto com toda a força policial do estado”, diz a secretária, que destaca ações para reduzir furtos de cabos e melhorar a segurança, mas reconhece que ainda há muito a ser feito.

O que dizem os citados

A Supervia informou, em nota, que investiu junto com o governo do estado cerca de R$ 160 milhões no sistema no último ano. Segundo a concessionária, os recursos foram aplicados em reformas estruturais, como troca de dormentes e recuperação da sinalização, o que resultou na redução do tempo de viagem, principalmente nos ramais Santa Cruz e Japeri. A empresa declarou ainda que a média de passageiros aumentou 10% desde então.

A Polícia Militar afirmou que as equipes atuam com patrulhamento preventivo nas plataformas, acessos e áreas internas das estações, além de realizar rondas embarcadas e reforço nos horários de maior fluxo.

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