Após a breve trégua de 2023, em que os preços dos alimentos tiveram uma queda de 0,52% (algo não visto desde 2017), é esperado que voltem a exercer pressão sobre a inflação. Eventos climáticos, como um El Niño mais forte, juntamente com os efeitos das chuvas no Rio Grande do Sul e a antecipação do La Niña, juntamente com a valorização do dólar, levaram instituições financeiras a reverem suas projeções para este ano.
Esse aumento nos preços dos alimentos é esperado ser superior à inflação geral, que deverá encerrar o ano em torno de 3,96%, de acordo com o Boletim Focus. Assim, produtos como arroz, legumes, verduras e frutas não devem ter reduções significativas no segundo semestre. Até mesmo carnes e leite, que tiveram uma queda nos preços nos últimos 12 meses, podem estar sujeitos a novos aumentos.
Economistas alertam que a perspectiva de alta nos preços dos alimentos representa um risco adicional para o Banco Central. Com a preocupação de controlar a inflação, a autoridade monetária interrompeu o ciclo de redução da taxa Selic devido à escalada do dólar e aos crescentes riscos fiscais.
A economista Alessandra Ribeiro, da Tendências, destaca que o BC pode ajustar sua política monetária se os preços dos alimentos afetarem outros setores da economia. Além disso, a política fiscal expansionista tem influenciado a valorização do dólar, o que, com alguma defasagem, impacta os preços ao consumidor e requer prudência por parte do BC.
Diante desses cenários, a Tendências revisou sua projeção de aumento nos preços dos alimentos em domicílio de 3,5% para 4,5% em 2024, devido aos efeitos do El Niño e da tragédia no Rio Grande do Sul. A oferta de alimentos frescos, como cebola e batata, foi afetada pelo El Niño, enquanto as enchentes no Rio Grande do Sul devem causar aumentos mais persistentes nos preços de arroz, trigo e soja, afetando indiretamente outras cadeias produtivas.