Os estados também ampliaram sua fatia. A partir de fevereiro de 2025, os estados uniformizaram a tributação do ICMS sobre combustíveis em todo o Brasil, em sistema que foi denominado como tributação monofásica. Se no começo de 2023, cobravam R$ 0,79 por litro, agora cobram R$ 1,12 pela mesma quantidade. Ou seja, R$ 0,33 a mais por litro, um aumento de 41,77% no período, mas praticamente o mesmo que foi acrescido no combustível pelo governo federal. Produção pesa mais no diesel, mas impostos e margens travam queda. ‘O preço final do diesel é uma combinação de diferentes fatores, sendo o preço de produção – a parcela da Petrobras – o maior componente’, explica Márcio D’Agosto, professor titular de engenharia de transporte da COPPE (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia) da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). ‘Outros fatores incluem impostos federais (PIS/Cofins) e estaduais (ICMS), o preço referente à adição de biodiesel, e a margem da distribuidora e a dos postos de combustíveis.’ Venda da BR é apontada como raiz do problema. Para D’Agosto, a privatização da BR Distribuidora, hoje Vibra Energia, é um ponto-chave da distorção. ‘O governo perdeu o controle sobre os preços praticados pelas distribuidoras’, afirma. Segundo ele, a mudança reduziu a concorrência e enfraqueceu instrumentos de política pública sobre combustíveis, que envolvem não apenas economia, mas segurança energética. Margem da distribuidora é o último componente do preço final do diesel. No atual sistema, as companhias de distribuição recebem o combustível na sua base (100% diesel), pagam os custos de produção, impostos federais e estaduais, e o valor referente à adição de biodiesel, que elas são as responsáveis por adicionar à mistura. A essa soma, elas acrescentam uma margem que inclui a logística de distribuição, estocagem e transporte. ‘Mas essa margem é um segredo comercial e, claro, não é divulgada pelas distribuidoras.’ O biodiesel, insumo que é misturado ao diesel no Brasil, aumentou no período 2023-2025. O percentual de mistura passou de 10% para 15%, enquanto o preço do insumo subiu de R$ 0,58 para R$ 0,88 por litro. ‘O biodiesel hoje é mais caro que o diesel fóssil’, explica Edmar Almeida, professor do Instituto de Energia da PUC-Rio. ‘Isso eleva o preço médio final.’ Em 2024, o Brasil consumiu 67 bilhões de litros de diesel, o principal combustível utilizado no transporte rodoviário de cargas no Brasil. Esse tipo de modal responde por 60% da movimentação de todas as mercadorias no país. O diesel representa até 40% dos custos operacionais de uma transportadora. E o custo do frete corresponde a 30%, na média, do custo total dos produtos transportados. A única forma de baratear o preço dos combustíveis, na atualidade, é diminuir os impostos incidentes sobre eles. Mas isso significaria que os governos iriam abrir mão de algo próximo a R$ 75 bilhões, sendo R$ 21 bilhões, a parte do governo federal, e R$ 53,6 bilhões, a parte dos estados aproximadamente. Edmar Almeida, professor do Instituto de Energia da PUC-Rio Engage Studio Do lado dos postos, a Fecombustíveis rejeita o papel de vilã. ‘As margens estão cada vez mais apertadas’, afirma James Thorp, presidente da entidade que representa 44 mil postos no país. Segundo ele, custos operacionais subiram e o valor cobrado na bomba reduziu pouco, mas reduziu. ‘Estamos pagando pela descarbonização da economia com o biodiesel’, diz. O setor de transporte também sente os impactos. ‘O mercado está instável, com baixo volume de carga, o que dificulta aplicar reajustes’, afirma Marcelo Rodrigues, presidente do SETCESP (Sindicato das Empresas de Transporte de São Paulo). Ele também aponta a privatização da BR Distribuidora como um dos fatores que impedem a queda do diesel. O que dizem Procurada, a Petrobras afirmou, em nota, que ‘o preço de venda para as distribuidoras é apenas uma das parcelas que compõem os preços nas bombas. O preço de revenda ao consumidor final ainda inclui o custo das distribuidoras com a mistura obrigatória de etanol anidro, para gasolina, e de biodiesel, para o diesel; tributos; e outros custos e margens de distribuição e de revenda, sobre os quais a Petrobras não possui qualquer influência’. Procurada, a Vibra não respondeu até a publicação. O espaço segue aberto para eventual resposta.




