A busca de um salário digno

É dever do Estado garantir, respeitar e fomentar com princípio fundamental a dignidade do cidadão

 

A discussão no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre os princípios de liberdade, dignidade ascendeu rodas de conversas nas redes sociais em relação a valorização do salário mínimo no Brasil. Os posicionamentos divergentes entre ser contra ou a favor da votação hermenêutica da lei constitucional se dividem entre colunistas, críticos, advogados e especialistas. Segundo a própria lei e a carta republicana, o salário mínimo deveria atender e garantir as necessidades vitais de todo cidadão. Alimentação, moradia, educação, saúde, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência social é um dos itens básicos.

Mas a realidade brasileira deturpa esses direitos dificultando até mesmo uma alimentação adequada. A necessidade atual é levar essa pauta para instâncias maiores para transformar a realidade. Na literatura judaica do século XII, o sábio e filósofo conhecido como Maimônides escreveu que o maior nível de projeto social é a busca pela justiça social. Essa busca não se tratava de fazer caridade (ou um projeto social para a extinção da fome), mas sim de entregar um emprego para que a pessoa possa, com a sua remuneração, ter dignidade.

Entretanto, o cenário do Brasil é desfavorável. De acordo com uma projeção realizada pelo Departamento Intersindical de estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), o salário do brasileiro deveria ser de R$ 3.706,44, algo bem distante da nossa realidade de R$ 954. Durante o período militar houve um distanciamento do salário mínimo para o ideal. Com o retorno da democracia e a criação do Plano Real houve uma melhora, que permaneceu durante o governo Lula. No governo Temer a promessa era de ultrapassar o valor de mil reais em 2019, para compensar o reajuste abaixo da inflação de 2018.

Os três poderes devem analisar a estrutura econômica da população e as suas demandas básicas, deixando de pautar figuras públicas e grandes políticos na mídia. Precisamos debater sobre essa tema com urgência e de forma objetiva. A discussão sobre a dignidade humana deve ser pautada e avaliada de forma respeitosa. Afinal, é dever do Estado respeitar, garantir e fomentar com princípio primordial a dignidade do cidadão.

 

 

 

 

 

 

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BYD cancela contrato com empreiteira após polêmica por trabalho escravo

Na noite de segunda-feira, 23, a filial brasileira da montadora BYD anunciou a rescisão do contrato com a empresa terceirizada Jinjiang Construction Brazil Ltda., responsável pela construção da fábrica de carros elétricos em Camaçari, na Bahia. A decisão veio após o resgate de 163 operários chineses que trabalhavam em condições análogas à escravidão.

As obras, que incluem a construção da maior fábrica de carros elétricos da BYD fora da Ásia, foram parcialmente suspensas por determinação do Ministério Público do Trabalho (MPT) da Bahia. Desde novembro, o MPT, juntamente com outras agências governamentais, realizou verificações que identificaram as graves irregularidades na empresa terceirizada Jinjiang.

Força-tarefa

Uma força-tarefa composta pelo MPT, Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Defensoria Pública da União (DPU) e Polícia Rodoviária Federal (PRF), além do Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF), resgatou os 163 trabalhadores e interditou os trechos da obra sob responsabilidade da Jinjiang.

A BYD Auto do Brasil afirmou que “não tolera o desrespeito à dignidade humana” e transferiu os 163 trabalhadores para hotéis da região. A empresa reiterou seu compromisso com o cumprimento integral da legislação brasileira, especialmente no que se refere à proteção dos direitos dos trabalhadores.

Uma audiência foi marcada para esta quinta-feira, 26, para que a BYD e a Jinjiang apresentem as providências necessárias à garantia das condições mínimas de alojamento e negociem as condições para a regularização geral do que já foi detectado.

O Ministério das Relações Exteriores da China afirmou que sua embaixada e consulados no Brasil estão em contato com as autoridades brasileiras para verificar a situação e administrá-la da maneira adequada. A porta-voz da diplomacia chinesa, Mao Ning, em Pequim, destacou que o governo chinês sempre deu a maior importância à proteção dos direitos legítimos e aos interesses dos trabalhadores, pedindo às empresas chinesas que cumpram a lei e as normas.

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