Resíduo radioativo trava desmonte da primeira mina de urânio do Brasil, fechada há 30 anos
Material gerado em antiga usina de SP foi levado a Caldas (MG) nos anos 1990. Autorizada este ano a fechar a unidade, INB busca solução para a chamada Torta II.
Fechada há 30 anos, a primeira mina de urânio do Brasil busca uma solução para o resíduo radioativo [https://s04.video.glbimg.com/x240/14112547.jpg]. Fechada desde 1995, a primeira mina de urânio do Brasil precisa resolver um grande desafio ambiental antes de ser desmontada. A unidade da INB – Indústrias Nucleares do Brasil em Caldas (MG) [https://g1.globo.com/mg/sul-de-minas/cidade/caldas/] produziu, nos anos 1980, 1,5 mil toneladas de concentrado de urânio que abasteceu a usina de Angra I e ajudou a alavancar o programa nuclear brasileiro. Três décadas após o fim das operações, a área ainda precisa ser recuperada, mas, antes, a estatal terá de dar destino a milhares de toneladas de resíduos radioativos armazenadas em galpões e no seu subsolo.
Em janeiro deste ano, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) concedeu à INB a primeira licença ambiental para iniciar o descomissionamento da mina. A exploração de urânio é monopólio da União, e a INB é a única empresa autorizada a extrair e processar o minério no Brasil. Ao final da vida útil, uma mina deve passar pelo descomissionamento, processo de desativação e desmantelamento, para mitigar impactos ambientais e recuperar a área para outros usos.
O avanço do processo, no entanto, depende da definição sobre o destino de 11.334 toneladas de Torta II, resíduo radioativo resultante do tratamento químico da monazita para a retirada de terras raras, na antiga Nuclemon, em São Paulo, entre os anos 1950 e 1980, e que foi enviado para Caldas em meados dos anos 1990. Segundo a INB, são estudadas alternativas para a Torta II, como a venda ou envio para instalações licenciadas. Especialistas dizem que os rejeitos da produção nuclear são um problema em todo o mundo.
O armazenamento da Torta II sempre foi motivo de apreensão no município de Caldas. A mina, que fica em uma área de 18 km², localizada a 12 km do centro urbano, está cercada por rios e córregos e ao lado de uma Área de Proteção Ambiental (APA). A Prefeitura de Caldas diz que a INB tem cumprido todos os compromissos estabelecidos com o município. Conforme o órgão, o material está estocado em área controlada com proteção radiológica.
O Brasil não possui um espaço para a destinação adequada de resíduos radioativos. A Finlândia foi a primeira a criar um depósito nuclear permanente de longo prazo do mundo, enquanto nos Estados Unidos, mais de 90 mil toneladas de lixo nuclear estão espalhadas por centenas de locais. O governo federal está projetando o Centro Tecnológico Nuclear e Ambiental, que deve ser o primeiro repositório de rejeito radioativo da América Latina e um centro tecnológico para estudos em gerenciamento destes materiais.
O descomissionamento da unidade em Caldas pode levar de duas a três décadas, com um orçamento estimado de R$ 688 milhões. Desafios como a água ácida, proveniente dos rejeitos da mineração de urânio, ainda precisam ser solucionados. Mesmo com a demora do processo, a concessão da licença para o descomissionamento é vista de forma positiva para o município de Caldas, uma vez que traz perspectivas de ação para resolver questões de contaminação por radioatividade. O destino do terreno onde funcionava a mina dependerá de planos a serem aprovados pelos órgãos ambientais e de segurança nuclear.




