Padre Júlio Lancellotti proibido de fazer lives: quando e como a Igreja censura seus religiosos

padre-julio-lancellotti-proibido-de-fazer-lives3A-quando-e-como-a-igreja-censura-seus-religiosos

Milenar e solidamente erguida sobre pilares de rígida hierarquia, a Igreja Católica tem instrumentos para controlar sacerdotes que estejam causando incômodos. O silêncio imposto pela Arquidiocese de São Paulo ao padre Júlio Lancellotti, famoso pelo seu envolvimento em causas sociais, tem fundamento no Código de Direito Canônico da instituição. Lancellotti anunciou que suas missas não serão mais transmitidas ao vivo pela internet como costumava acontecer e que ele não deve seguir atualizando suas redes sociais. Com mais de 2,3 milhões de seguidores no Instagram, ele é um dos maiores influenciadores do catolicismo brasileiro. Seus posicionamentos a favor da inclusão de minorias costumam despertar críticas intensas.

Nascido em 1948, Julio Lancellotti é sacerdote ordenado há 40 anos e deve obediência ao bispo conforme o direito canônico. O silêncio imposto a padre Julio não é novidade na Igreja e está previsto na legislação que organiza o catolicismo como instituição. No Brasil, casos notórios de silenciamento estão geralmente ligados a religiosos alinhados a um pensamento mais progressista. Leonardo Boff e a freira Ivone Gebara são exemplos de figuras que enfrentaram punições. A legislação católica prevê instrumentos graduais para conter, censurar, silenciar sacerdotes inconvenientes ao status quo da instituição.

Dentro das regras da Igreja, um bispo pode impor proibições específicas aos religiosos. Lancellotti parece ter sido enquadrado pelo cânone 1339 do direito canônico, que versa sobre medidas de admoestação. O Vaticano, desde o Concílio Vaticano 2º, evita penas espetaculares, optando por silêncios obsequiosos para frear vozes discordantes. Além dos casos mais conhecidos, como o de Boff e Gebara, até mesmo o movimento conservador Renovação Carismática Católica já foi repreendido pela Igreja.

Uma nota assinada por um membro da comunidade em apoio a Lancellotti enfatiza que a proibição das transmissões online foi um ato de cuidado e proteção, visando preservar o padre de riscos reais. Mesmo com a justificativa de preservação, a proibição gera descontentamento e pode frear vozes progressistas em um momento politicamente tenso. A ação da Arquidiocese de São Paulo levanta questões sobre os limites da censura na instituição, que atua como uma hierarquia piramidal com dispositivos para controlar seus membros.

Box de Notícias Centralizado

🔔 Receba as notícias do Diário do Estado no Telegram e no WhatsApp