AGU diz que Janja exerce função de interesse público e dá aval a pagamento de gastos com viagens
Para o órgão, dinheiro público deve custear deslocamentos, hospedagens, segurança e alimentação da esposa de Lula. A agenda dela tem de ser pública e transparente, conclui AGU.
A Advocacia-Geral da União (AGU) elaborou um parecer que conclui que a posição de primeira-dama, ou de primeiro-cavalheiro, é uma função de interesse público e que, portanto, cabe ao Estado arcar com os custos decorrentes dessa função, incluindo despesas com viagens. Outra conclusão é que as atividades exercidas por uma primeira-dama devem ter total transparência, com divulgação permanente das agendas – a exemplo do que ocorre com pessoas que ocupam cargos de destaque no governo. O parecer vem sendo construído nos últimos meses pela AGU, num momento em que a primeira-dama, Janja da Silva, é alvo de uma ofensiva da oposição, que questiona o uso de recursos públicos para custear as atividades que realiza.
A existência do documento foi, inicialmente, noticiada pelo jornal “O Globo”. A GloboNews confirmou que o parecer está em finalização pela AGU. Para aliados, Lula 3 parece ‘Janja 1’; oposição quer colar agenda de ‘ostentação’ no governo. Parlamentares da oposição já apresentaram cinco requerimentos ao Executivo cobrando informações sobre as viagens de Janja. O líder da oposição na Câmara, deputado Coronel Zucco (PL-RS), afirmou que irá apresentar mais um requerimento para obter informações da viagem da primeira-dama ao Japão.
Os governistas têm reagido aos movimentos da oposição e também apresentaram requerimentos ao Executivo sobre gastos da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro com o cartão corporativo. Janja viajou a Tóquio uma semana antes de Lula e ficou vários dias sem compromissos na agenda. A primeira-dama viajou na aeronave precursora da viagem presidencial e ficou hospedada na embaixada do Brasil em Tóquio. Não houve gastos públicos extras com o deslocamento antecipado dela. Mesmo assim, a viagem tem sido alvo de críticas de opositores.
O parecer da AGU já tramitou por todas as áreas da pasta e deve ser finalizado nesta semana. O objetivo é dar segurança jurídica à atuação de Janja e de quem vier a sucedê-la na posição. Na visão do órgão, há interesse público nas ações da primeira-dama independentemente de ela não ter cargo oficial no governo ou mesmo algum cargo de honra (não-remunerado). A AGU analisou a situação em vários outros países e concluiu que o cônjuge do chefe de estado é tratado como uma figura que exerce função pública e tem seus custos bancados por recursos federais. O órgão também observou a jurisprudência em outras esferas, como decisões judiciais e pareceres da PGR (Procuradoria-Geral da República) e TCU (Tribunal de Contas da União).
Com o parecer, o Palácio do Planalto fica responsável por processar e analisar a pertinência dos convites recebidos por Janja, bem como arcar com despesas com deslocamentos, hospedagens, diárias, segurança e alimentação, assim como ocorre com qualquer figura do governo. O argumento da AGU é que, sendo a função de primeira-dama de interesse público, não faz sentido que o ocupante do posto use recursos do próprio bolso para custear as atividades. Em fevereiro, Janja viajou a Roma para participar da 48ª Sessão do Conselho de Governança do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola, com despesas pagas pelo governo. Ela também embarca na quarta-feira (26) a Paris, a convite do governo francês, para acompanhar a Cúpula Nutrição para o Crescimento, também com gastos custeados pelos cofres públicos.
Mesmo sem ter sido nomeada para cargo no governo, Janja conta com uma equipe à sua disposição, formada por assessores e seguranças, e possui uma sala no terceiro andar do Palácio do Planalto. No início do governo, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, decidiu que não havia necessidade de criar um cargo para Janja. No entorno de Lula, muitos defendem que ela tenha cargo e tarefas mais definidas. A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, já se posicionou a favor de Janja ocupar um cargo honorífico, sem remuneração. Sem cargo definido, a primeira-dama não costuma divulgar à sociedade as atividades de que participa.