A Ceia de Natal é um dos principais momentos de união familiar: risadas, conexões e uma mesa farta onde o cheiro irresistível da comida no ar tende a agradar a maior parte dos presentes — o que, inevitavelmente, atrai a atenção também dos membros de quatro patas da casa. No entanto, o que parece um gesto de carinho e inclusão pode se tornar um risco grave, já que o organismo dos pets é muito mais sensível a ingredientes comuns da culinária humana.
A ingestão de alimentos humanos inadequados é uma das principais causas de intoxicações e emergências gastrointestinais durante o período festivo. A Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) e órgãos de saúde veterinária reforçam a importância da nutrição balanceada, e médicos veterinários alertam para um aumento de 30% a 50% nos atendimentos por problemas digestivos e intoxicações durante as semanas de festas.
Apesar de festiva, a data ‘especial’ pode se tornar um período crítico, uma vez que é nesta época em que muitos tutores acabam cedendo aos “olhos pidões” e oferecendo alimentos que podem causar problemas. Um estudo publicado pela Pet Poison Helpline indicou que a exposição a substâncias tóxicas, como chocolate e uvas, tem seu pico justamente entre 24 de dezembro e 1º de janeiro. A intoxicação por uva-passa, por exemplo, pode ocorrer com apenas 2,8g de passas por quilo de peso corporal do cão, levando a um quadro de insuficiência renal aguda.
De acordo com Sandra Oliveira, coordenadora do curso de medicina veterinária da Estácio Goiás, a ceia natalina é repleta de armadilhas que colocam a saúde dos pets em risco. Para a médica veterinária, a ingestão de alimentos humanos por pets pode ter consequências imediatas ou a longo prazo. “Muito do que é delicioso para o paladar humano resulta de preparos tóxicos para o organismo dos pets. Alimentos gordurosos, por exemplo, causam um pico de estresse no pâncreas. Cada decisão tomada — da oferta de um osso à presença de alimentos gordurosos — influencia diretamente na saúde e no comportamento dos animais”, afirma.
Ceia além da mesa
De acordo com Sandra Oliveira, as recomendações não se limitam às refeições, mas se estendem ao ambiente como um todo. “Estímulos visuais de uma mesa farta e o cheiro forte de temperos, podem gerar ansiedade e apetite excessivo. Para isso, é imprescindível se atentar também ao ambiente como um todo, mantendo o lixo fechado, a mesa inacessível, e ofertando exclusivamente petiscos formulados para os animais”, afirma. Outro aspecto, a questão de excessivo barulho, foguetórios inclusive, podem ser minimizados com tapa ouvidos ou ao menos um espaço fechado a eles que cheguem sons menos audíveis. Importante ressaltar que nós humanos estamos ansiosos por uma festança de final de ano, entretanto nossos Pets gostam mesmo é de suas rotinas intocáveis.
Sandra reforça que a iluminação da festa, o aumento de pessoas e, principalmente, o cheiro de comida diferente são estímulos intensos. “Nossa função é garantir que a alegria da festa não se transforme em sofrimento para eles”, explica. Segundo a professora, a criação de uma rotina alimentar segura e o controle dos estímulos no Natal não beneficia apenas cães e gatos com sensibilidade digestiva, mas pode melhorar a experiência de todos presentes no local, promovendo sensações mais agradáveis.
A médica veterinária destaca que, até mesmo nestes períodos do ano, é importante promover ambientes saudáveis para os pets, promovendo equilíbrios emocionais e físicos. “Os espaços que favorecem a autonomia — como recipientes de água cheios e um cantinho de descanso — contribuem para o senso de controle e bem-estar psicológico”, sinaliza. Para ela, um ambiente que respeita o ritmo dos animais, que permite pausas, convivência e nutrição adequada, cria condições para relações mais saudáveis e para uma rotina menos exaustiva — até mesmo em datas comemorativas.




