Um jornalista na segunda-feira é um coitado perturbado. No trabalho, hoje, houveram notícias de assassinatos frios, vinganças inescrupulosas, estupros vergonhosos e desastres da natureza. “Que dia pesado!”, exclama o redator do jornal, sentindo o peso do mundo por detrás do visor de seu computador.
Mas às seis e meia da tarde, algo misterioso começa a acontecer no céu, diante de sua janela: a luz se avermelha, o sol se esconde por detrás das nuvens azuladas e somente os raios luminosos são vistos ecoando delicados por detrás delas. E este céu, de segunda-feira, nunca se repetiu: é um encantamento diferente, a cada semana.
Pois bem, o jornalista pensa: “Como pode um céu tão belo nos cobrir depois de tudo o que fizemos hoje?”. O jornalista, que não sabe responder, formula outra pergunta: “Como pode o calor do sol nos aconchegar tanto, se ele sabe quem somos?”.
Se a chuva cai sobre bons e maus, decerto que o sol também divaga sobre culpados e inocentes, e aquece ambos. E o pobre jornalista ainda não compreende a caridade do firmamento. Mesmo assim, no fim do dia, ele sabe de uma coisa apenas: “A luz ainda acredita em nós”.
E assim ele dorme tranquilo para a terça-feira, de coração lavado pela visão do paraíso. Porque ele vê que a redenção do mundo não está assim tão distante: basta olhar para o alto.
Imagem: pôr do sol no bairro Goiânia II