A atriz da série brasileira da Netflix, “Cidade Invisível”, Julia Konrad afirmou ter sofrido estupro conjugal. A declaração foi dada para o videocast “Desculpa Alguma Coisa”, com Tati Bernardi. Segundo ela, tudo aconteceu em um antigo relacionamento, descrito como abusivo.
De acordo com Julia, o termo “estupro conjugal” não é algo novo, mas a maneira como é entendido socialmente sim. “Antigamente você via como um cara que casou um a menina novinha e força relações sexuais ou o cara que bate, uma coisa violenta. O que a gente está entendendo hoje são as nuances do consentimento, quando ele existe”, disse.
Ela ainda explica que em alguns relacionamentos existem espécies de dinâmicas de poder. Nesses casos, Julia diz que o consentimento não é dado, já que a pessoa se sente coagida, citando casos de ameaças.
“É uma dinâmica normal, construída por séculos, onde a mulher é vista como propriedade, tem o dever de satisfazer o marido. A gente vive em uma sociedade que prepara a gente para isso”, afirma.
“Acham que o problema é com elas”
Durante o bate-papo, Julia comentou sobre casos em que as mulheres têm disfunções e não têm libido, o que faz com que pensem que o problema está nelas mesmas. É nesse momento que a atriz relata os abusos que sofreu no antigo relacionamento. “Quantas mulheres não acordam com o marido ali dentro? Isso acontecia comigo. Eu acordava e [a relação sexual] já estava acontecendo. Mas era meu namorado, eu achava que estava tudo bem”, conta.
Com o estupro conjugal, Julia relata que sentia dores e torcia para que o ex-namorado terminasse o ato, fazendo com que ela entendesse que o corpo dela não respondia àquela relação. “Eu achava que era frígida, que era um problema totalmente meu. É meio que essa lavagem cerebral”, relata.
Reação violenta
Ao tentar resolver a situação com o ex-namorado, até então atual, ele reagiu de forma violenta, segundo ela, reforçando a ideia de que o problema seria ela. Segundo Julia, a ficha caiu durante sessões de terapia.
“E aí fui cada vez mais me apagando, me anulando e, para mim, era normal sangrar, doer, quando ia fazer xixi depois. Só fui entender tudo isso anos depois. Quando eu decidi escrever a carta [carta aberta onde relata o estupro], foi um ano depois de ter elaborado isso. Caiu a ficha na terapia”, diz.
Julia relatou que percebeu que havia sido vítima de estupro conjugal após relembrar passados e parceiros. Com os relatos do então relacionamento, a terapeuta afirmou que ela estava descrevendo uma violência sexual.
Situação pública
A atriz informou no bate-papo que quando tudo aconteceu, a lei previa que as mulheres tinham até seis meses para denunciar agressões. Ela reforça que a lei mudou, mas que não retroage. Portanto, ela falou sobre a experiência publicamente e recebeu validação do público. “Muitas mulheres me escreveram depois. Isso para mim foi tão importante. Foi a validação de que o que eu estava fazendo era certo, e era o que eu devia ter feito, porque eu me expus bastante ali, expus uma parte privada, muito íntima”, desabafou.
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