A morte de Gerson de Melo Machado, 19, conhecido como Vaqueirinho, após invadir a jaula de uma leoa no Parque Zoobotânico Arruda Câmara, em João Pessoa, reacendeu o debate sobre o abandono de pessoas com transtornos mentais graves. Gerson, diagnosticado com esquizofrenia, era um jovem criado em extrema vulnerabilidade, sem apoio familiar consistente. Verônica Oliveira, conselheira tutelar, relatou nas redes sociais que ele sofreu diversas violações de direitos. Mesmo com diagnóstico, o Estado considerava seu problema apenas comportamental, privando-o do tratamento adequado.

O psiquiatra Rodrigo Bressan destaca que o caso de Gerson revela a ausência de intervenção imediata no primeiro episódio psicótico, prática comum em outros países. Enquanto o Brasil se concentra em tratar transtornos mentais crônicos, a prevenção e o tratamento precoce são negligenciados. Pacientes como Gerson geralmente entram no sistema de saúde em crises graves, após longos períodos sem cuidados apropriados. O modelo de Caps, direcionado a pacientes pós-manicômio, não contempla a prevenção ou tratamento inicial.

Bressan ressalta a importância da intervenção precoce, que envolve atendimento ao paciente e à família desde o início do quadro psicótico. A adesão a tratamentos especializados para primeira crise de esquizofrenia é muito superior à de serviços não especializados. Desafios como o estigma e a falta de adesão prolongada são enfrentados mesmo por famílias estruturadas. O psiquiatra destaca que narrativas estigmatizantes não podem ser reforçadas por tragédias isoladas como a de Gerson.

Para evitar novas tragédias, Bressan aponta três pilares fundamentais: diagnóstico precoce, tratamento especializado regular e educação da sociedade para combater o estigma. O conhecimento é a chave para diminuir o preconceito, sendo a mídia uma ferramenta importante para educar a população. É essencial que as tragédias não sejam exploradas para sensacionalismo, mas sim para promover a conscientização e a busca por soluções eficazes.