Agência da Caixa será fechada em Cipó-Guaçu, SP: impacto em região com poucos acessos

agencia-da-caixa-sera-fechada-em-cipo-guacu2C-sp3A-impacto-em-regiao-com-poucos-acessos

Agência da Caixa vai fechar em região de SP com pouca internet e transporte irregular

Unidade do DE de Cipó-Guaçu, no extremo da Zona Sul da capital paulista, será fechada em 6 de outubro. Moradores não têm celular e vão precisar se deslocar quilômetros até agência mais próxima.

A cerca de 50 km da Praça da Sé, bairros entre São Paulo e Embu-Guaçu, com pouca ou nenhuma conexão à internet, e ônibus que circulam apenas três vezes ao dia, vão perder sua única agência bancária, a da Caixa Econômica Federal.

A notícia abalou os moradores de Cipó-Guaçu e arredores, que dependem da agência para sacar os benefícios do governo federal, como o Bolsa Família, auxílio-gás e FGTS.

Cipó-Guaçu é um distrito de Embu-Guaçu que recebeu esse nome porque, no passado, os moradores usavam cipós para atravessar um rio. Hoje, os cipós já não fazem parte da paisagem, mas algumas ruas de terra ainda resistem. Embora faça parte da Grande São Paulo, o distrito funciona como um enclave urbano, bastante frequentado por quem vive nas áreas de mata da capital, como Marsilac e Parelheiros, e até de Itanhaém. Sim, apesar de estar longe do mar, aplicativos de geolocalização às vezes indicam áreas de mata como parte da cidade litorânea.

A agência da Caixa fica na Rua Sesefredo Klein Doll, bem no centrinho do Cipó. De acordo com a instituição, deve fechar as portas no próximo dia 6 de outubro.

O motivo, segundo a Caixa, é o redimensionamento da rede de atendimento, “avaliado continuamente considerando aspectos estratégicos, mercadológicos e operacionais, com foco em eficiência, conveniência e qualidade do serviço prestado à população”.

E termina o e-mail lembrando dos canais remotos e digitais que dispõe: Internet Banking CAIXA e os aplicativos CAIXA Tem, Cartões CAIXA, Habitação CAIXA, FGTS, dentre outros. Por telefone, os clientes podem contatar o Alô CAIXA (4004 0104, capitais e regiões metropolitanas; 0800 104 0104, demais regiões).

Mas muitas pessoas da região não têm internet, sequer celular. DE esteve nos bairros e conversou com algumas delas. E também ficou sem sinal de internet.

José Miguel Pinhal, 65 anos, que já trabalhou como motorista e balconista, sempre no Cipó, não faz PIX, nem transferências. Vai a pé, uma vez por mês, sacar dinheiro, dentre outros serviços.

“Prejudica não só para mim, prejudica para todos. Se fecha aqui, temos que ir lá para Embu-Guaçu”.

A agência de Embu fica a aproximadamente 8 km do centro do Cipó, o que representa cerca de 25 minutos de ônibus. Para os moradores da zona rural — onde vive boa parte da população que depende do banco — é preciso acrescentar pelo menos mais 8 km ao trajeto. Outra agência “próxima”, é a Caixa de Parelheiros, a 17 km dali, e já bem movimentada.

Como os clientes do banco farão para ir às outras agências? Do Centro do Cipó, há transporte regular de ônibus. Mas para chegar até ali, é preciso improvisar. A pé, a cavalo, carona ou em um ônibus que passa de manhã, à tarde e à noite.

Pouco tempo atrás, nem isso. O “ônibus dos três horários” ficou sem passar por meses. No dia em que DE estava lá, o ônibus quebrou e o óleo derramou na terra. O motorista disse que teria que arcar tanto com o guincho, como com o conserto, sem apoio da prefeitura. DE procurou a administração municipal e aguarda posicionamento.

A Caixa Económica foi criada em 1861, por Dom Pedro II, com o propósito de incentivar a poupança para os mais pobres, incluindo pessoas escravizadas, que a usavam para juntar dinheiro e comprar a própria alforria. A instituição permitiu depósitos para escravos antes mesmo da abolição, sendo uma alternativa mais segura do que guardar o dinheiro em casas ou com os senhores.

Em frente à agência da Caixa do Cipó, a pasteleira se desespera com o fechamento do que chama de “única riqueza da cidade”.

“A única coisa que tem aqui é esse banco. Tanto lugar para fechar, querem fechar logo aqui. Vem de longe, vem do mato, vem sem perna, que até tenho que ajudar para colocar lá dentro da agência”, diz Rose Aparecida, 63 anos.

“Eu não sei ler, tenho que entrar no banco, não sei passar a maquininha. Tiro o dinheiro para pagar tudo. Eu não sei fazer PIX, não sei fazer nada, não tem que tirar, porque esse homem quer tirar esse banco. Tem que pôr mais banco, não tirar o que tem”, disse Rose Aparecida, 63 anos.

Box de Notícias Centralizado

🔔 Receba as notícias do Diário do Estado no Telegram e no WhatsApp