Enquanto a vacina deixa uma pequena marca, a falta dela causa sequelas. O servidor público Brazil Nunes convive com as consequências da poliomielite, mais conhecida como paralisia infantil, e é prova de como políticas públicas de saúde podem funcionar. Apesar de ser prevenida com algumas doses de imunizante, somente 54,75% das crianças goianas menores de 5 anos receberam as gotinhas este ano.
Antes de o Zé Gotinha se tornar símbolo da campanha nacional contra a paralisia infantil e depois da imunização em geral, Brazil sentia como a poliomielite poderia restringir a vida. Ele tinha menos de dois anos de idade quando 12 crianças de uma pequena cidade no interior do Rio Grande do Norte onde nasceu tiveram a doença. Somente ele e mais uma sobreviveram.
“Lá não chegavam vacinas. O nordeste sempre foi esquecido pelas autoridades, isso mudou depois dos anos 80, quando descobriram nossas praias e belezas naturais. Minha mãe conta que eu era uma criança saudável e ‘do nada’ acordei chorando com uma febre muito alta, chorando com dores”, relembra.
Com o passar dos anos, a vida ficou mais limitada. O servidor não conseguia correr, andar de bicicleta e praticar exercícios como os amigos. A poliomielite é causada por um vírus contagioso que ataca o sistema nervoso, destrói os neurônios motores e provoca a paralisia flácida em um dos membros inferiores, restringindo a mobilidade.
“Eu costumo falar que a paralisia infantil roubou a minha infância e adolescência, mas não os meus sonhos. Sempre fui um sonhador e tenho uma família maravilhosa. Quem sofre de pólio tem que ter acompanhamento médico para o resto da vida. Agora tenho problemas na coluna e pratico exercícios para evitar dores e ter qualidade de vida”, afirma.
Uma das conquistas foi ter estrelado a campanha nacional da Justiça Federal informando a possibilidade de votação em seção especial para eleitores com dificuldade de locomoção. Ele defende a vacinação e alerta para a importância do esquema vacinal completo atualizado. Ao todo, são necessárias três doses da vacina injetável, administradas aos 2, 4 e 6 meses de idade, mais dois reforços com a vacina oral, aos 15 meses e aos 4 anos de idade.
Probabilidade de retorno
Em Goiás, o público -alvo tem 405.617 crianças, sendo 76,8 mil em Goiânia. Como quase metade delas não está imunizada contra poliomielite, a Secretaria Estadual de Saúde está capacitando as equipes para para diagnosticar a doença. De acordo com a superintendente de Vigilância em Saúde da SES-GO, Flúvia Amorim, o risco de a doença retornar é alto, visto que apenas um Estado brasileiro, a Paraíba, alcançou os 95% da meta preconizada pelo Ministério da Saúde.
“A Organização Pan-Americana da Saúde classificou o Brasil com um risco muito alto de reintrodução da paralisia infantil. Em uma avaliação do continente americano, o Brasil só ficou atrás do Haiti. Isso é muito triste porque sempre fomos um país modelo em campanhas de vacinação, principalmente contra a paralisia infantil”, lamenta Flúvia.
Parte da explicação para a cobertura vacinal em queda está em uma pesquisa sobre os motivos da hesitação vacinal, realizada pelo do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems). O levantamento indica que há a percepção de baixo risco para as doenças porque as pessoas não veem outras infectadas, criando uma sensação de falsa segurança.
Onde se vacinar?
A Secretaria Municipal de Saúde disponibiliza a vacina em 72 salas diariamente. Nos finais de semana e feriados, a vacinação ocorre no Centro Municipal de Vacinação (CMV) e no Ciams Urias Magalhães, com doses disponíveis todos os dias. Confira a lista completa clicando aqui.
Transmissão
A contaminação pode ocorrer em crianças e em adultos pelo contato direto com fezes ou com secreções eliminadas pela boca das pessoas doentes e provocar ou não paralisia. A doença pode ser mortal, se forem infectadas as células dos centros nervosos que controlam os músculos respiratórios e da deglutição.