A Alemanha celebra neste sábado, 9 de novembro de 2024, os 35 anos da queda do Muro de Berlim, um marco histórico que simboliza a liberdade e a reunificação do país. No entanto, as comemorações ocorrem em um momento de crise política profunda, decorrente do colapso da coligação governamental do chanceler Olaf Scholz.
A crise política foi desencadeada pela demissão do ministro das Finanças, Christian Lindner, o que levou à retirada da maioria dos ministros liberais e à implosão do governo tripartido formado pelos social-democratas, liberais e ambientalistas. Este cenário político delicado tem dominado as discussões, com a perspectiva de eleições antecipadas no início de 2025.
Apesar da crise, as festividades do fim de semana buscam manter o foco no simbolismo da queda do Muro de Berlim. O lema das celebrações, “Preservar a Liberdade”, assume uma ressonância especial em um momento em que a democracia está em retrocesso globalmente e guerras continuam a ocorrer em regiões como a Ucrânia, Gaza e o Líbano.
O chefe do governo, Olaf Scholz, destacou em um vídeo divulgado nesta sexta-feira que os valores de 1989 “não podem ser considerados garantidos”. “Uma olhada em nossa história e no mundo que nos rodeia demonstra isso”, afirmou Scholz, ressaltando a importância de preservar a liberdade.
Para concretizar estes ideais, réplicas de cartazes das manifestações de 1989 e milhares de outros criados pelos cidadãos atuais sobre o tema da liberdade foram instaladas ao longo dos 4 km do antigo percurso do Muro. A instalação passa pelo edifício do Reichstag, pelo Portão de Brandemburgo e pelo famoso Checkpoint Charlie, principal passagem de fronteira leste-oeste para estrangeiros.
A queda do Muro de Berlim, construído em agosto de 1961 para conter o êxodo de pessoas da República Democrática Alemã (RDA), abriu o caminho para o colapso do comunismo na Europa Oriental e para a reunificação da Alemanha um ano depois. Pelo menos 140 pessoas morreram tentando atravessar o Muro durante sua existência.
O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, fará um discurso no sábado em uma cerimônia no memorial do Muro de Berlim, onde também abordará a atual crise política. A ministra da Cultura alemã, Claudia Roth, descreveu a noite de 9 de novembro de 1989 como “um dos momentos mais felizes da história mundial”.
As eleições realizadas em setembro em três regiões da antiga RDA evidenciaram divisões políticas persistentes entre a Alemanha Oriental e Ocidental. O partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) alcançou resultados historicamente elevados, enquanto um novo grupo de extrema-esquerda também se saiu bem. Ambos os partidos opõem-se ao fornecimento de ajuda militar à Ucrânia contra a invasão russa.
Este fim de semana também marca o aniversário da Kristallnacht, um programa realizado pelos nazistas em 9 e 10 de novembro de 1938, que resultou na morte de pelo menos 90 judeus, na deportação de dezenas de milhares para campos de concentração, e na destruição de 1.400 sinagogas na Alemanha e na Áustria. O governo alemão sublinhou a importância de tirar as lições corretas destes acontecimentos, especialmente em um momento de ressurgimento de atos antissemitas.