Cantora apaga videoclipe após ter gesto comparado a sinal de facção na Bahia; especialista repercute atuação de grupos criminosos
Duquesa aparecia nas imagens fazendo gesto com as mãos que é usado por traficantes. Situação já provocou mortes no estado. SSP emitiu nota de posicionamento sobre o combate ao tráfico.
1 de 2 Duquesa apagou videoclipe após gesto ser comparado a sinal de facção — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Duquesa apagou videoclipe após gesto ser comparado a sinal de facção — Foto: Reprodução/Redes Sociais
A cantora de trap baiana Duquesa apagou um videoclipe do YouTube, após viralizar nas redes sociais por surgir fazendo um gesto comparado ao sinal de uma facção com atuação no estado. Nas imagens, que também viraram “trend” no TikTok, a artista exibe três dedos em destaque para a câmera, ao citar o número três na letra da música “Fuso”.
Em nota publicada nas redes sociais, Duquesa explicou que decidiu apagar o trabalho após ser informada da associação feita ao gesto, que se refere ao Bonde do Maluco. A cantora esclareceu ainda que os três dedos exibidos por ela faziam referência ao período em que passou nos Estados Unidos para participar de uma premiação.
“É importante destacar que a mensagem da artista é de empoderamento feminino, e o gesto não tinha qualquer intenção criminosa. Isso nunca fez parte da carreira da cantora”, aponta a nota.
No mesmo posicionamento a baiana destacou também que, em breve, lançará um novo conteúdo para a música, que vai substituir o videoclipe anterior. Já em um vídeo compartilhado no Instagram, ela comentou a polêmica envolvendo a situação.
“Muita gente que me perguntou ‘Aí Duq por que não pode fazer os sinais? O que está acontecendo?’, são pessoas de fora da Bahia, não entendem o que está acontecendo, mas aqui na Bahia, simbologia com as mãos que simula números, gestos… no geral, usar as mãos em fotos, em vídeos, estão sendo associadas a símbolos de organizações criminosas”, explicou a rapper.
SINAIS E FACÇÕES NA BAHIA
2 de 2 Irmãos percussionistas do Malê Debalê foram mortos após fazerem sinal associado a facção na Bahia — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Irmãos percussionistas do Malê Debalê foram mortos após fazerem sinal associado a facção na Bahia — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Os casos de violência provocados por gestos associados a facções criminosas têm acontecido com certa frequência no país. Na Bahia, algumas situações se destacam, como as mortes de Gustavo Natividade, de 15 anos, e Daniel Natividade dos Santos, de 21, ocorridas em outubro do ano passado.
Percussionistas do Malê Debalê, um dos principais blocos afros do Brasil, os irmãos foram atacados a tiros em um destino turístico de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), depois de uma foto fazendo sinais com as mãos, que podem ter sido confundidos com gestos de facções.
Em agosto do mesmo ano, a adolescente Maria Heloísa Santana de Jesus foi morta no bairro da Fazenda Grande do Retiro, na capital baiana, após surgir dançando em um vídeo feito em uma festa. Nas imagens, conforme detalhou a Polícia Civil (PC), uma pessoa teria passado fazendo o sinal de uma facção rival da com atuação na localidade onde a menina morava.
Ao DE, o policial civil das Operações Especiais Douglas Pithon explicou a relação desses grupos com os gestos e siglas que são associados a eles. Para o especialista em inteligência e segurança pública, o objetivo é o mesmo: reconhecimento.
“É importante passear na história e perceber que os grupos extremistas ou criminosos, sempre criaram siglas, símbolos e estilos próprios com o objetivo de serem reconhecidos, um dos maiores exemplos é a suástica nazista”, afirmou.
Além de marcar território, esses grupos também acabam impondo regras, deveres e até proibições aos moradores das comunidades onde estão instalados, conforme detalhou Pithon.
“Nos últimos dez anos, as duas maiores facções do Brasil têm intensificado suas ações no nordeste do país, incluindo a Bahia. Logicamente, as mesmas ações implementadas nos outros estados começam a surgir de uma maneira mais intensa também no território baiano”, explicou.
Apesar da movimentação já existente no estado, o especialista classifica a atuação das facções criminosas como recente e destaca, como contrapartida, a ação integrada da segurança pública para combater e impedir a expansão.
“O fato é que isso ainda é embrionário, e as forças de segurança estão trabalhando integradas, com foco nas ações de inteligência para prospectar cenários e mapear riscos. Além das intervenções investigativas realizadas pela Polícia Judiciária com objetivo de prender lideranças e apreender bens financeiros, enfraquecendo o poder desses grupos. Enfim, a estamos utilizando todos os recursos para dar o enfrentamento necessário a essa problemática”, detalhou.
O policial civil também ressaltou a necessidade da intervenção de outras áreas da sociedade no combate às facções, como as entidades não governamentais, a escola e a Justiça. Mas enfatizou a necessidade do cuidado, sobretudo com os jovens.
“Eu sou pai e tenho um filho de 13 anos e uma filha de 14 anos, e minha orientação é que não façam esses gestos, não escutem músicas que façam apologia ao crime, e não frequentem locais onde exista incidência de grupos armados. É o óbvio e é uma realidade, precisamos olhar para além e perceber que essa situação precisa ser encarada de frente”, pontuou.
O que diz a Secretaria da Segurança Pública
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) informou que tem ampliado o combate às facções no estado desde 2024, e citou prisões ocorridas ao longo do ano relacionadas às investigações. “A Secretaria da Segurança Pública destaca que ampliou o combate às facções em 2024. Noventa e quatro líderes foram alcançados, entre eles 22 que faziam parte do Baralho do Crime. Acrescenta também que 86 fuzis (número recorde) foram apreendidos, impactando diretamente na redução das mortes violentas em todo o estado. Por fim, a SSP reitera o compromisso do combate incansável contras os grupos criminosos, em 2025”.
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