Cid e coronéis usaram salão de festas na Asa Norte para tramar golpe
De acordo com a PF, Mauro Cid e outros oficiais fizeram a reunião para
pressionar os comandantes do Exército a aderirem o golpe de Estado
Há cerca de dois anos, no dia 28 de novembro de 2022, as ruas de Brasília
estavam cheias de pessoas usando a camisa da Seleção Brasileira. A equipe fazia
o seu segundo jogo pela Copa do Mundo, vencendo a Suíça. Mais tarde, no mesmo
dia, militares de alta patente se reuniram no salão de festas de um prédio
residencial na SQN 305, Asa Norte. O
objetivo não era comemorar a vitória no futebol. Eles discutiriam uma tentativa
de golpe para evitar o resultado das eleições presidenciais daquele ano.
De acordo com relatório da Polícia Federal (PF), realizado no âmbito da ação que
investiga tentativa de golpe, militares da ativa resolveram agir para provocar
uma ruptura institucional naquela reunião. O tenente-coronel Mauro Cid e outros
oficiais tinham o objetivo de planejar e executar ações voltadas a pressionar os
comandantes do Exército a aderirem ao ato para manter Jair Bolsonaro (PL) no poder, além de ações para
atingir o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
A REUNIÃO
Dias antes, em 26 de novembro de 2022, o coronel Bernardo Romão Corrêa Netto,
então Assistente do Comandante Militar do Sul, envia uma mensagem para o coronel
Fabrício Bastos Tocão, afirmando que resolveu tomar iniciativa para reunir
militares com treinamento de forças especiais e ocupando funções-chaves para
influenciar os chefes.
Côrrea Netto também faz menção de que Nilton Diniz Rodrigues, que atualmente
possui patente de general, procurava o local ideal para o encontro.
Posteriormente, o atual general confirmou, durante depoimento, o local da
reunião realizada no dia como sendo o salão de festas da casa do pai do coronel
Márcio Resende Júnior.
No dia 28 de novembro de 2022, Corrêa Netto encaminha uma mensagem para Mauro
Cid contendo o endereço e o horário da reunião. Em seguida, o ajudante de ordens
de Bolsonaro envia três mensagens e as apaga, explicando o motivo da exclusão:
“Muitas coisas vazam”. Eles passam a discutir sobre quem deveria estar no
evento.
Mauro Cid pergunta: “O do Estevão vai estar?” e completa: “Ele é o mais
importante”. Netto responde: “Vai”; “Vai sim”. O tenente-coronel faz nova
pergunta: “Quem é?”. O outro responde: “Cleverson”. Segundo a PF, trata-se do
coronel Cleverson Ney Magalhães, que era assistente do general Estevam Cals
Theophilo Gaspar de Oliveira, então comandante do Comando de Operações
Terrestres (Coter).
“Cleverson Ney Magalhães, em termo de declarações, não admitiu qual seria seu
real papel na reunião do dia 28/11/2022. O investigado ao ser indagado se
participou de reuniões entre Forças Especiais do Exército para tratar sobre o
Golpe de Estado, afirmou que “não participou de nenhuma reunião que tratou de
Golpe de Estado” e, ao contrário dos elementos de prova apresentados, a reunião
seria uma mera confraternização”, descreve o relatório.
De acordo com a Polícia Federal, a relevância da participação do coronel
Cleverson se explica pelo fato de que, dentro do planejamento para implementação
do golpe, a aderência do Comando de Operações Terrestres seria imprescindível,
pois é a unidade militar que tem sob sua administração o maior contingente de
tropas do Exército.
O diálogo prossegue e Cid questiona a presença de outros assistentes de generais
da ativa. Corrêa Netto responde e ressalta que somente militares com
especialidade em forças especiais foram chamados para a reunião. Inclusive,
naquele dia, prints de mensagens de outro grupo em que evidencia a atuação de
militares para angariar assinaturas de oficiais contemporâneos da turma de 1997
da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman).
Para a investigação, as trocas de mensagens entre Corrêa Netto e Mauro Cid
evidenciam que além da carta, os investigados já estavam alimentando ataques aos
comandantes que estavam resistindo às investidas golpistas da organização
criminosa.