Afeto, técnica e até combate à violência: conheça rotinas de cuidadoras

Seja em hospitais ou na própria residência do paciente, cuidadores e cuidadoras desenvolvem um trabalho que exige mais que técnica: também é preciso afeto e sensibilidade. Aliadas, estas habilidades têm potencial de deixar o dia a dia de pessoas acamadas mais leve, tranquilizar famílias e até detectar casos de violência.

Mara Lúcia Pereira da Silva Fernandes é cuidadora há mais de vinte anos, em Goiânia. “Já cuidei de várias pessoas, de todos os jeitos e maneiras. Tem idosos que são mais calminhos, outros mais bravos. Mas eu não faço diferença: o cuidado com todos eles é igual”, comenta, ao relembrar sua trajetória.

Hoje, ela atende o senhor Albertino, que completa 102 anos no domingo (8). “Ele é muito lúcido, fala nome, onde mora, onde nasceu. Ele me agradece o tempo todo. Nunca vi uma coisa tão maravilhosa”, comenta sobre o paciente. A rotina de cuidado envolve dar banho, remédios, fazer a barba, cortar as unhas, além de alimentar e garantir a hidratação, por meio de sonda. Outra necessidade básica, segundo Mara, é o afeto.

“Eu danço, brinco, dou um ‘bom dia’ bem animado. Alguns brincam e até me chamam de doida. Esse alto astral faz parte do trabalho. Eles já estão acamados, tristonhos, então tem que fazer alguma coisa diferente para animar a vida”, comenta.

A filha do senhor Albertino, a professora universitária Rosane Castilho, conta que o pai sofreu um AVC isquêmico em maio do ano passado. Foi quando a família buscou uma empresa que oferece o serviços de cuidadores. Enquanto cliente, ela concorda com a ideia de que o trabalho de cuidar vai muito além de cuidados com higiene, alimentação e saúde “O treinamento a pessoa pode receber e aprender, mas o afeto é decisivo. Ouvir e responder com atenção são coisas muito importantes, porque gera conforto e sensação de que tem alguém do lado. Não é só a parte técnica. Se fosse, poderia ser um robô fazendo”, comenta.

Rotina e exigências da profissão

Talita Ferreira de Paiva, enfermeira e uma das proprietárias da agência em que Mara trabalha, em Goiânia, conta que o local tem cerca de 50 profissionais cadastrados. Todos têm curso profissionalizante na área de cuidador, que pode durar de 60 a 120 horas. Na entrevista, é analisado o perfil e ter experiência é um diferencial.

“No curso, existem conteúdos sobre o que é terceira idade, estatuto do idoso, questões voltadas ao combate à violência contra idosos, cuidados básicos do dia a dia, informações sobre higiene – que envolvem banho e troca de fraldas, por exemplo – , principais doenças que atingem a terceira idade, alimentação e como manter a dieta do paciente. Também é ensinado como checar sinais de pressão alta, diabetes e identificar febre, por exemplo”, detalha a empresária.

Ines Zioni da Silva começou a atuar na profissão em 2020, em Goiânia. Nestes dois anos, tomou gosto pela área e resolveu fazer um curso técnico de enfermagem para aprimorar. Por outro lado, a cuidadora conta que aprende mais na prática da profissão. O foco de Ines é no atendimento a pacientes idosos. “Eles são muito carentes e sozinhos. Não têm com quem conversar. Acho que foi a carência deles que fez eu pegar amor. Para mim, isso é o principal”, comenta. Hoje, ela concilia o cuidado a dois pacientes, alternando os horários.

A cuidadora conta que, por mais que existam muitas famílias exigentes quanto ao cuidado, outras são poucas presentes na vida dos idosos ou outros pacientes que necessitem de um cuidador. “Nem toda família é atenciosa. Algumas são desligadas. Os familiares não costumam ter aquela paciência de sentar e escutar [o paciente]. E é isso que eles querem: ter alguém para conversar”, relata.

Além da escuta, a observação é importante, inclusive para identificar quando um paciente está sendo vítima de violência. “A gente já recebeu demanda de familiares que relataram algum tipo de violência cometida pelo cuidador. Apesar de a questão da violência ser discutida em todo curso para cuidador, isso vai da índole de cada pessoa também, infelizmente. Por outro lado, cuidadores também relatam violências por parte da família: não só física, mas psicológica, e financeira também”, comenta a empresária Talita.

Mercado de trabalho dos cuidadores

Ines consegue trabalhos tanto via agência, quanto de forma particular, negociando diretamente com a família do paciente. “No grupo da agência, todos os dias tem vaga”, conta, pontuando que o mercado tem grande demanda. Ela recebe, em média, R$ 130 por plantão de 12h, se for por meio de agência, e R$ 150 caso seja contratação particular para este mesmo período. Os turnos costumam de ser de 12 ou 24 horas.

