Uma nova biblioteca em Porto Alegre, chamada Biblioteca do Negro, abriga cerca de 5 mil páginas com registros históricos de negros escravizados que entraram no Rio Grande do Sul entre os anos de 1763 e 1888. A reinauguração do espaço aconteceu no último sábado (15), e agora ele está localizado na Cidade Baixa. Os documentos guardam os nomes das pessoas negras que foram trazidas ao estado através do tráfico de escravizados, e são considerados um importante acervo para o resgate da história destes indivíduos.
Além dos registros de compra e venda de escravizados, a Biblioteca do Negro conta com mais de 1,3 mil obras, incluindo livros raros e documentos históricos. A mantenedora do espaço, Clélia Paim, de 69 anos, destaca a importância desses documentos para ajudar na busca por direitos para a comunidade negra que ainda enfrenta desafios em relação à terra, indenizações e outros direitos. Os registros são fundamentais, pois muitas vezes os escravizados chegavam ao Brasil com nomes diferentes de suas origens e eram registrados com o sobrenome de seus compradores.
Apesar de fornecerem informações limitadas, como características físicas e poucas informações de parentesco, os registros da Biblioteca do Negro auxiliam na busca por ancestralidade e, consequentemente, na luta por direitos. A pesquisa que resultou na organização desses livros foi realizada por historiadores contratados pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul, que buscaram registros em diversos tabelionatos do estado. O acervo está disponível para consulta pública na Casa Odabá, localizada na Rua João Alfredo, 782, em Porto Alegre.
No entanto, recentemente, o Ministério Público precisou intervir em uma situação em que dois irmãos estavam comercializando documentos históricos relacionados ao período escravocrata do RS. Os registros resgatados incluíam documentos da Junta de Classificação e de Emancipação de Escravos, matrículas de escravizados, registros de cemitério e da cadeia de Rio Grande. Diante disso, o MP obteve mandados de busca e apreensão para evitar a venda ilegal desses materiais, que são considerados parte importante da memória e história da população negra.
A Biblioteca do Negro é também uma homenagem à professora Yvanilda de Oliveira Belegante, que por mais de 30 anos esteve à frente do espaço, mas precisou se afastar por motivos de saúde. O local funciona como um espaço de preservação da história e memória da comunidade negra do Rio Grande do Sul, permitindo o acesso livre para consulta aos interessados, mediante agendamento prévio. A iniciativa busca promover o resgate da história dos negros escravizados que contribuíram significativamente para a formação do estado e do país como um todo.




