A ideia de racismo contra brancos não se sustenta, diz pesquisadora da UFG

A ideia de racismo contra brancos não se sustenta, diz pesquisadora da UFG

No último sábado (15), um artigo de Antonio Risério, poeta, romancista, antropólogo e autor, afirma que existe racismo contra brancos. O texto “Racismo de negros contra brancos ganha força com identitarismo” foi publicado pelo jornal Folha de São Paulo e gerou críticas.

Na publicação, Risério afirma que negros têm organizações e atitudes supremacistas e de racismo contra pessoas brancas. “Todo o mundo sabe que existe racismo branco antipreto. Quanto ao racismo preto antibranco, quase ninguém quer saber. Porém, quem quer que observe a cena racial do mundo vê que o racismo negro é um fato”, diz o autor, logo do artigo.

Segundo a professora da Universidade Federal de Goiás (UFG) e líder do Grupo Transdisciplinar de Estudos Interculturais da Linguagem, Tânia Rezende, o racismo contra brancos não se sustenta. Nesse sentido, a pesquisadora se preocupa ao ver artigos como este.

“[Racismo contra brancos] não tem sustentação. Não há nada político, social, econômico nem teórico que sustente isso. Mas, quando se fala algo, a linguagem instaura a existência disso. Por isso fico triste, porque pessoas que defendem isso vão dizer que um autor afirmou a existência do racismo contra branco. Isso é sério”, alerta a pesquisadora.

Professora da Universidade Federal de Goiás (UFG) e líder do Grupo Transdisciplinar de Estudos Interculturais da Linguagem, Tânia Rezende. (Fonte: Currículo Lattes/CNPQ)

Para explicar como o racismo contra pessoas brancas – comumente chamado de “racismo reverso” – não se sustenta, a professora dá exemplos práticos.

“O que dá sustentação ao racismo contra o branco? A gente não vai encontrar uma resposta. Como é que os negros tiram vantagens dos brancos? Onde existe esta vantagem? Os brancos são obrigados a trabalhar para que negros tenham privilégio?”, questiona Tânia Rezende.

Conquistas contra o racismo

Antonio Risério, segundo a professora da UFG, já foi “referência nas discussões sobre o movimento e a negritude”. No entanto, ultimamente, vem caminhando para discussões como a do racismo contra brancos.

Segundo a professora, textos como o publicado na Folha são reações às conquistas dos movimentos antirracistas. “Precisamos estar preparados e não achar que é bobagem. Outros discursos como este, talvez até mais fortes, virão. Precisamos reagir com argumentos, levando a sério e não achar que é passageiro”, defende Tânia Rezende.

Em 2022, está prevista a revisão da Lei 12.711/2012, que garante a política de cotas nas universidades brasileiras. Após dez anos da promulgação, que aconteceu em 2012, a lei deve passar por revisão e a renovação precisa ser feita até agosto de 2022.

Também neste ano, haverá a primeira eleição do país com o reserva de recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanhas (FEFC) e tempo em rádio e TV para candidatos negros. Além disso, há previsão de que os partidos políticos reservem cotas mínimas para candidaturas de pessoas negras.

“Tudo isso incomoda porque amplia a quantidade de pessoas negras no Congresso Federal, em concursos e nas universidades, por exemplo. Uma coisa é os negros serem objetos de estudo e serem orientados por pessoas brancas. Outra coisa é os negros ocuparem espaços. Isso incomoda muita gente. Na luta do movimento negro, acho que damos cinco passos para frente e três para trás. Isso me deixa angustiada, mas seguimos”, afirma a pesquisadora e professora da UFG.

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Quatro estudantes da PUC-SP são desligados após se envolverem em atos racistas durante jogo

Quatro estudantes de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) foram desligados de seus estágios em escritórios de advocacia após um vídeo viralizar nas redes sociais, mostrando atos de racismo e aporofobia cometidos durante uma partida de handebol nos Jogos Jurídicos Estaduais. O incidente ocorreu no último sábado, 17, em Americana, interior de São Paulo. Nos registros, os alunos ofenderam colegas da Universidade de São Paulo (USP), chamando-os de “cotistas” e “pobres”.

As demissões foram confirmadas por meio de notas oficiais enviadas às redações. O escritório Machado Meyer Advogados, por exemplo, anunciou a demissão de Marina Lessi de Moraes, afirmando que a decisão estava alinhada aos seus valores institucionais, com o compromisso de manter um ambiente inclusivo e respeitoso. O escritório Tortoro, Madureira e Ragazzi também confirmou a dispensa de Matheus Antiquera Leitzke, reiterando que não tolera práticas discriminatórias em suas instalações. O Castro Barros Advogados fez o mesmo, informando que Arthur Martins Henry foi desligado por atitudes incompatíveis com o ambiente da firma. O escritório Pinheiro Neto Advogados também comunicou que Tatiane Joseph Khoury não faz mais parte de sua equipe, destacando o repúdio ao racismo e qualquer forma de preconceito.

Repercussão do caso

O episódio gerou forte indignação nas redes sociais e foi amplamente criticado. O Centro Acadêmico XI de Agosto, que representa os alunos da Faculdade de Direito da USP, se manifestou, expressando “espanto, indignação e revolta” com as ofensas racistas e aporofóbicas proferidas pelos alunos da PUC-SP. A instituição ressaltou que o incidente representou uma violência contra toda a comunidade acadêmica.

Em resposta, a reitoria da PUC-SP determinou a apuração rigorosa dos fatos pela Faculdade de Direito. Em comunicado, a universidade afirmou que os responsáveis serão devidamente responsabilizados e conscientizados sobre as consequências de suas atitudes. A PUC-SP reiterou que manifestações discriminatórias são inaceitáveis e violam os princípios estabelecidos em seu Estatuto e Regimento.

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