Fernando Pessoa, Gonçalves Dias, Émile Zola: advogados recorrem à literatura para tentar livrar acusados da trama do golpe
Na tentativa de absolver os acusados no julgamento sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022, os advogados de defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete réus utilizaram referências literárias para embasar seus argumentos. Entre o segundo e terceiro dia de audiência perante a primeira turma do Supremo Tribunal Federal, as defesas recorreram a obras de renomados escritores como Fernando Pessoa, Gonçalves Dias e Émile Zola, em uma estratégia para influenciar a decisão dos juízes.
O advogado Paulo Cunha Bueno, responsável pela defesa de Jair Bolsonaro, comparou o julgamento a uma “versão brasileira do caso Dreyfus”, fazendo referência ao escândalo que envolveu a condenação injusta do capitão Alfred Dreyfus por traição, no final do século 19. Anos depois, a verdade veio à tona, demonstrando que o verdadeiro responsável era outro militar, o que resultou na absolvição e reintegração de Dreyfus ao Exército.
Durante a fala do advogado de defesa do general Paulo Sérgio Nogueira, Andrew Fernandes Farias, o ministro Flávio Dino comentou a combinação entre referências literárias e históricas presentes nos argumentos apresentados. O advogado utilizou citações de Émile Zola e Gonçalves Dias, além de recitar trechos do poema “I-Juca-Pirama” como forma de enaltecer o caráter do general. Essa abordagem apresentada pelas defesas mostra a tentativa de contextualizar o caso em uma narrativa mais profunda e marcante.
Outras menções literárias foram feitas ao longo do julgamento, como a referência ao autor Émile Zola, conhecido por sua obra “Eu acuso!”, na qual denunciou um erro judiciário. Da mesma forma, o poema “I-Juca-Pirama” de Gonçalves Dias foi utilizado para ressaltar a bravura e a honra do general Paulo Sérgio Nogueira, reforçando a tentativa de construir uma narrativa que influenciasse a percepção dos juízes sobre os acusados.
Já o advogado Andrew Fernandes Farias recorreu ao poema “Poema em Linha Reta”, de Fernando Pessoa, para embasar seu argumento de que a Comissão de Transparência das Eleições não era eficiente. Com uma mistura de versos inventados e estrofes originais, Fernandes Farias buscou transmitir a ideia de que a transparência e a honestidade são elementos essenciais para a resolução do caso em questão, ressaltando a importância da verdade na defesa dos réus. Essa estratégia de mesclar literatura com a argumentação jurídica demonstra a criatividade e a complexidade das estratégias utilizadas pelos advogados durante o julgamento.