Mais de 60% dos casos de câncer colorretal no Brasil chegam aos serviços de saúde já em estágios avançados (3 e 4), quando o tumor invade estruturas profundas ou apresenta metástases. Um estudo da Fundação do Câncer revelou esses dados preocupantes, lançado no Dia Nacional de Combate ao Câncer. A análise de 177 mil casos atendidos em hospitais públicos e privados apontou um cenário de diagnóstico tardio, o que reduz as chances de cura, torna o tratamento mais complexo e eleva os custos de saúde.
O estudo também demonstrou desigualdades no acesso ao cuidado oncológico, com o Sudeste concentrando quase metade dos casos e recebendo pacientes de outras regiões. O Centro-Oeste lidera o deslocamento de pessoas que precisam buscar tratamento fora de seus estados, sendo que uma parte significativa migra para o Sudeste, impactando o tempo até o início do tratamento e a sobrevivência dos pacientes.
A relação entre comportamentos de risco e a incidência do câncer colorretal também foi destacada no estudo. Capitais com maior proporção de fumantes, como Florianópolis e Porto Alegre, apresentam altas taxas da doença, destacando o tabagismo como fator de risco. A obesidade também se mostrou relevante, com cidades com altas taxas de obesidade, como Porto Alegre e São Paulo, registrando maior incidência da doença.
O epidemiologista Alfredo Scaff, coordenador do estudo, enfatizou a importância de políticas de prevenção primária, destacando a necessidade de ações contínuas para promover hábitos saudáveis. A ampliação do rastreamento também foi sugerida, considerando que quase 86% dos pacientes diagnosticados têm 50 anos ou mais. Scaff defende a transição de um modelo oportunístico para um programa populacional e a avaliação da redução da idade de início do rastreamento.
O levantamento do perfil dos pacientes mostrou que quase metade tem apenas ensino fundamental, com uma maior proporção de brancos seguidos por negros. A cirurgia foi apontada como o tratamento inicial mais frequente no país, com base nos dados dos Registros Hospitalares de Câncer entre 2013 e 2022.




