Francis Kéré: arquiteto premiado que assina Biblioteca dos Saberes no Rio de Janeiro

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Fã de Niemeyer, carioca por adoção e nascido em Burkina Faso: conheça Francis Kéré, arquiteto que assina Biblioteca dos Saberes

Ele é o primeiro homem africano a conquistar o Pritzker, principal prêmio da arquitetura mundial. Desde criança sonhava em construir espaços mais funcionais.

Biblioteca dos Saberes faz parte do projeto Praça Onze Maravilha

Biblioteca dos Saberes faz parte do projeto Praça Onze Maravilha

O arquiteto Diébédo Francis Kéré, um dos mais premiados do mundo, é o autor do projeto da Biblioteca dos Saberes, parte da iniciativa da Praça Onze Maravilha. Com uma história em que usa referências locais para melhorar a vida de populações ao redor do mundo, ele disse que se considera carioca por adoção.

“Eu tive a mesma conexão em espírito e em ações com o povo do Rio”, disse o arquiteto no lançamento do projeto, na quinta-feira (20).

Kéré é o primeiro homem africano a conquistar o Pritzker, prêmio considerado o “Nobel da Arquitetura”. Nascido em Gando, uma vila de Burkina Faso, o desejo de ser arquiteto surgiu a partir de um problema na infância: ele sofria com o calor na escola e passou a querer construir lugares melhores para as outras crianças.

“Eu nasci aqui [apontando para a vila onde nasceu em Burkina Faso]. Não tinha muitas oportunidades e tive chance de ter uma educação melhor. Eu fui para a Alemanha e achei que poderia criar algo para meu povo”, contou Kéré.

Francis Kéré nasceu em Burkina Faso e é o autor do projeto da Biblioteca dos Saberes. — Foto: Reprodução/ TV Globo

O pai de Kéré era o chefe da vila onde a família vivia. Ele não sabia escrever, mas queria que o filho mais velho aprendesse.

“Meu pai recebia cartas do governo e não tinha ninguém para ler. Então, em vez de me deixar trabalhando no campo, ele me mandou para a cidade para aprender a ler e escrever”, contou o arquiteto em entrevista ao Fantástico.

Da argila ao ‘Nobel da Arquitetura’: como Francis Keré se tornou o primeiro negro a receber o prêmio Pritzker

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Depois, nos anos 1980, ele foi para a Alemanha. Primeiro, fez um curso de carpintaria para, mais tarde, se formar em Arquitetura.

Em 2001, Kéré realizou o sonho de infância. Retornou ao povoado e começou a erguer a escola com a ajuda da comunidade. O projeto conta com materiais da região e usa a iluminação natural.

O investimento em projetos sustentáveis não ficou restrito a Burkina Faso. Ele assinou projetos semelhantes em vários pontos do mundo, que o levaram ao prêmio Pritzker em 2022.

A honraria, considerada uma das mais importantes do mundo, é destinada aos arquitetos que demonstram em seus trabalhos a união entre talento, visão e comprometimento com o meio onde vivem.

Desde 1979, quando foi criado, 2 arquitetos brasileiros já conquistaram o Pritzker: Oscar Niemeyer, em 1988, e Paulo Mendes da Rocha, em 2006.

Francis Kéré é o autor do projeto da Biblioteca dos Saberes. — Foto: Reprodução/ TV Globo

A arquitetura de Niemeyer, inclusive, é uma das referências de Francis Kéré. Ele destacou que é uma honra ter a chance de assinar o projeto de uma biblioteca próxima a uma das mais famosas obras dele.

“A arquitetura brasileira é inspiradora e eu admiro Niemeyer. E tenho a chance de criar um projeto próximo ao Sambódromo, criado por ele. Para mim, é uma grande honra”, destacou.

Como ficará o projeto da Biblioteca dos Saberes — Foto: Divulgação/ Prefeitura do Rio

Com mais de 40 mil m², o edifício da Biblioteca dos Saberes terá pilotis, cobogós, jardins suspensos e uma torre circular aberta à luz natural. O espaço contará com teatro, anfiteatro, cozinhas, salas de estudo, áreas expositivas e acervos voltados à memória, patrimônio e expressões populares.

O espaço será instalado na região onde funciona o Terreirão do Samba, perto do monumento a Zumbi dos Palmares e integrado às iniciativas da região da Pequena África.

O anúncio do projeto da biblioteca acontece no ano que o Rio de Janeiro é a Capital Mundial do Livro pela Unesco. A iniciativa tem como objetivo incentivar a leitura.

Kéré esteve pela primeira vez no Rio em maio. Ele percorreu lugares que refletem a cultura do Rio e do Brasil: viu o manto tupinambá, no Museu Nacional de Belas Artes, caminhou pelo jardim de Roberto Burle Marx, conheceu o Edifício Capanema — ícone do modernismo brasileiro —, e esteve na Pedra do Sal com Teresa Cristina e a velha guarda da Portela.

O arquiteto também se encontrou com a escritora Conceição Evaristo, que discursou no lançamento do projeto, na quadra da Estácio de Sá.

“Que venha a biblioteca, onde a movimentação seja humana, abarcando a pluralidade da nossa cidade. Que o morro desça, que a população busque o que lhe pertence como direito cidadão: livros e arte, livros e democracia, livros vivos, livros e humano”, afirmou a escritora.

Projeção de como ficará a Biblioteca dos Saberes — Foto: Divulgação/ Prefeitura do Rio

Por sua trajetória única e seu comprometimento com a melhoria da qualidade de vida através da arquitetura, Francis Kéré se destaca como um visionário e um ícone no cenário global da arquitetura contemporânea. Sua obra, incluindo a Biblioteca dos Saberes no Rio de Janeiro, é um reflexo de seu talento e dedicação à criação de ambientes funcionais e inspiradores para comunidades ao redor do mundo.

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