A profissão de cuidador ou cuidadora é recente, conforme explica Talita. “Começou a se institucionalizar nos últimos dez anos. Antes, as famílias contratavam um profissional doméstico, um secretário do lar”, relembra. A empresa da enfermeira, que existe há seis anos, vem tendo aumento de demanda. “A gente notou crescimento exponencial da procura, principalmente para evitar levar idosos para instituições de longa permanência [antigos asilos]. O segundo motivo principal é o de a própria família poder manter a supervisão. Outro ponto é a estabilidade do idoso: não precisar retirar ele de casa”, comenta.

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Hugo destaca avanço em cirurgias endoscópicas com melhorias e investimentos

O Hospital de Urgências de Goiás Dr. Valdemiro Cruz (Hugo), unidade do governo do Estado gerida pelo Hospital Israelita Albert Einstein desde junho deste ano, realizou no final de novembro sua primeira cirurgia endoscópica da coluna vertebral. Essa técnica, agora prioritariamente utilizada nos atendimentos de urgência e emergência, é minimamente invasiva e representa um avanço significativo no tratamento de doenças da coluna vertebral, proporcionando uma recuperação mais rápida e menores riscos de complicações pós-cirúrgicas.

Segundo o coordenador da ortopedia do Hugo, Henrique do Carmo, a realização dessa técnica cirúrgica, frequentemente indicada para casos de hérnia de disco aguda, envolve o uso de um endoscópio. Este equipamento, um tubo fino equipado com uma câmera de alta definição e luz LED, transmite imagens em tempo real para um monitor, iluminando a área cirúrgica para melhor visualização. O tubo guia o endoscópio até a área-alvo, permitindo uma visão clara e detalhada das estruturas da coluna, como discos intervertebrais, ligamentos e nervos.

“Quando iniciamos a gestão da unidade, uma das preocupações da equipe de ortopedia, que é uma especialidade estratégica para nós, foi mapear e viabilizar procedimentos eficazes já realizados em outras unidades geridas pelo Einstein, para garantir um cuidado mais seguro e efetivo dos pacientes”, destaca a diretora médica do hospital, Fabiana Rolla. Essa adoção da técnica endoscópica é um exemplo desse esforço contínuo.

Seis meses de Gestão Einstein

Neste mês, o Hugo completa seis meses sob a gestão do Hospital Israelita Albert Einstein. Nesse período, a unidade passou por importantes adaptações que visam um atendimento mais seguro e de qualidade para os pacientes. Foram realizados 6,3 mil atendimentos no pronto-socorro, mais de 6 mil internações, mais de 2,5 mil procedimentos cirúrgicos e mais de 900 atendimentos a pacientes com Acidente Vascular Cerebral (AVC).

A unidade passou por adequações de infraestrutura, incluindo a reforma do centro cirúrgico com adaptações para mitigar o risco de contaminações, aquisição de novas macas, implantação de novos fluxos para um atendimento mais ágil na emergência, e a reforma da Central de Material e Esterilização (CME) para aprimorar o processo de limpeza dos materiais médico-hospitalares.

Hoje, o Hugo também oferece um cuidado mais humanizado, tanto aos pacientes como aos seus familiares. A unidade implementou um núcleo de experiência do paciente, com uma equipe que circula nos leitos para entender necessidades, esclarecer dúvidas, entre outras atividades. Além disso, houve mudança no fluxo de visitas, que agora podem ocorrer diariamente, com duração de 1 hora, em vez de a cada três dias com duração de 30 minutos.

Outra iniciativa realizada em prol dos pacientes foi a organização de mutirões de cirurgias, visando reduzir a fila represada de pessoas internadas que aguardavam por determinados procedimentos. Essa ação viabilizou a realização de mais de 32 cirurgias ortopédicas de alta complexidade em um período de dois dias, além de 8 cirurgias de fêmur em pacientes idosos. Todos os pacientes beneficiados pelos mutirões já tiveram alta hospitalar.

Plano de investimentos para 2025

Para o próximo ano, além do que está previsto no plano de investimentos de R$ 100 milhões anunciado pelo Governo de Goiás, serão implantadas outras melhorias de fluxos e processos dentro das atividades assistenciais. Isso inclui processos preventivos de formação de lesões por pressão, otimização de planos terapêuticos, cirurgias de emergência mais resolutivas, e outras ações que visam aprimorar o cuidado dos pacientes.

O hospital também receberá novos equipamentos, como o tomógrafo doado pelo Einstein para melhorar o fluxo de pacientes vítimas de trauma e AVC, e um robô de navegação cirúrgica.

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