A importância do inglês no turismo no Brasil
Falar o idioma não é apenas um diferencial para um bom atendimento aos turistas,
mas também uma ponte que conecta pessoas e gera oportunidades
Lembro-me de estar bem cedo na praia, no Rio de Janeiro, quando fui abordado por
um homem que me pediu para dar uma olhada em seus pertences pessoais. Ele se
aproximou com um “oi”, mas logo percebi que ficou sem jeito, sem saber como
prosseguir com o pedido. Na hora, notei: gringo!
Rapidamente comecei a falar com ele em inglês e o sorriso que ele abriu disse tudo. Ele se sentiu confortável, e acabamos
conversando por um bom tempo. Me contou sobre sua estadia na Cidade Maravilhosa,
as experiências que estava vivendo e como se sentia acolhido no Rio de Janeiro
depois de se deparar com interações como essa.
Lembro-me também de outro momento, quando estava almoçando perto da praia no
Leblon com amigos. Notei um casal de americanos na mesa ao lado tentando se
comunicar com o garçom. A frustração começava a surgir tanto para os turistas,
que não conseguiam expressar seus pedidos, quanto para o garçom, que fazia o
possível para entendê-los. Como um bom carioca, ele tentava, como diz a gíria
brasileira, se virar nos trinta, porém ele não estava tendo muito êxito.
Percebendo a situação, pedi licença ao garçom por interrompê-lo e, então, me
dirigi ao casal.
— Hi, I see you’re having some difficulties placing your order. Would you like
some help? (Oi, vejo que vocês estão tendo dificuldades para fazer o pedido.
Gostariam de ajuda?)
Traduzi ao garçom o que havia dito e, imediatamente, notei sorrisos de ambos os
lados. Em um instante, a tensão se dissipou e o almoço do casal prosseguiu sem
problemas. Mais do que facilitar a comunicação, aquele simples gesto deixou uma
boa impressão dos brasileiros para aqueles turistas.
Esses episódios me fizeram refletir sobre a importância do inglês no turismo no
Brasil. O domínio do idioma não apenas melhora a experiência dos visitantes estrangeiros, mas também
fortalece a imagem do país como um destino acolhedor e acessível. Afinal,
pequenos gestos podem transformar uma viagem, e um simples “Can I help you?”
pode fazer toda a diferença.
No entanto, isso me fez refletir sobre algo importante. O garçom não tem culpa
por não saber inglês. A verdade é que, no Brasil, falar inglês ainda é um
privilégio de poucos. De acordo com o English Proficiency Index de 2023, o país
ocupa a 64ª posição entre 113 países, ou seja, nosso nível de inglês ainda é
considerado baixo. E faz sentido quando olhamos para os números: um estudo do
British Council de 2023 aponta que apenas 5% da população fala inglês e somente
1% possui fluência no idioma, sendo que a maioria dessas pessoas vêm de famílias
de classe média ou alta.
Aprender inglês tem um custo – e não é pequeno. Cursos de idiomas podem custar
entre R$ 250 e R$ 1.500 por mês, um valor que pesa no orçamento de muita gente.
Já escolas bilíngues, que oferecem um ensino mais aprofundado desde cedo, podem
cobrar mensalidades que ultrapassam R$ 5.000. Não é difícil entender por que
tanta gente simplesmente não tem acesso ao aprendizado do inglês.
No fim das contas, isso cria um ciclo de desigualdade. Quem fala inglês tem mais
oportunidades, enquanto quem não tem essa chance acaba ficando para trás. E no
turismo, essa barreira de idioma pode dificultar tanto a experiência dos
visitantes quanto o trabalho de quem os atende.
Capacitar as pessoas para falar inglês no setor de turismo, então, é muito mais
do que um simples investimento em treinamento. Isso gera satisfação, fideliza os
turistas e contribui de forma significativa para o crescimento sustentável do
setor no Brasil.
É claro que já me passou pela cabeça a questão inversa. Quando nós, brasileiros,
viajamos para o exterior, espera-se que saibamos inglês ou a língua local do
país que visitamos. E quantas vezes, ao não falarmos fluentemente, somos criticados?
A comunicação é uma via de mão dupla. Se queremos que o Brasil seja visto como
um país acolhedor para o turismo internacional, precisamos investir no
aprendizado do inglês e na acessibilidade linguística. Afinal, turismo é mais do
que belas paisagens, é também sobre criar conexões, tornar a experiência do
visitante mais fluida e garantir que ele saia do Brasil com vontade de voltar.
No fim das contas, falar inglês não é só um diferencial no turismo, mas uma
ponte que conecta pessoas, cria oportunidades e melhora a experiência de quem
visita o Brasil. Pequenos esforços, como capacitar funcionários do setor e
tornar serviços mais acessíveis, podem fazer toda a diferença. Felizmente,
algumas iniciativas já mostram que esse caminho é possível.
O Brasil já é conhecido pelo seu povo acolhedor e suas paisagens incríveis, mas
imagine se, além disso, os turistas estrangeiros pudessem se sentir ainda mais
bem-vindos ao serem compreendidos? Investir no ensino do inglês no setor de
turismo não é só uma questão de praticidade, mas um passo essencial para criar
conexões genuínas e fortalecer o país como um destino verdadeiramente acessível
para todos.