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Advogados e criminosos de facções utilizavam códigos para despistar a polícia durante conversas, em Goiás

Última atualização 14/09/2022 | 08:29

Entre os 16 advogados presos na Operação Veritas, realizada pela Polícia Civil (PC) no último dia 6 setembro, sete tiveram prisões preventivas mantidas pela Justiça durante audiência de custódia. O documento sigiloso, ao qual o Diário do Estado (DE) teve acesso, também expõe as conversas realizadas entre os suspeitos e membros das facções paulista Primeiro Comando da Capital (PCC), e goiana Amigos do Estado (ADE). Ambas são aliadas.

Conforme o documento, os advogados eram escolhidos a dedo e também tinham um perfil: idades entre 26 e 30 anos e no início da carreira. Eles recebiam quantias entre R$ 5 mil e R$ 20 mil por mês das facções, para que agissem como ‘garotos de recados’, fazendo uma espécie de ponte entre os presos de Goiás e criminosos da favela do Morro dos Prazeres, no Rio de Janeiro. 

Entretanto, os valores eram pagos de acordo com a importância do advogado para a facção. Os mais importantes, por exemplo, recebiam até R$ 20 mil em um único atendimento. Alguns deles, inclusive, se conheciam e trabalhavam para os mesmos presos.

Códigos

Entre as conversas adquiridas pelo DE, se destacam os códigos utilizados pelos criminosos e advogados, a fim de despistar as suspeitas da polícia. Nos diálogos, os criminosos usam palavras como: lojas, carros, carros originais, camisa branca e camisa amarela, além de denunciarem membros da facção por estarem vendendo drogas e armas sem o conhecimento dos ‘chefes’.

Conforme o documento, as lojas seriam os pontos de venda de drogas, os carros seriam a mercadoria (drogas) e os carros originais seriam as drogas puras, sem mistura e de maior valor. As camisas, por outro lado, também se referem ao comércio ilegal de entorpecentes. A camisa branca seria cocaína e a camisa amarela simboliza o crack.   

Como o processo segue em segredo de Justiça, os nomes dos envolvidos não foram divulgados.

Confira:

“Advogado: Referente a loja, já montei só falta um bom funcionário.

Preso: Mano, quero saber quantos carros pegou e se foi com o tio. Sobre o funcionário fica tranquilo que dará certo. Você já soltou todo mundo?

Em uma outra conversa, um outro preso faz a seguinte pergunta: 

Preso: Bom dia, mano ‘véio’. Estou precisando trabalhar, não vou ficar mais parado e tem muita gente que depende de mim. Estou precisando da sua ajuda e só vou vender os carros originais para não dar dor de cabeça. Se puder adiantar 10 camiseta branca e 20 amarela. Fala para o Dedé que eu vou soltar a dele original, para que o Pingo e o Gegê não ‘solta’ a menos de 10. Você tá soltando a 13?

Um dos presos também pergunta aos advogados como está o andamento nas lojas (pontos de vendas).

Preso: Quero saber se é você mesmo que está falando com o meu tio. Pergunta para ele quando vai fazer pra mim. Se vai mandar os 15 amarelo e os 20 do branco, se vai fazer por R$ 15 mil para me ajudar. Organiza a loja e arruma uma pessoa ‘responsa’ para trabalhar. Passa R$ 3 mil para a Natália e avisa que vou mandar todo mês, mas fala para ela cadastrar a minha filha. Estou chateado com a atitude dela. Manda a resposta o mais rápido possível pela doutora (se referindo a uma das advogadas presas e que teve a prisão preventiva mantida).”

Advogado denuncia membro por traição 

“Advogado: Você mandou ideia pelo Douglinhas? Era para ele ajudar a olhar a região, então ele criou asas e tá tomando a sua quebrada. Colocou um monte de moleque que não escuta a minha voz, vou levar ele nas ideia para os irmãos está resolvendo isso aí. Coloquei o Brenin no morro para ser os meus olhos lá.

Preso: Fala para levar o Douglinhas na final e cortar as asas dele, é para puxar o freio. As lojas lá são minhas, para ele vender só as minhas roupas, que é para se virar e arrumar o meu dinheiro.”

Prisão 

A PC desconfiou da atuação dos advogados ao receber informações de que um preso no Presídio de Planaltina de Goiás recebeu 600 visitas de advogados em um ano, ou seja, quase duas visitas por dia.