Conheça marmelada produzida em distrito de Luziânia que é patrimônio cultural e imaterial de Goiás
Doce centenário é produzido em tachos, utilizando apenas marmelo, açúcar e água. A receita adaptada ao longo de dois séculos de tradição atravessou quatro gerações.
A marmelada produzida em Santa Luzia, distrito de Luziânia, no entorno do Distrito Federal, é famosa em todo o estado pela consistência firme e sabor marcante. O doce é produzido em tachos, utilizando apenas marmelo, açúcar e água, e se tornou Patrimônio Cultural e Imaterial de Goiás em abril de 2022, por meio de lei sancionada pelo governador Ronaldo Caiado.
A cidade de Luziânia completou 279 anos em dezembro. A receita, adaptada ao longo de dois séculos de tradição, atravessou quatro gerações. Na família do produtor de marmelo Carlucio Miguel Laquis, o doce começou a ser produzido em meados de 1820 por Ana dos Passos de Araújo Melo, sua bisavó. A marmelada que era feita a partir do marmelo produzido na fazenda da família, passou a ser comercializado na cidade, segundo o empresário.
> “Em meados de 1820, a minha bisavó começou a fabricar a marmelada. Depois que ela faleceu, a produção passou para a minha avó. A minha avó então passou para o meu pai ainda em vida. Com o falecimento do meu pai, eu herdei a marmelada de Santa Luzia”, disse.
Em entrevista ao DE, Carlucio contou que a história sobre a marmelada de Santa Luzia é contada nas aulas de escolas locais. A fábrica, que funciona em um casarão centenário, recebe visitas frequentes de escolas em atividades extraclasse.
> “A nossa cultura está sendo ensinada nas escolas. Em sala de aula, as professoras falam sobre o doce da região, associando à letra M. É uma experiência bem legal e educativa”, disse.
De acordo com o empresário, a marmelada também é famosa na Romaria do Divino Pai Eterno, em Trindade, onde ele comercializa o doce há cerca de 30 anos. O produtor contou que no passado, o avô Lindolfo Hosana Batista e o amigo Gutemberg Roriz, ambos já falecidos, faziam o trajeto da romaria partindo de Luziânia em carros de bois, levando o doce da família.
> “Todos iam. A família inteira comercializava o doce na festa do Divino. A festa proporciona que as pessoas conheçam mais sobre a marmelada. Muitas pessoas ligam dizendo que querem o doce que conheceram em Trindade”, relatou.
Kelle Dias Gonçalves Laquis é esposa e sócia de Carlucio. Segundo ela, todo o processo é feito de forma semiartesanal, em tachos de inox motorizados. As caixetas de madeira também são produzidas pela própria família.
> “Hoje utilizamos o tacho de inox, porque o de cobre foi proibido. Nossa produção é em grande escala, e o tacho conta com um motor para mexer o doce, evitando o trabalho manual contínuo. Mesmo assim, o método continua sendo artesanal”, disse.
Segundo Kelle, as pessoas costumam saborear o doce com queijo. Mas é a tradicional ‘sopa de marmelo’ que faz o diferencial do doce. O prepara consiste em misturar o doce com o queijo. Ela acrescentou que a marmelada é vendida o ano inteiro, mas é durante a safra da fruta que as polpas são preparadas sem conservantes.
> “Em janeiro, período da colheita do marmelo, fazemos a sopa de marmelo, à qual acrescentamos queijo. Fica uma mistura de doce com sal”, comentou.
Marcos de Araújo Melo é secretário de Desenvolvimento Econômico de Luziânia e também carrega a tradição da marmelada na própria história familiar. O pai, Vasco de Melo, produziu o doce até 2009, e atualmente a irmã, Márcia Melo, mantém a fabricação seguindo rigorosamente o modo de preparo original, desde a escolha do açúcar até o uso exclusivo do marmelo cultivado na região.
> “Ela faz tudo com muito carinho e cuidado, exatamente da forma como meu pai fazia. Isso inclui, por exemplo, a escolha de um açúcar específico, que garante mais qualidade ao produto”, afirmou.
Segundo Marcos, o reconhecimento da Marmelada de Santa Luzia como patrimônio cultural e imaterial é fundamental para valorizar a tradição e a cultura de Luziânia, já que o doce faz parte da história do município desde pouco depois da sua fundação, há 279 anos.
> “O doce é a nossa identidade cultural, tanto que a cidade é conhecida como Santa Luzia da Marmelada. Perpetuar essa história é muito importante para o município e para a minha família. Eu cresci vendo meus avós, meus tios e meu pai fazendo marmelada. Era tradição, inclusive, todo mês de janeiro nos reunirmos na fazenda do meu avô para produzir o doce, com a família inteira reunida”, disse.
O secretário também destacou a importância de incentivar os jovens a manter viva essa tradição, que vai além da memória familiar e representa um patrimônio cultural de Luziânia e de Goiás.
O advogado José Márcio Resende é cliente do casal de empresários e sempre compra o doce. Morador de Brasília, ele disse que a Marmelada de Santa Luzia é a melhor marmelada do país e chegou a comprar 70 caixas para presentear.
> “Sou um assíduo consumidor. Em 2023, comprei 70 caixetas grandes para presentear servidores do Hotel Casa da Montanha, em Gramado (RS). O Carlucio e a Kelle me enviaram por encomenda e foi um sucesso. Com prazer, digo que esse doce é referência”, afirmou.
O aposentado José Egídio Pereira Lima é morador de Luziânia e compartilha histórias sobre a marmelada famosa. Em uma rede social, ele publica fotos antigas contextualizadas por pessoas que viveram os períodos iniciais da fabricação do doce.




